Cobertura universal de saúde estagnou, metade do mundo sem serviços essenciais

Conclusões constam de relatório da Organização Mundial de Saúde e do Banco Mundial divulgado neste início de semana.

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A Europa apresenta bons indicadores de saúde e num sistema de cores Portugal está sempre no verde Manuel Roberto
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O progresso na cobertura universal de saúde estagnou no mundo, com mais de metade da população sem estar coberta por serviços essenciais de saúde, indica um relatório da Organização Mundial de Saúde e do Banco Mundial divulgado nesta segunda-feira.

O documento que as duas entidades publicaram em conjunto revela uma "estagnação alarmante" no progresso para fornecer à população mundial cuidados de saúde de qualidade, acessíveis e a preços também acessíveis.

Com 136 páginas, o relatório mostra uma diferença significativa no acesso à saúde entre os países desenvolvidos e os mais pobres. A Europa apresenta quase sempre os melhores indicadores e num sistema de cores Portugal está sempre no verde, seja em áreas como os cuidados pré-natais, a vacinação, o tratamento da tuberculose ou a sida.

Com números mais baixos mas ainda assim a verde em áreas como o planeamento familiar ou o tratamento da hipertensão, Portugal apresenta valores elevados também no número de camas hospitalares ou no combate a doenças infecciosas, entre outros indicadores.

No relatório, "Acompanhamento da cobertura universal de saúde: relatório de monitorização global de 2023" alerta-se que dois mil milhões de pessoas enfrentam graves dificuldades financeiras quando pagam do seu bolso os serviços e produtos de saúde que precisam.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse a propósito do relatório que a dificuldade das pessoas beneficiarem de serviços de saúde coloca em risco não só a sua saúde mas também a estabilidade das comunidades, das sociedades e das economias. E pediu urgência numa vontade política mais forte e em maiores investimentos na área da saúde.

O relatório, apresentado em conferência de imprensa em Nova Iorque, conclui que nas últimas duas décadas menos de um terço dos países melhorou a cobertura dos serviços de saúde e reduziu as despesas.

"Sabemos que alcançar a Cobertura Universal de Saúde é um passo fundamental para ajudar as pessoas a saírem da pobreza e a manterem-se fora dela, mas continua a registar-se um aumento das dificuldades financeiras, especialmente para as pessoas mais pobres e mais vulneráveis", disse Mamta Murthi, vice-presidente para o Desenvolvimento Humano do Banco Mundial (BM).

No relatório, a OMS e o BM reconhecem que a cobertura dos serviços de saúde melhorou desse o início do século. Mas lamentam que os progressos tenham abrandado desde 2015, quando foram adoptados nas Nações Unidas os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e que não tenha havido qualquer melhoria de 2019 a 2021.

Desde o início do século, indica o documento, registaram-se "ganhos significativos" na área das doenças infecciosas, ao contrário do que aconteceu nas doenças não transmissíveis e serviços de saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil.

Depois, segundo o documento, mais de mil milhões de pessoas têm preços incomportáveis pelos serviços de saúde, ainda que para famílias de baixos rendimentos mesmo pequenas despesas sejam "devastadoras". "Cerca de 1,3 mil milhões de pessoas foram empurradas ou ainda mais empurradas para a pobreza devido a esses pagamentos, incluindo 300 milhões de pessoas que já viviam em situação de pobreza extrema", dizem as duas entidades.

OMS e BM salientam que alcançar a Cobertura Universal de Saúde até 2030 é crucial para cumprir a promessa da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e realizar o direito humano fundamental à saúde. Fortes investimentos do sector público na saúde e uma reorientação dos sistemas de saúde para uma abordagem de cuidados de saúde primários são, dizem, fundamentais.

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