Montepio volta aos prejuízos, penalizado pela venda do Finibanco

A venda do Finibanco Angola teve um impacto negativo de 116 milhões de euros, empurrando o Banco Montepio para prejuízos no primeiro semestre deste ano. Sem esta operação, o banco teria lucros.

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Sem a venda do Finibanco, o Montepio teria alcançado lucros no primeiro semestre de 2023 Nuno Alexandre
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O Banco Montepio reportou prejuízos de 48,3 milhões de euros no primeiro semestre de 2023, um agravamento em relação a igual período do ano passado, quando tinha registado lucros superiores a 23 milhões de euros. O resultado é explicado pela venda do Finibanco Angola, uma operação que representou um impacto negativo de 116 milhões de euros. Sem esta venda, o banco teria alcançado lucros de 67,8 milhões no primeiro semestre deste ano.

Os resultados foram anunciados pela instituição, nesta segunda-feira, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). “O Banco Montepio registou, no primeiro semestre de 2023, o resultado líquido consolidado recorrente de 67,3 milhões de euros, o que representa um aumento de 44,5 milhões de euros face aos 23,3 milhões registados no período homólogo de 2022”, começa por referir o banco no comunicado divulgado na manhã desta segunda-feira.

Contudo, a venda do banco angolano, considerada um evento “não-recorrente” neste exercício financeiro, penalizou as contas e levou a um resultado consolidado negativo. “A desconsolidação da totalidade da participação [no Finibanco Angola] implica o registo contabilístico de um efeito não-recorrente desfavorável resultante da reciclagem da reserva cambial negativa no valor de 116,1 milhões de euros, mas sem qualquer impacto ou alteração nos capitais próprios do grupo Banco Montepio, e que determinou o apuramento de um resultado líquido consolidado negativo de 48,3 milhões de euros”, detalha a instituição.

Apesar deste impacto negativo, o Montepio conseguiu melhorar a maioria dos indicadores operacionais, com a margem financeira e as receitas obtidas por via das comissões bancárias a impulsionarem os resultados.

No período em análise, a margem financeira do banco totalizou 194,3 milhões de euros, um aumento superior a 76%, que resulta da subida das taxas de juro praticadas no crédito a clientes, bem como do aumento dos juros das aplicações efectuadas em títulos. Estes efeitos “permitiram anular os crescimentos” dos juros oferecidos nos depósitos a prazo, justifica o banco.

Por outro lado, as receitas obtidas com as comissões cresceram 12,7% e ascenderam a um valor líquido de 65,3 milhões de euros no primeiro semestre. Este aumento é explicado pelos “maiores proveitos com a manutenção e gestão de contas e com comissões de mercado”, explica o Montepio.

Em sentido contrário, os resultados com operações financeiras fixaram-se num valor negativo de 15,5 milhões de euros, um montante justificado pelos “menores resultados de reavaliação cambial em 41,4 milhões de euros”.

Também os custos operacionais registaram um agravamento, ao aumentarem em cerca de 5%, para 126,8 milhões de euros. Esta subida é explicada pelas “actualizações salariais” dentro do banco e pela “contratação de serviços no apoio aos sistemas de informação”.

Tudo somado, o produto bancário ascendeu a 229,6 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, valor que representa um crescimento de 38,5% em relação a igual período do ano passado.

Estas melhorias do lado operacional foram alcançadas apesar das quebras registadas no que diz respeito à actividade comercial. No final de Junho de 2023, a carteira de crédito a clientes (em termos brutos) totalizava 11.875 milhões de euros, uma queda de 4% face a igual período do ano passado que fica a dever-se, sobretudo, às vendas de carteiras de crédito malparado. Entre Dezembro de 2022 e Junho de 2023, dá conta o banco, o crédito considerado “não-produtivo” reduziu-se em 399 milhões de euros, fixando-se em 531 milhões de euros.

Com essa redução, o rácio de NPE (do inglês non performing exposures, ou exposições não-produtivas, indicador utilizado para medir o crédito malparado) caiu para 4,5% no final de Junho deste ano, menos três pontos percentuais do que um ano antes.

Ao mesmo tempo, os recursos totais de clientes (onde se incluem os depósitos) reduziram-se em 0,5% no período em análise, fixando-se em 12.867 milhões de euros no final de Junho.

Já no que diz respeito à solidez do banco, o rácio common equity tier 1 aumentou em 1,4 pontos percentuais em relação ao ano passado e fixou-se em 14,5% no final do primeiro semestre de 2023.

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