Como reduzir as emissões de carbono na construção

Em muitos países da Europa, a utilização de agregados reciclados, com 70% de betão, provenientes de edifícios já construídos, é prática comum.

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Segundo a IStructE (The Institution of Structural Engineers), uma associação profissional internacional baseada no Reino Unido, a indústria da construção é responsável por cerca de 40% das emissões anuais de dióxido de carbono (CO2) no mundo. Reduzir esta pesada fatura ambiental implica mudar os métodos tradicionais de construção para soluções que reduzam o impacto no clima.

A pergunta essencial a fazer é esta: há materiais alternativos que permitam diminuir as emissões de dióxido de carbono?

O Comité Económico e Social Europeu (CESE) emitiu um parecer em maio passado no qual defende que “os materiais de construção de base biológica (madeira) são uma alavanca importante para a transição climática" e sugere que o setor público dê o exemplo, aumentando a utilização deste material nos edifícios públicos.

Mas não basta escolher um material sustentável, como a madeira, para o projeto ganhar em sustentabilidade. Se a madeira for transportada de uma geografia distante, o ganho de emissões de CO2 é muitas vezes negativo quando comparado com os métodos de construção habituais. O cálculo da pegada ecológica e a comparação entre diferentes variantes de projeto já são feitos nalguns países da Europa. São avaliados os tipos de materiais de construção, a sua proveniência e os transportes necessários… Porque não fazer o mesmo em Portugal?

Porém, não devemos esquecer que a madeira é um material que, embora renovável, é finito. A importância das florestas para a vida humana à escala mundial é inegável e o aumento da desflorestação para um aumento da utilização de madeira na construção não pode ser negligenciado. Uma construção sustentável exige um equilíbrio entre reflorestação e abate de árvores.

Em Portugal, tal como no resto do mundo, o betão armado é o material mais utilizado na construção. O betão é formado por cimento, granulados (pedras grosseiras a finas) e água. Este tipo de construção representa 80% do parque habitacional português. A construção sustentável pode passar pela utilização de matérias existentes, mas com técnicas inovadoras. Se um edifício existente é demolido para dar lugar a uma nova construção, porque não reciclar? Em muitos países da Europa, a utilização de agregados reciclados, com 70% de betão, provenientes de edifícios já construídos, é prática comum. Desta maneira, não só os resíduos das obras são reduzidos como se reduz o transporte dos desperdícios a retirar desperdícios e do betão novo a trazer.

É dever de todos reclamar uma construção sustentável e o Estado pode estimular a mudança, discriminando positivamente a construção neutra em emissões de carbono, que permita atingir o objetivo de emissões zero em 2050.

A mudança na indústria da construção já está a acontecer. Só é preciso acelerar o passo.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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