MAI diz que acordo de mobilidade na CPLP “não colide” com o regime europeu

A Comissão Europeia iniciou um “procedimento de infracção” contra Portugal devido às novas autorizações de residência para cidadãos da CPLP. Marcelo rejeita qualquer incompatibilidade entre regimes.

Foto
José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna Nuno Ferreira Santos

O ministro da Administração Interna (MAI) defendeu esta segunda-feira que o acordo de mobilidade dentro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) "não colide" com o regime de vistos europeu. A opinião é partilhada pelo chefe de Estado, que rejeita a existência de qualquer "incompatibilidade" entre regimes.

A Comissão Europeia iniciou um "procedimento de infracção" contra Portugal por causa das novas autorizações de residência para cidadãos da Comunidade dos países de Língua Portuguesa (CPLP), lançadas em Março, segundo noticiou o Diário de Notícias no fim-de-semana.

"Naturalmente que as autoridades nacionais já informaram a Comissão [Europeia] e agora manter-se-á um diálogo para mostrar o ponto de vista de Portugal. Do nosso ponto de vista, [o acordo de mobilidade entre países lusófonos] não colide com as normas europeias", defendeu José Luís Carneiro em Matosinhos, no distrito do Porto, à margem da apresentação dos resultados da operação Verão Seguro.

Segundo o ministro, o objectivo de melhorar as condições de mobilidade entre os Estados que compõem a CPLP "é tão antigo" como a própria CPLP, constituída em 17 de Julho de 1996. "Nós temos uma posição que é conhecida desde há muito e a Comissão Europeia também tem sido informada desde o início desta reflexão", disse.

Quanto ao procedimento de infracção aberto contra Portugal pela União Europeia, o MAI referiu que o assunto está a ser acompanhado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e pelo secretário de Estado dos Assuntos Europeus.

Marcelo rejeita incompatibilidade

No domingo, o Presidente da República rejeitou a existência de incompatibilidade entre o regime de vistos europeu e o português. "Portugal tem estado a explicar desde há muitos anos porque é que não há incompatibilidade entre o regime [de vistos] que é adoptado em relação à CPLP e o regime europeu, comunitário. Já explicámos porque é que não há contraposição, não há um choque. Até agora isso foi aceite e acreditamos que vamos fazer valer o nosso ponto de vista", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O chefe de Estado português, que falou aos jornalistas na câmara de Saint-Étienne, França, à margem de um encontro com a comunidade portuguesa, considerou "uma ironia do destino" que "durante tantos anos isso não tenha sido um problema e de repente vir a descobrir-se que há uma ilegalidade que não existia no passado". "Vamos esperar para ver", concluiu.

A Comissão Europeia considerou que Portugal não cumpre as obrigações europeias que "estabelecem um modelo uniforme de título de residência para os nacionais de países terceiros" e que falha no Acordo de Schengen sobre livre circulação.

"O Acordo de Mobilidade da CPLP prevê uma autorização de residência que não está em conformidade com o modelo uniforme estabelecido no Regulamento (CE) n.º 1030/2002. Para além disso, tanto as autorizações de residência como os vistos de longa duração emitidos para fins de procura de emprego a nacionais dos Estados da CPLP não permitem aos seus titulares viajar no espaço Schengen", refere uma informação da Comissão a que a Lusa teve acesso.

Portugal já foi notificado do procedimento de infracção e tem agora dois meses para responder à carta e corrigir as lacunas identificadas pela Comissão.

Desde Março, Portugal tem em funcionamento um novo portal disponibilizado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que possibilita aos imigrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) com processos pendentes até 31 de Dezembro de 2022 obter autorização de residência de forma automática. A autorização de residência em Portugal para os cidadãos da CPLP é atribuída no âmbito do acordo de mobilidade entre os Estados-membros da organização.

Desde então, mais de 154.000 imigrantes lusófonos pediram através do "portal CPLP" uma autorização de residência, tendo já sido emitido o documento a mais de 140.000, segundo o SEF.

Este serviço de segurança indica que os nacionais do Brasil representam 74,5% dos pedidos de autorização de residência CPLP, seguidos dos cidadãos de Angola, com 9,6%, São Tomé e Príncipe, com 6,4%, e Cabo Verde com 4,4%.

Além de Portugal, integram a CPLP Cabo Verde, Brasil, Timor-Leste, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique.

Actualizado às 16h25 com declarações do Presidente da República

Sugerir correcção
Ler 2 comentários