Incêndios: metade da área ardida em 2023 é dos primeiros dias de Agosto

O rastilho dos incêndios em Portugal acendeu em Agosto. Nos primeiros seis dias do mês, a área ardida no país é de quase nove mil hectares, cerca de metade do total de 19.124 desde o início do ano.

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O incêndio em Odemira é o que continua a preocupar mais as autoridades EPA/LUIS FORRA
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Os dados provisórios recolhidos pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) mostram que, desde o início do ano até esta segunda-feira, Portugal soma 19.124 hectares de área ardida em espaços rurais, porém quase metade (8579 hectares) diz respeito apenas aos primeiros dias de Agosto. A informação publicada pelo sistema europeu de vigilância Copérnico confirma estes dados referindo um total de 8337 hectares entre 1 e 6 de Agosto. Nestas contas não estão ainda os fogos desta segunda-feira que ocorreram em várias partes do país, sendo a situação de Odemira a mais preocupante no final da tarde desta segunda-feira.

A base de dados nacional de incêndios rurais regista, no período compreendido entre 1 de Janeiro e 31 de Julho de 2023, um total de 5170 incêndios rurais que resultaram em 10.545 hectares de área ardida, entre povoamentos (3639 ha), matos (6308 ha) e agricultura (598 ha), refere o relatório publicado no site do ICNF. O documento frisa mesmo que, "comparando os valores do ano de 2023 com o historial dos 10 anos anteriores, se registaram menos 27% de incêndios rurais e menos 70% de área ardida relativamente à média anual do período".

"O ano de 2023 apresenta, até ao dia 31 de Julho, o terceiro valor mais reduzido em número de incêndios e o quarto valor mais reduzido de área ardida, desde 2013." No entanto, o mês de Agosto pode ter um impacto negativo nestas estatísticas e baralhar estas contas.

Os dados mais actuais (mas ainda provisórios) do ICNF já contabilizam 19.124 hectares de área ardida desde o início do ano até esta segunda-feira. São mais de cerca de nove mil hectares que ficam associados apenas aos primeiros dias deste mês. O ICNF detalha ainda que o total de área consumida desde o início do ano diz respeito 5662 ocorrências, 51% em áreas de povoamentos florestais, 42% de matos e 7% em agricultura.

As contas do programa europeu Copérnico confirmam estes valores. Ficam um pouco abaixo destes nove mil, mas também não incluem dados desta segunda-feira, assinalando que o país tinha, entre o dia 1 e 6 de Agosto, 8337 hectares consumidos por fogos. O último dia de registo do Copérnico, neste domingo que passou, fica marcado pela referência a um impressionante total de 7774 hectares consumidos na Beira Baixa.

Alerta? Para já, não

Agosto parece ter acendido o rastilho dos incêndios, e o calor destes dias não vai ajudar a controlar a situação. Ainda assim, o ministro da Administração Interna disse nesta segunda-feira que, "para já", não vai ser declarada a situação de alerta devido aos incêndios rurais, tendo em conta a resposta do dispositivo ao combate e as condições meteorológicas.

"Quer pela resposta do dispositivo, quer pelo número de incêndios, quer pela alteração que parece ser positiva do movimento dos ventos e também porque tem havido, de ontem [domingo] para hoje, uma relativa reposição da humidade nocturna, para já não vai ser determinada a situação de alerta", afirmou aos jornalistas José Luís Carneiro.

De acordo com as informações do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), desde sábado que se assiste a uma subida generalizada dos valores de temperatura máxima, "salientando-se alguns locais das regiões centro e sul, com valores observados superiores a 40 graus Celsius".

Após a subida de temperaturas nesta segunda-feira, sobretudo na região norte e centro, o IPMA prevê, a partir de terça-feira, uma rotação do vento para o quadrante sul, e, por conseguinte, uma descida gradual dos valores de temperatura, que deverá ocorrer, inicialmente, na região sul, estendendo-se ao restante território na quarta e quinta-feira.

Na manhã desta segunda-feira, cerca de mil bombeiros combatiam os três incêndios em curso que mais preocupações levantam às autoridades — em Odemira (o que mais recursos mobilizou), Ourém e Mangualde, segundo a Protecção Civil. Este último deflagrou durante a madrugada numa zona agrícola em Terra do Pedro (Reguengo de Monsaraz) e reúne 63 bombeiros apoiados por 19 viaturas.

Em Odemira, por volta das 17h, as chamas estavam a ser combatidas por 792 bombeiros apoiados por 253 viaturas e quatro aeronaves, de acordo com as actualizações mais recentes da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil.

O fogo continuava a ser considerado "em curso", sem que a sua propagação tivesse sido travada. Há duas frentes activas e "as coisas estão complicadas”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Odemira, Hélder Guerreiro.

O autarca referiu que "os meios terrestres estão posicionados e a fazer o combate às chamas", mas mostrou-se preocupado com a extensão da frente, que “é muito grande”, e com a existência de um conjunto maior de casas nesta zona, que cria mais dificuldades aos bombeiros. “Nesta zona existem sempre casas em risco, no entanto os bombeiros estão a dar um bom combate e uma boa protecção às casas”, afirmou.

Hélder Guerreiro referiu ainda que o incêndio já obrigou a evacuar várias localidades no concelho de Odemira, como São Miguel, Vale dos Alhos, Vale de Água, Choça dos Vales e Relva Grande, e mais uma unidade de turismo rural, num total de mais de cem pessoas retiradas.

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