Produtores de coca de Yungas iniciam hoje bloqueio das estradas da região
Os produtores de coca de Yungas vão iniciar, às 0h00 locais (05h00 em Lisboa), um bloqueio das estradas nesta região boliviana, situada a 150 quilómetros a norte da capital administrativa, La Paz, respondendo ao apelo do seu sindicato, em protesto contra a erradicação de plantações ilícitas.
Depois de Chaparé (Centro do país), Yungas é a segunda grande região produtora de coca, matéria-prima utilizada na elaboração da cocaína, informa a AFP.O Governo boliviano deve levar a cabo, nas próximas semanas, com a ajuda do Exército, a erradicação de 1700 hectares de plantações de coca, deixando apenas doze mil hectares destinados estritamente ao consumo tradicional. Considerando as folhas de coca como um fortificante e um inibidor da fome, as populações quechua e aymara do Planalto Andino mastigam-nas diariamente, sendo que o seu suco as ajuda a suportar os rigores do clima e da altitude.
Nos últimos três anos, o Governo erradicou a totalidade de plantações de coca de Chaparé, que perfaziam 38 mil hectares.
Os produtores de coca consideram que esta política de "coca zero" os condena à miséria, sem saída e sem preços estáveis para outras culturas, como as da banana, ananás e café.
O bloqueio de estradas foi decidido na segunda-feira passada, em resposta ao falhanço da tentativa de tomar o centro da capital, após uma marcha de 15 dias, que levou os produtores de Chaparé e Yungas a La Paz, com o objectivo de negociar com o Governo.
O sindicato apelou ainda a um bloqueio nacional da rede de estradas a partir de 1 de Maio, Dia do Trabalhador. Por seu lado, o Presidente boliviano, Hugo Banzer, voltou a recusar abrir negociações que visam pôr em causa a política de erradicação.
Segundo estatísticas não oficiais, essa política representou para a economia boliviana, a mais pobre da América do Sul, uma perda na ordem dos 400 milhões de dólares (442,7 milhões de euros/88,7 milhões de contos) nos últimos três anos.
Esta será a segunda vez em seis meses que os produtores e agricultores vão recorrer ao bloqueio de estradas para exprimir o seu descontentamento. Em Setembro e Outubro, os manifestantes isolaram, durante quase um mês, todas as grandes cidades bolivianas. A intervenção das forças da ordem para terminar com o bloqueio fez dez mortos.