Dois anos depois da tomada de Cabul, afegãos vivem “pesadelo humanitário”

Além de uma crise económica profunda, o Afeganistão tornou-se num dos piores países para as mulheres, impedidas de estudar ou trabalhar.

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Os taliban organizaram desfiles em Cabul para comemorar segundo aniversário da tomada da capital Reuters/ALI KHARA
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Os taliban assinalaram o segundo aniversário da tomada do poder no Afeganistão, congratulando-se pela vitória. No entanto, o regresso do grupo radical islamista ao poder representou um enorme recuo para os direitos de grande parte da população, sobretudo as mulheres.

Foi a 15 de Agosto de 2021 que os taliban entraram de forma triunfal em Cabul, perante a retirada apressada das forças de segurança leais ao governo apoiado pelas potências ocidentais. Em poucas semanas, o grupo islamista conseguiu recuperar o poder perdido duas décadas antes com a invasão dos EUA e dos seus aliados.

Nos últimos dois anos, os novos líderes do Afeganistão voltaram a pôr em prática a sua interpretação radical dos ensinamentos do Corão e aplicando a sharia. Isso significou, por exemplo, a proibição a quase todas as mulheres de frequentar instituições de ensino ou sequer de trabalhar fora de casa.

Passaram-se “dois anos que viraram as vidas de mulheres e raparigas, os seus direitos e os seus futuros de pernas para o ar”, lamentou a vice-secretária-geral das Nações Unidas, Amina Mohammed.

As medidas ultraconservadoras geraram ampla condenação internacional, impedindo que a maioria dos governos mundiais estabelecesse relações oficiais com o novo regime no poder no Afeganistão.

Com uma economia dependente em cerca de 80% das doações de aliados internacionais, o Afeganistão afundou-se numa profunda crise económica, agravada com os efeitos de uma seca de longa duração. Algumas estimativas apontam para que mais de 28 milhões de pessoas necessitem de ajuda humanitária urgente, o que equivale a dois terços da população total. Calcula-se que quatro milhões de afegãos sofram de privação profunda de alimentação, incluindo 3,2 milhões de crianças com menos de cinco anos.

“As pessoas no Afeganistão estão a viver um pesadelo humanitário sob o domínio taliban”, afirmou a investigadora da Human Rights Watch, Fereshta Abbasi. “A liderança taliban precisa urgentemente de abandonar as suas regras e políticas abusivas, e a comunidade internacional tem de a responsabilizar pelas crises actuais”, acrescentou.

O regime declarou esta terça-feira como feriado e foram organizados desfiles informais na capital afegã, segundo a Reuters. “No segundo aniversário da tomada de Cabul, gostaríamos de saudar a nação mujahid [combatente sagrado] do Afeganistão e pedir um agradecimento ao todo-poderoso Alá por esta grande vitória”, afirmou o porta-voz dos taliban, Zabihullah Mujahid.

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