Escolhe o detergente pelo perfume? Opção pode afectar a sua saúde, sobretudo das crianças

Estudo analisou libertação de compostos orgânicos voláteis (COV) por produtos de limpeza comuns e chegou a uma recomendação para evitar poluição do ar em casa. Crianças são especialmente vulneráveis.

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Produtos de limpeza libertam perigosos compostos orgânicos voláteis Urbazon/GettyImages
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Escolhe o detergente pelo perfume? Prefere um cheiro a brisa marinha, ou talvez flores? Pois saiba que esse perfume tem custos para a sua saúde. Um estudo publicado nesta quarta-feira por cientistas norte-americanos concluiu que os produtos de limpeza podem libertar centenas de compostos orgânicos voláteis (COV), que têm riscos para a saúde. E se forem perfumados, o risco aumenta.

Há, no entanto, uma boa notícia, explicam os investigadores no artigo publicado na revista científica na revista Chemosphere. Os produtos ditos “verdes” emitem menos COV, em comparação com os convencionais – cerca de metade, em média, diz um comunicado de imprensa do Environmental Working Group (EWG), uma organização que faz investigação científica e defesa de políticas sobre produtos químicos e poluentes, ao qual estão ligados os autores do estudo.

Os produtos verdes que não têm fragrâncias acrescentadas são os que menos COV emitem: menos oito vezes do que os convencionais, e quatro vezes menos do que os produtos verdes com perfume.

Alerta para consumidores

Os produtos de limpeza podem libertar centenas de compostos orgânicos voláteis. Os cientistas detectaram 530 COV diferentes nos 30 produtos que testaram, desde detergentes do tipo multifunções até limpa-vidros ou ambientadores. Entre estes, 193 COV tinham efeitos negativos para a saúde. Sabe-se que têm o potencial de causar danos no sistema respiratório e reprodutivo, impactos no desenvolvimento das crianças e aumentar o risco de cancro.

O padrão manteve-se sempre: os produtos verdes emitiam, em média, quatro químicos classificados como perigosos, enquanto os produtos verdes emitiam 15 COV perigosos e os convencionais 22.

“Este estudo é um alerta para consumidores, investigadores e reguladores para que estejam mais conscientes dos potenciais riscos associados com os inúmeros químicos que contaminam o ar”, disse Alexis Temkin, toxicóloga do EWG e primeira autora do artigo agora publicado, citada num comunicado de imprensa.

“Os nossos resultados mostram uma forma de reduzir a exposição a COV perigosos – seleccionar produtos classificados como verdes, em especial aqueles que para além de verdes, não tenham perfume”, aconselhou Alexis Temkin.

Os COV volatilizam facilmente em contacto com o ar e entram na atmosfera. “Incluem uma grande variedade de substâncias tais como aldeídos, cetonas, e hidrocarbonetos aromáticos monocíclicos como o benzeno, tolueno, etil-benzeno e xilenos (BTEX)”, diz uma nota informativa da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Estão presentes em diversos tipos de materiais sintéticos ou naturais como solventes, tintas, colas, combustíveis, móveis, repelentes, produtos de limpeza, produtos cosméticos, pesticidas, roupas limpas a seco, marcadores permanentes, entre outros.

Crianças vulneráveis

Embora os COV nos produtos de limpeza afectem tanto a qualidade do ar no interior das casas como no exterior, contaminam o ar que respiramos dentro de casa duas a cinco vezes mais do que quando estamos na rua. Há estimativas de que sejam dez vezes mais prejudiciais se respirados dentro de um edifício do que no exterior, diz o comunicado de imprensa sobre o estudo. E alguns produtos emitem COV durante dias, semanas ou até meses.

Os efeitos negativos na saúde variam com o tipo de composto. Mas podem ir desde “a incomodidade ou irritação e dificuldades respiratórias até efeitos mutagénicos e carcinogénicos”, diz a APA no seu site.

investigação que mostra que as pessoas que trabalham na indústria da limpeza têm um risco 50% superior de ter asma, e um risco 43% superior de vir a sofrer de doença pulmonar obstrutiva crónica. Outros estudos mostram que as crianças são vulneráveis a estes compostos: a elevada utilização de alguns produtos de limpeza pode afectar os bebés ainda no útero da mãe, ou na primeira infância, aumentando os riscos de asma e de ter pieira.

Os COV contribuem ainda para a poluição atmosférica: “São precursores das reacções fotoquímicas de formação de ozono troposférico”, diz a APA. Este é o ozono ao nível do solo, formado quando gases como os óxidos de azoto e compostos orgânicos voláteis, seus precursores, reagem com o oxigénio na presença de luz solar.

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