Júlio Pereira vai lançar um álbum em Dolby Atmos: “O efeito é deslumbrante”

Já está gravado e em fase de misturas. O próximo álbum de Júlio Pereira sairá em Dolby Atmos, uma tecnologia sonora que tem vindo a conquistar adeptos.

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Júlio Pereira no estúdio HCM, onde está a misturar o novo disco DR
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O multi-instrumentista e compositor Júlio Pereira gravou um novo álbum, sucessor de Praça do Comércio (2017) e está a misturá-lo em Dolby Atmos, tecnologia sonora que tem vindo a ser utilizada no cinema (nas salas ou em casa) e em reedições digitais de temas de artistas como Björk, Coldplay, Kanye West, Elton John, bem como em discos já ligados desde a sua criação a esta tecnologia, como é o caso do álbum Congênito, do brasileiro Ricardo Bacelar, lançado em 2022. Em Portugal será a primeira vez.

“Ao que parece, vou ser o primeiro músico português a misturar um disco em Dolby Atmos”, diz Júlio Pereira ao PÚBLICO. “E estou numa aldeia do Minho a fazer essas misturas. Isto porque vim gravar umas percussões pesadas aqui ao estúdio do Helder Costa (HCM), um fantástico técnico de som que apanhei na estrada em três ou quatro concertos. Como ele já trabalha em Dolby Atmos, começou a mostrar-me as possibilidades deste sistema.” O primeiro exemplo que lhe mostrou foi uma remistura de um tema de Bob Marley e Júlio Pereira deixou-se entusiasmar pela experiência, tal como no passado se entusiasmara com as possibilidades das plataformas digitais postas ao serviço da música. “Depois do 5.1 no surround veio o 7.1 e andou por aí, até a Dolby Systems inventar uma espécie de eixo vertical, acrescentando ao 7.1 [ou seja, sete colunas mais um subwoofer para os graves] mais quatro colunas superiores.”

O Dolby Atmos, diz Júlio Pereira, “encara cada um dos sons como objectos”: “E na área onde ouvimos música, já conseguimos situar cada instrumento, na horizontal e na vertical, como se fosse num GPS. E o efeito, a nível de espacialidade, é deslumbrante. E está a dar-me muito prazer, porque estou a fazer um disco com uma estética sonora que nunca tinha usado e que não só está a ajudar como está a ser uma experiência única.”

Júlio Pereira não quer ainda dar pormenores sobre o conceito nem os temas do disco, mas diz que já está “na recta final, a trabalhar nestes moldes”. Uma coisa é certa, garante: está gravado e em fase de misturas para potenciar o efeito Dolby Atmos.

Do Cavaquinho à Praça

Multi-instrumentista, com discos gravados onde toca cavaquinho, braguinha, viola, viola braguesa, bandolim ou bouzouki, Júlio Pereira é também presidente da Associação Cultural Museu Cavaquinho, que tem por missão “documentar, preservar e promover a história e a prática do cavaquinho”, bem como dos seus “parentes” pelo mundo. Com álbuns a solo como Cavaquinho (1981), Braguesa (1984), Os Sete Instrumentos (1986), Janelas Verdes (1990, Prémio José Afonso) O Meu Bandolim (1992), Rituais (2001), Geografias (2007) ou Graffiti (2010), os mais recentes foram Cavaquinho.pt (2014), integrado no movimento que tem vindo a bater-se pela classificação patrimonial da prática e da construção deste cordofone (aliás com êxito, pois em Outubro de 2022 foi já inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial português) e Praça do Comércio, editado em 2017, disco onde participaram nomes como António Zambujo, Pedro Jóia, Luanda Cozetti, Luís Peixoto e José Manuel Neto, entre outros.

Este último, Praça do Comércio, foi duplamente premiado: no início de 2018 com o Prémio Pedro Osório, da SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) e em Dezembro do mesmo ano com o Prémio José Afonso, instituído em 1988 pela Câmara Municipal da Amadora e atribuído desde então. O júri da SPA classificou o disco como “um excelente exemplo do valor do instrumento [o cavaquinho] e do muito que com ele pode ser feito, havendo agora dezenas de novos executantes e construtores em todo o país”; e o do Prémio José Afonso referiu-se-lhe como “um trabalho que se destaca de entre a vasta produção de Júlio Pereira pela sofisticação e maturidade que demonstra, além de continuar um trabalho de décadas no renascer de instrumentos e tradições ancestrais portuguesas, que urge preservar e actualizar, sob pena de desaparecerem para sempre”.

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