Santana Lopes e o ajuste de contas com o passado

Caso seja Presidente da República, ao mínimo descuido dos socialistas, entrará em órbita para lhes tirar o tapete, tal como Jorge Sampaio fez consigo.

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Apesar de estarem marcadas para 2026, o debate político de hoje parece estar centrado nas próximas presidenciais. Surgem por aí intenções mais ou menos claras de candidatos que podem estar disponíveis e com vontade de avançar para o mais alto cargo da nação.

De Marques Mendes a Santana Lopes, passando por Augusto Santos Silva e ainda por José Manuel Durão Barroso, o ex-presidente do partido Aliança, que saiu do seu sempre "PPD/PSD", parece continuar a ser um putativo candidato à Presidência da República. Digo continuar, porque já o era em outras décadas. Agora voltou a deixar transparecer essa vontade.

É sabido que Santana Lopes já foi quase tudo. Por curiosidade, nunca foi ministro de nada.

Conseguiu o feito de ser primeiro-ministro sem ir a eleições e esse talvez tenha sido um dos seus maiores erros políticos. Santana Lopes relembra de forma sistemática – quando há crises políticas entre São Bento e Belém –, quase como se de um trauma se tratasse, a forma como o então Presidente Jorge Sampaio o fez de cair do Governo que lhe fora parar às mãos.

Hoje, o actual presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, que fará 70 anos nas próximas eleições presidenciais, parece querer ajustar contas com o seu passado. Há um lugar que ele ainda não ocupou, o de Presidente da República.

Santana, crítico da postura de Marques Mendes no comentário televisivo de domingo, por este enviar saudações a toda a gente, incluindo aos vencedores do “torneio da petanca numa terra mais recôndita”, alega que esta receita dominical é mais do mesmo.

Aquele que saiu do seu partido de sempre, o enfant terrible do PSD já não é enfant e, já de cabelos brancos, quer continuar a ser tudo, ainda lhe falta ser o que ainda não foi.

Santana Lopes sabe do país. Pode não saber como liderar um partido político e a Aliança, que mais não foi do que uma birra política, é talvez o seu segundo maior falhanço.

Muitos anunciavam a sua morte política. Mas ele, que anda sempre por aí, ressuscitou tantas vezes como aquelas em que morreu. Talvez por isso, Santana Lopes seja adepto da frase de Winston Churchill, que afirmou que “a política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes”.

Mas por que razão, aos 70 anos, quererá Santana Lopes ser o que ainda não foi?

Meramente para preencher um vazio político pessoal. Santana é homem de obra, de capacete na cabeça e fazer coisas, de acção no terreno tal como deve ser um verdadeiro autarca. Um Presidente da República não é um executivo como ele gosta de ser e fazer transparecer. Santana é homem para mandar.

Não sendo a idade critério algum, relembrando que Marcelo já vai nos 74 e no segundo mandato presidencial, o ex-PPD/PSD, quer preparar o seu caminho para um fim político glorioso.

O PS prepara-se todos os dias para perder eleições, mas poder-se-á dar o caso de as ganhar sem maioria também em 2026, já que as próximas eleições legislativas estão marcadas para Outubro do mesmo ano das eleições presidenciais.

Caso Santana seja o nosso Presidente da República, ao mínimo descuido dos socialistas, entrará em órbita para lhes preparar o caminho e tirar o tapete assim que possível, tal como Jorge Sampaio fez consigo.

O autarca da Figueira da Foz gosta de ir a todas, está-lhe no sangue, não sabe parar na política e quer pôr tudo a mexer. Causador de polémicas, não tenhamos dúvidas: com Santana na presidência, caso os socialistas sejam Governo, rapidamente deixam de o ser.

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