Detido responsável de agência militar alemã suspeito de espiar para a Rússia

Funcionário de organismo militar responsável pelas compras detido em Koblenz. Ministra do Interior diz que ameaça “ganhou uma nova dimensão” após a guerra da Rússia na Ucrânia.

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O detido trabalhava para o Departamento de Equipamento das Forças Armadas da Alemanha RONALD WITTEK/Reuters
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As autoridades alemãs detiveram, na quarta-feira, um funcionário de um departamento responsável por compras militares das Forças Armadas do país, suspeito de espiar para a Rússia. Esta quinta-feira, a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, declarou que “a guerra ofensiva da Rússia na Ucrânia mudou também a situação de segurança na Alemanha” – “a ameaça através de espionagem, campanhas de desinformação ou ciberataques ganharam uma nova dimensão”, disse a responsável aos jornais do grupo de media Funke.

O detido foi identificado como Thomas H., de acordo com as regras alemãs de protecção da privacidade de pessoas detidas ou acusadas mas não condenadas, e suspeita-se que se tenha oferecido para passar informação à Rússia, tendo visitado por sua iniciativa várias vezes o consulado russo em Bona e a embaixada em Berlim, segundo vários media alemães.

Suspeita-se que a sua motivação poderá ter sido sentir-se desvalorizado dentro da organização.

Em 2021, o departamento de Equipamento, Tecnologias de Informação e Apoio ao Serviço, com sede em Koblenz, onde trabalham 12 mil pessoas, entre elas 1800 militares, negociou acordos de compras para armas e equipamento para as Forças Armadas alemãs no valor total de 17,6 mil milhões de euros, segundo a agência Reuters.

A Alemanha é um dos maiores fornecedores de material militar à Ucrânia, e este fornecimento está ainda no centro de outro caso: um assessor de um deputado da Alternativa para a Alemanha (AfD) é suspeito de servir como intermediário entre o partido nacionalista, xenófobo e pró-Putin e o Kremlin, segundo uma investigação da revista alemã Der Spiegel e do site de jornalismo de investigação russo The Insider.

Vladimir Sergienko, assessor do deputado Eugen Schmidt, terá discutido com um agente russo um processo judicial contra o Governo alemão pelo envio de armas à Ucrânia. Quatro meses depois dessa conversa, o grupo parlamentar da AfD apresentou uma queixa contra o executivo da Alemanha no Tribunal Constitucional, argumentando que o envio de armas à Ucrânia não poderia ter sido feito sem aprovação parlamentar.

O facto de Sergienko, que é ainda descrito pela Spiegel como “propagandista do Kremlin”, com participações em canais russos, ter acesso sem restrições ao edifício do Bundestag (Parlamento) em Berlim provocou ainda nervosismo em pessoas do aparelho de segurança, diz a revista.

Em Dezembro, as autoridades da Alemanha detiveram ainda um responsável dos serviços de espionagem (BND) por suspeitas de que estava a passar segredos de Estado à Rússia. As autoridades foram alertadas pelos serviços secretos de outro país (não se sabe qual), e o caso levou a uma reavaliação de informação partilhada com a Alemanha, segundo o diário norte-americano The Washington Post.

E em Janeiro houve ainda a detenção de outro homem, Arthur E., em Munique, depois de ter sido interrogado pelo FBI ter encontrado informação que levou à suspeita de que poderia ter ligações com Carsten L. nas actividades de espionagem.

Estes casos, diz o Washington Post num artigo sobre as actividades de espionagem da Rússia na Europa, “são como ataques de precisão contra agentes russos ainda na Europa depois das expulsões em massa de mais de 400 suspeitos de serem agentes russos de embaixadas pelo continente no ano passado”.

Em Junho, o Gabinete para a Protecção da Constituição (BfV na sigla em alemão, o serviço de informação interna) alertou, no seu relatório anual, para as actividades russas no país: “No futuro, é de esperar operações [de espionagem] mais clandestinas e agressivas com origem na Rússia”, lia-se no relatório, citado pela emissora alemã DW (Deutsche Welle).

O relatório dizia ainda que os serviços de espionagem da Rússia estavam a tentar levar novas pessoas para a Alemanha.

No artigo do Washington Post, é notado que novos agentes enfrentariam mais dificuldades já que não teriam protecção diplomática. Foram ainda descritas tentativas de Moscovo deslocar agentes expulsos de um país europeu para outro (como os países estão a partilhar mais informação na sequência da guerra na Ucrânia, não há informação de alguma ter tido sucesso).

Para compensar as dificuldades com presença física de agentes, disse Antti Pelttari, director da espionagem externa da Finlândia ao Post, a Rússia tem tentado aumentar as operações de ciberespionagem.

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