Equador terá segunda volta entre uma correísta e um filho de milionário

Luisa González tenta fazer regressar a esquerda ao poder, enquanto Daniel Noboa deverá somar apoios à direita. Eleições decorreram com tranquilidade, embora rodeadas de fortes medidas de segurança.

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Luisa González foi a candidata mais votada na primeira volta das presidenciais equatorianas KAREN TORO/Reuters
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Daniel Noboa, no centro sentado, vai tentar desafiar o favoritismo do correísmo Reuters/STRINGER
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A segunda volta das eleições presidenciais no Equador será disputada por Luisa González, a candidata apadrinhada pelo ex-Presidente Rafael Correa, e por Daniel Noboa, filho de um dos homens mais ricos do país e que tentou por diversas vezes chegar à presidência.

A política equatoriana mantém-se refém do embate entre o correísmo e a oposição de direita, tal como aconteceu nas últimas eleições, em 2021. González, de 45 anos, foi a mais votada, com 33% dos votos, seguida de Noboa, de 35, com 24%, um resultado inesperado tendo em conta as sondagens que não lhe atribuíam qualquer favoritismo.

As eleições presidenciais antecipadas ficaram marcadas pela onda de violência política que se viveu nas últimas semanas. O rosto de Fernando Villavicencio, o candidato à presidência que se tinha pronunciado contra a corrupção e foi assassinado no início do mês, manteve-se nos boletins de voto. O seu substituto, o jornalista Christian Zurita, alcançou o terceiro lugar na primeira volta.

Sem que nenhum dos candidatos tenha conseguido mais de 50% dos votos – ou mais de 40% com dez pontos de distância em relação ao segundo –, os equatorianos vão voltar a ser chamados às urnas a 15 de Outubro para escolher entre González e Noboa.

Luisa González, que ambiciona ser a primeira mulher a chegar à presidência do Equador, era até há poucos meses uma política pouco conhecida, apesar de ter desempenhado vários cargos na administração pública durante os governos de Correa. Porém, ao receber o apoio explícito do ex-Presidente e de ter contado com todo o aparelho da coligação Revolução Cidadã, que congrega todas as alas políticas do correísmo, González tornou-se de imediato a favorita.

Apesar de estar fora da presidência desde 2017, e ausente do país onde enfrenta uma condenação por corrupção, Correa continua a granjear uma enorme popularidade no Equador, fruto da memória das suas políticas sociais que beneficiaram as camadas mais pobres da população.

Ao contrário do que aconteceu em 2021, quando o banqueiro Guillermo Lasso derrotou o candidato correísta, Andrés Arauz, o movimento de esquerda parece estar num ciclo ascendente. A Revolução Cidadã foi a coligação mais votada nas legislativas de domingo e vai voltar a contar com a maior bancada na Assembleia Nacional. Também já tinha tido vitórias nas eleições locais de Fevereiro.

Ainda assim, González poderá ter de enfrentar uma oposição muito alargada que deverá concentrar os seus esforços no apoio a Noboa. Filho de Álvaro Noboa, um magnata que foi candidato presidencial em cinco ocasiões, o deputado irá agora tentar derrotar o correísmo.

A boa prestação durante o debate presidencial televisivo parece ter determinado um ponto de viragem na campanha de Noboa. Logo após serem conhecidos os resultados que indicavam a sua passagem à segunda volta, alguns dos outros candidatos começaram a manifestar apoio à sua candidatura, repetindo o que sucedeu com Lasso, em 2021.

No entanto, Noboa tem rejeitado publicamente o rótulo de anticorreísta, dizendo até considerar estar mais próximo da esquerda moderada.

O dia das eleições decorreu entre fortes medidas de segurança, mas não foram relatados quaisquer incidentes significativos. Zurita, por exemplo, apareceu rodeado de vários militares e votou vestido com um colete à prova de balas.

Quem vier a vencer as eleições de 15 de Outubro deverá governar apenas o resto do mandato presidencial, correspondente a um ano e meio. As eleições foram convocadas por Lasso em Maio, que anunciou de forma inesperada o recurso à chamada “morte cruzada”, um dispositivo constitucional que permite ao Presidente dissolver a Assembleia e apresentar a sua demissão em simultâneo. Na altura, Lasso, que era alvo de um novo processo de impeachment, fê-lo alegando que o país se encontrava numa situação de ingovernabilidade.

Para além das presidenciais e legislativas, os equatorianos também votaram no domingo em dois referendos sobre a exploração petrolífera e mineira em duas áreas protegidas. Nos dois casos, a maioria dos eleitores opôs-se aos projectos de exploração de recursos naturais.

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