O bailinho da Madeira

Alguém imaginava o PSD e o CDS a formarem governo com o PAN? Que dirá o seu eleitorado?

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Os resultados das eleições na Região Autónoma da Madeira veio dar um sinal político ao continente.

Em primeiro lugar, obrigaram Miguel Albuquerque a vir descaradamente desdizer-se, situação evitável se tivesse sido prudente e nunca afirmasse que, se não vencesse com maioria absoluta, se demitia. Conhecidos os resultados das eleições, deu uma cambalhota política semelhante a muitos outros políticos, só que Albuquerque até parecia ser diferente.

A vitória da coligação PSD/CDS é inequívoca, apesar de não ter sido alcançada a maioria absoluta. O PSD coligado com o CDS elegeu menos um deputado do que os dois partidos nas eleições anteriores.

Uma das ilações que o PSD deve tirar é que, neste momento, o CDS é inútil para o PSD e que hostilizar o Chega não parece ser o melhor caminho, a menos que Montenegro esteja preparado para dar uma cambalhota política semelhante a Albuquerque.

O Chega entrou no parlamento regional com quatro deputados, não é coisa pouca. Insistir na hostilização do Chega apenas contribui para acelerar o seu crescimento e quem não percebe isso não conseguirá congregar os votos da direita.

A Iniciativa Liberal conseguiu eleger um deputado e pode ser útil à coligação PSD/CDS para um desejável entendimento de governação. Esta deveria ser a única opção colocada em cima da mesa. Só que não, a sede de governar com maioria absoluta também inclui o cenário de um possível acordo com o PAN, que também elegeu um deputado.

Alguém imaginava o PSD e o CDS a formarem governo com o PAN? Que dirá o seu eleitorado?

Claro que o eleitorado de direita está descontente com essa possibilidade e percebe que da mesma forma que PSD e CDS excluem com grande veemência o Chega acolhem com absoluta naturalidade o PAN.

No CDS, Nuno Melo está agarrado ao casaco de Luís Montenegro que, percebendo que isso não lhe traz mais-valia nenhuma, muito provavelmente optará por ir aos próximos actos eleitorais sozinho, pois uma muleta só auxilia se não estiver partida.

Assim, o CDS terá a sua prova de vida nas próximas eleições europeias. Vamos ver se aqueles que hoje tomam conta do partido não ficam para a história como os verdadeiros coveiros do CDS, depois da inconcebível guerra interna fratricida que fizeram à direcção de Francisco Rodrigues dos Santos. Esperemos que não seja o fim de um partido que faz falta a Portugal e merecia outra gente ao leme para evitar o provável naufrágio.

Por fim, o PS obteve um péssimo resultado, deu pena ver o candidato socialista sozinho na noite de eleições. O secretário-geral do PS, António Costa, não o acompanhou, optando por um distanciamento que não o desresponsabiliza da derrota. Este resultado também é consequência do descontentamento dos madeirenses com o Governo de Portugal.

Concluindo, em política, tudo é possível e assim continuamos o perigoso caminho para a completa descredibilização da própria classe política. Temos mais do mesmo, entre cambalhotas, derrotas não assumidas e vitórias comemoradas sem razão para tal, todos assistimos ao bailinho da Madeira que, muito provavelmente, contagiará o continente.

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