Alerta da OMS: dengue vai ameaçar Europa do Sul, EUA e África nesta década

As taxas da doença já aumentaram oito vezes a nível mundial desde 2000, em grande parte devido às alterações climáticas, bem como ao aumento da deslocação de pessoas e à urbanização.

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A dengue é transmitida por mosquitos Aedes aegypti infectados Joao P. Burini/GettyImages

A dengue vai tornar-se uma grande ameaça no sul dos Estados Unidos, no sul da Europa e em novas partes de África nesta década, disse o cientista-chefe da OMS, Jeremy Farrar, uma vez que as temperaturas mais quentes criam as condições para que os mosquitos portadores da infecção se espalhem.

A doença é há muito um flagelo em grande parte da Ásia e da América Latina, causando cerca de 20 mil mortes por ano. As taxas da doença já aumentaram oito vezes a nível mundial desde 2000, em grande parte devido às alterações climáticas, bem como ao aumento da deslocação de pessoas e à urbanização.

Muitos casos não são registados, mas em 2022 foram notificados 4,2 milhões de casos em todo o mundo e as autoridades de saúde pública alertaram para o facto de se esperarem níveis de transmissão quase recorde este ano. O Bangladesh está actualmente a viver o seu pior surto de sempre, com mais de mil mortes.

"Precisamos de falar muito mais proactivamente sobre a dengue", disse à Reuters Jeremy Farrar, um especialista em doenças infecciosas que entrou para a Organização Mundial de Saúde em Maio deste ano. "Precisamos realmente de preparar os países para lidar com a pressão adicional que virá... no futuro, em muitas, muitas grandes cidades."

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Doente com dengue estão a ser tratados no Hospital Geral de Mugdha em Daca, Bangladesh. Desde 1 de Janeiro de 2023 até 16 de Setembro de 2023, milhares de pessoas foram afectadas pela dengue. Pelo menos 804 pessoas morreram no pior surto de dengue de sempre no Bangladesh, informaram as autoridades em 16 de Setembro. Mamunur Rashid/NurPhoto/ Getty Images

Farrar passou 18 anos a trabalhar no Vietname em doenças tropicais, incluindo a dengue. Mais tarde, dirigiu a instituição de caridade Wellcome Trust para a saúde global e aconselhou o governo do Reino Unido sobre a sua resposta à covid-19 antes de se juntar à OMS em Maio deste ano.

Farrar afirmou que é provável que a infecção "ganhe força" e se torne endémica em partes dos Estados Unidos, da Europa e de África – todas regiões onde já se verificou uma transmissão local limitada – à medida que o aquecimento global torna novas áreas hospitaleiras para os mosquitos que a propagam. Esta situação irá exercer uma grande pressão sobre os sistemas hospitalares de muitos países, alertou.

"Os cuidados clínicos são muito intensivos e exigem um rácio elevado de enfermeiros por doente", afirmou. "Preocupa-me muito que isto se torne um grande problema na África Subsariana."

A maioria das pessoas que contrai dengue não apresenta sintomas, o que significa que se pensa que as taxas de casos são muito mais elevadas do que os números registados. As que o fazem podem ter febre, espasmos musculares e dores nas articulações tão fortes que são conhecidas como "febre de partir os ossos". Em casos graves – menos de 1% –, pode ser fatal.

Não há tratamento específico para a dengue, embora exista uma vacina disponível. No início desta semana, a OMS recomendou a vacina Qdenga da Takeda Pharmaceuticals para crianças dos 6 aos 16 anos em zonas onde a infecção constitui um problema de saúde pública significativo.

A Qdenga também está aprovada pela entidade reguladora da UE, mas a Takeda retirou o seu pedido de autorização nos Estados Unidos no início deste ano, invocando problemas de recolha de dados. A Takeda afirmou que ainda está em conversações com a U.S. Food and Drug Administration sobre a vacina.

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Um trabalhador da City Corporation pulveriza repelente de dengue numa área hospitalar em Dhaka, Bangladesh Syed Mahamudur Rahman/GettyImages

Preparar novas regiões do mundo para lidar com a dengue significa garantir que quaisquer fundos de saúde pública sejam gastos nas áreas certas, disse Farrar, incluindo a melhor forma de controlar o mosquito.

A dengue é transmitida por mosquitos Aedes aegypti infectados, que se comportam de forma diferente dos mosquitos que transmitem a malária. Por exemplo, picam as pessoas dentro de casa e picam durante todo o dia e não durante a noite. Também se reproduzem em águas muito pouco profundas.

Farrar disse que uma prevenção adequada incluiria planos de triagem para hospitais, bem como inovação científica, juntamente com outros factores-chave, como o planeamento urbano, para evitar áreas de água parada perto ou dentro das casas. "Temos de combinar diferentes sectores que não estão habituados a trabalhar em conjunto", afirmou.

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