Morreu Domenico De Masi, sociólogo que nos mostrou o “ócio criativo”

O italiano defendia que o tempo livre é essencial para estimular a liberdade e a criatividade dos indivíduos numa sociedade globalizada e pós-industrial. Tinha 85 anos.

Foto
Domenico De Masi DR
Ouça este artigo
00:00
02:08

O sociólogo italiano Domenico De Masi morreu aos 85 anos, em Roma, noticiou este sábado a imprensa italiana. Professor emérito de Sociologia do Trabalho na Universidade Sapienza de Roma, cidade onde nasceu em 1938, De Masi é sobretudo conhecido por ter cunhado o conceito de “ócio criativo”, que dá título a um dos seus livros mais bem-sucedidos, editado inicialmente em 1995.

Segundo o conceito estabelecido pelo sociólogo italiano (que pode ser visto como uma abordagem teórica e historicista a ideias já lançadas em obras como A Apologia do Ócio, livro de 1877 de Robert Louis Stevenson), o “ócio criativo” resulta da intersecção de três elementos: o trabalho, ou seja, “as funções necessárias para cumprir uma tarefa”; o estudo, ou a possibilidade de se obter conhecimento através de ferramentas digitais como a internet; e o jogo, isto é, o lazer e a vertente lúdica que “evitam a mecanização do trabalho".

Domenico De Masi defendia que o tempo livre é essencial para estimular a liberdade e a criatividade dos indivíduos numa sociedade globalizada e pós-industrial, possibilitando também uma maior produtividade no trabalho. Criticava o culto ao trabalho fomentado pelo capitalismo, sugerindo um equilíbrio mais saudável entre tempo livre e horários laborais, bem como uma distribuição mais justa e consciente da riqueza, do poder, do trabalho e do conhecimento. Em vez de as pessoas justificarem a sua existência e o seu status social com base no trabalho, era apologista de que se olhasse às “necessidades básicas” da interacção humana: amizade, convívio, introspecção, amor, actividades lúdicas.

Segundo o jornal italiano La Repubblica, Domenico De Masi serviu como inspiração para o programa do partido Movimento 5 Estrelas, na sua roupagem inicial, comandado por Beppe Grillo, incluindo a defesa de um "rendimento de cidadania".

Desenvolvimento Sem Trabalho, A Emoção e A Regra e O Futuro do Trabalho são outras obras da autoria do italiano. Em 2010, tornou-se cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, país que editou vários dos seus livros. Era amigo de Lula da Silva, com quem se encontrou em Junho para discutir o cenário político do Brasil e de Itália.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários