Descida da inflação na zona euro torna pausa nos juros mais provável

A taxa de inflação homóloga na zona euro caiu mais do que o previsto em Setembro, para 4,3%, dando argumentos para que o BCE possa, depois de dez subidas, travar finalmente a escalada dos juros.

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Christine Lagarde, presidente do BCE EPA/RONALD WITTEK
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A taxa de inflação na zona euro surpreendeu em Setembro pela positiva, caindo mais do que aquilo que era esperado e regressando a valores que já não se verificavam há quase dois anos. Aumentam assim as probabilidades de o Banco Central Europeu poder ter já terminado o seu ciclo de subida de taxas de juro para controlar a inflação.

De acordo com a estimativa rápida publicada esta sexta-feira pelo Eurostat, a taxa de inflação homóloga – que corresponde à variação dos preços face ao mesmo mês do ano passado caiu 0,9 pontos percentuais em Setembro, passando dos 5,2% de Agosto para 4,3% em Setembro.

Este é o valor mais baixo desde Outubro de 2021, uma altura em que as pressões inflacionistas já estavam a fazer-se sentir na Europa, mas ainda não da forma intensa que se verificou após o início da guerra na Ucrânia em Fevereiro de 2022.

Nos mercados, a expectativa, medida por inquéritos feitos a analistas antes da divulgação dos dados, já era de mais uma descida da inflação em Setembro, mas de forma mais moderada, para 4,5%.

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O resultado mais favorável aumenta a esperança de que o BCE, que subiu as suas taxas de juro nas últimas dez reuniões que realizou desde Julho do ano passado, possa no encontro agendado para Outubro fazer finalmente uma pausa e, eventualmente, ficar mesmo por aqui no combate à inflação. Na conferência de imprensa que se seguiu à última decisão, Christine Lagarde, a presidente do banco central, disse acreditar que o actual nível de taxas de juro, se mantido durante um período longo de tempo, poderia ser suficiente para trazer a taxa de inflação progressivamente para a meta de 2%. A maior moderação na variação dos preços registada em Setembro parece dar força a essa expectativa.

Para além disso, a taxa de inflação subjacente que exclui os bens alimentares, energéticos e o tabaco e que é seguida com atenção pelos responsáveis do BCE por ser um indicador mais fiável da tendência a prazo dos preços também registou uma descida muito significativa, de 5,3% para 4,5%. A inflação subjacente tem demorado mais tempo a mostrar uma trajectória descendente acentuada, algo que vários membros do conselho do BCE davam como argumento para a necessidade de continuar a subir taxas de juro, mas a descida de 0,8 pontos de Setembro, a maior desde Agosto de 2020, pode ajudar a tranquilizá-los.

Uma dúvida, no entanto, mantém-se: se será ainda possível, mesmo com o BCE a parar agora de subir as taxas de juro, evitar que a economia da zona euro entre em recessão. Os sinais de abrandamento económico tornaram-se ainda mais evidentes nas últimas semanas e, na Alemanha, a maior potência da zona euro, uma segunda entrada em recessão técnica na segunda metade deste ano parece já inevitável.

As taxas de juro altas, que se irão manter a esse nível ainda durante mais tempo, têm um efeito negativo sobre a actividade económica, uma vez que limitam os níveis de consumo das famílias e de investimento das empresas.

Portugal afasta-se da média europeia

É nos países no Leste da Europa que a inflação se mantém neste momento mais elevada, com a Eslováquia, Croácia e Eslovénia a liderarem com taxas de inflação homólogas de 8,9%, 7,3% e 7,1%, respectivamente.

No pólo oposto estão os Países Baixos, com uma inflação já negativa de 0,3%, a Bélgica com uma inflação de 0,7% e a Grécia com 2,4%. A Alemanha, com a economia a retrair-se, mantém ainda assim uma taxa de inflação relativamente elevada, de 4,3%, o mesmo valor que a média europeia.

Portugal, que viu a taxa de inflação homóloga calculada com uma metodologia específica do país baixar de 3,7% para 3,6% em Setembro, registou na taxa de inflação homóloga harmonizada (que usa a mesma metodologia dos outros países europeus) uma descida de 5,3% para 4,8%.

Foi uma descida mais moderada do que a registada no total da zona euro, o que significa que Portugal se afastou mais um pouco em Setembro da média europeia e é agora o oitavo país entre os 20 que têm a moeda única com uma inflação mais alta.

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