Apenas uma em cada seis populações de peixes forrageiros está em bom estado

Das 32 populações de peixes forrageiros (como sardinha e carapau) analisadas, apenas 16% são exploradas de forma sustentável. Portugal tem de se preocupar com o estado da sardinha, diz ONG.

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A maior parte das populações destes peixes está sujeita a sobrepesca NELSON GARRIDO

Apenas uma em cada seis populações de peixes forrageiros no Atlântico Nordeste, que inclui as zonas de pesca de Portugal, é explorada de forma sustentável e encontra-se num estado saudável, alertou a organização não-governamental (ONG) Oceana nesta segunda-feira.

Segundo um relatório divulgado esta segunda-feira, no âmbito das negociações, em Bruxelas, das possibilidades de pesca para 2024, das 32 populações de peixes forrageiros (de que se alimentam espécies de peixes maiores e outros animais marinhos, incluindo aves e mamíferos) analisadas, apenas 16% (cinco populações) são exploradas "de forma sustentável e se encontra num estado saudável".

As restantes, sustenta a ONG de conservação marinha, "estão sujeitas a sobrepesca, com níveis de abundância preocupantemente baixos, ou o seu estado é desconhecido devido a limitações de dados".

A Oceana apela aos países do Atlântico Nordeste para que melhorem a gestão de espécies forrageiras como a sardinha, o carapau, verdinho, biqueirão e galeota, entre outras, "antes das negociações sobre os limites de pesca a realizar no final deste ano".

A gestão actual dos peixes forrageiros, considera a ONG, não tem em plena conta o papel ecológico dos peixes forrageiros no ecossistema, nomeadamente a sua capacidade de fornecer alimentos suficientes aos predadores marinhos, nem a resposta das unidades populacionais (stocks) e dos ecossistemas às alterações climáticas.

A Oceana recomenda aos decisores que fixem os totais admissíveis de capturas (TAC) para 2024 de forma mais cautelosa, a fim de preservar o seu papel no ecossistema, que tenham em conta as incertezas e limitações dos dados relativos ao estado dos stocks (incluindo as estimativas das populações e a declaração incorrecta das capturas).

A criação de planos de gestão das pescas a longo prazo e baseados nos ecossistemas, fechar acordos entre países sobre uma estratégia partilhada da gestão das espécies e melhorar a recolha de informações sobre a unidades populacionais, bem como a fiabilidade da sua avaliação, estão ainda entre as medidas propostas.

Os TAC para 2024 estão já em negociação, devendo a Comissão Europeia avançar com uma proposta em Novembro, que será fechada pelos ministros das Pescas da UE no conselho de 11 e 12 de Dezembro, para as águas da UE e internacionais, em colaboração com outros países, como a Noruega, o Reino Unido e o Canadá.

Portugal tem de se preocupar com estado da sardinha

Portugal tem de se preocupar com o estado dos peixes forrageiros, uma vez que captura pequenas espécies como o carapau, a sardinha e o biqueirão, alertou, em declarações à Lusa, a vice-presidente adjunta da ONG Oceana, Vera Coelho.

"O estado dos pequenos peixes pelágicos no Atlântico Nordeste deveria ser preocupante para Portugal, já que a nossa frota captura espécies como o carapau, a sardinha e o biqueirão" referiu Vera Coelho, no âmbito do relatório divulgado.

À agência Lusa, a vice-presidente adjunta da ONG de conservação marinha, disse ainda que deve ser assegurado que a pesca destas espécies seja gerida de forma a preservar o futuro tanto das nossas comunidades piscatórias como dos ecossistemas marinhos.

A título de exemplo, indicou que estas espécies que se deslocam em cardume na zona pelágica são fundamentais para ajudar a recuperação de outros peixes, como o bacalhau e o atum, que delas dependem como alimento.

O relatório da Oceana, sublinhou ainda Vera Coelho, destaca "a necessidade urgente de adoptar estratégias de gestão sustentáveis a longo prazo em toda a região [do Atlântico Nordeste], o que requer a cooperação de todos os países costeiros com actividade de pesca sobre estas espécies."

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