Meloni censura Scholz pelo apoio a organizações de auxílio a migrantes

Primeira-ministra de Itália envia carta ao chanceler alemão manifestando “espanto” com financiamento da Alemanha a ONG que operam no Mediterrâneo.

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Giorgia Meloni, chefe de governo de Itália Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, escreveu ao chanceler alemão, Olaf Scholz, dizendo-lhe que tomou conhecimento, com “espanto”, de uma iniciativa do governo alemão destinada a financiar organizações de auxílio a migrantes que operam no Mediterrâneo.

O Governo liderado por Meloni professa uma linha dura contra a imigração ilegal, mas Itália tem assistido, este ano, ao aumento das chegadas de migrantes. Este ano, até agora, já desembarcaram na costa italiana cerca de 133 mil migrantes, contra cerca de 69.800 no mesmo período em 2022, grande parte na ilha de Lampedusa.

A carta de Meloni data de 23 de Setembro e foi tornada pública depois de o ministro da Defesa, Guido Crosetto, uma figura de topo do partido Irmãos de Itália de Meloni, ter também criticado o Governo alemão por apoiar as instituições de auxílio humanitário, numa entrevista concedida no domingo.

A carta de Meloni a Scholz, vista pela Reuters, diz: “Tomei conhecimento com espanto que a sua administração - sem coordenar com o governo italiano - decidiu alegadamente apoiar com fundos substanciais organizações não-governamentais envolvidas na recepção de migrantes irregulares em território italiano e em resgates no mar Mediterrâneo.”

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão disse na sexta-feira que Berlim estava a implementar um programa parlamentar de apoio financeiro para salvamento marítimo civil e projectos em terra, e que tinha concluído a análise de duas candidaturas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão afirmou que o salvamento de pessoas no mar é um “dever legal, humanitário e moral”.

Na semana passada, Meloni aprovou novas medidas para prolongar o tempo de detenção dos migrantes e aumentar o número de centros de detenção, numa tentativa de os dissuadir de embarcarem em travessias marítimas a partir do Norte de África.

O Governo italiano decidiu que os migrantes terão de pagar uma caução de 5000 euros para evitar a detenção enquanto o seu pedido de protecção estiver a ser processado.

“Acredito que os esforços, incluindo financeiros, dos países da UE interessados em prestar apoio concreto à Itália devem centrar-se na construção de soluções estruturais para o fenómeno da migração”, afirma Meloni na sua carta a Scholz.

A Alemanha, governada por uma coligação de centro-esquerda, deveria concentrar-se na assistência aos migrantes no seu próprio território, refere a carta da chefe de governo de Itália, acrescentando que a presença de barcos de auxílio no mar pode incentivar viagens de migrantes que muitas vezes resultam em naufrágios e vítimas.

As organizações de ajuda humanitária negaram que os seus barcos de salvamento funcionem como um “factor de atracção” para os migrantes tentarem chegar à Europa.

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