Aos 17 anos, Filipa Pipiras é a melhor jogadora portuguesa de xadrez

Filipa Pipiras ocupa a 11.ª posição absoluta em Portugal. Sem expectativas de conseguir uma carreira profissional, a xadrezista tenta conciliar a vida académica com a paixão pelo jogo.

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Filipa Pipiras nas olimpíadas de xadrez em Chennai DR
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Filipa Pipiras tinha nove anos quando participou no primeiro torneio de xadrez. Agora, aos 17, tornou-se a jogadora portuguesa mais bem colocada a nível internacional. Em Julho, alcançou um rating de 2477 no torneio de xadrez de Sparkassen, em Dortmund a melhor performance já alcançada por uma jogadora portuguesa a nível internacional.​

A Federação Internacional de Xadrez anunciou ontem que Filipa Pipiras ocupa a 11.ª posição absoluta em Portugal (com 2341 pontos), estando em "16.º lugar nas Sub-18 femininas a nível mundial", "muito próxima do top-100 de todas as xadrezistas do planeta".

Nascida na Carolina do Norte, nos EUA, Filipa vive no Porto desde os nove anos e aprendeu as regras do jogo no clube de xadrez da escola depois de se ter juntado por ter amigos a jogar. Foi o dirigente do clube, Pedro Caramez, que a ensinou e acompanhou os seus primeiros passos no xadrez. O torneio de Jovens do Porto, em 2014, foi a primeira competição em que participou. “Depois de ir ao primeiro torneio nunca parei. Ganhei mesmo paixão pelo jogo”, afirmou Filipa Pipiras, que agora representa o clube do Colégio Efanor no Porto.

Aos dez anos, a xadrezista participou no primeiro torneio fora de Portugal, no Mundial de Sub-10 na Grécia, depois de ter sido campeã nacional feminina. No xadrez as competições e títulos são divididos em femininos e absolutos (em que todos podem participar). Estas divisões foram criadas por ser uma área predominantemente masculina. Em 2020, apenas 10% dos jogadores classificados pela FIDE eram mulheres.​

Segundo a jogadora, em Portugal não existe essa separação nos torneios porque “o número de raparigas não é suficiente” para formar uma outra categoria. O "único torneio separado do país" é o campeonato nacional feminino para todas as idades onde já se consagrou campeã nacional em 2020/21. Assim, no país, nos restantes campeonatos, os títulos femininos são atribuídos dentro dos torneios absolutos.

Em 2022, Filipa Pipiras foi às olimpíadas de xadrez, em Chennai, onde Portugal terminou na 44.ª posição. "Foi marcante ver pela primeira vez jogadores tão fortes”, comenta. Participar em torneios exige que esteja “fisicamente e mentalmente apta”. Na noite anterior aos jogos são anunciadas as parelhas e até à hora da partida é feita uma preparação que consiste não só em estudar as partidas dos oponentes, como as próprias. Os jogos podem demorar cerca de três a quatro horas, mas também podem chegar às seis. Este é um processo que se repete diariamente durante os sete a nove dias de competição.

Antes dos jogos, Filipa costuma analisar as partidas anteriores dos adversários para se preparar. São momentos que lhe permitem “analisar e ver o nível [dos oponentes], ver em que tipo de posições jogam melhor e onde costumam gastar muito tempo durante o jogo”.

Este ano, terminou o 12º ano. O equilíbrio entre os estudos com o xadrez foi um desafio que exigia “gerir bem o tempo” e “ter o dia organizado", mas conseguiu manter boas notas, garante. Além do xadrez, tem aulas de violoncelo, gosta de desenhar e de uma boa corrida. Vai entrar agora no ensino superior, e quer seguir Ciências Biomédicas. Em Portugal, jogar profissionalmente não é uma possibilidade, diz. Para o fazer "precisaria de um apoio financeiro” para conseguir participar nos torneios internacionais, explica.

São poucos os apoios que Filipa consegue, conta, e geralmente são apenas para alguns campeonatos europeus. Além disso, ao contrário de outros xadrezistas internacionais, não consegue patrocínios. “Noutros países há pessoas com um nível até abaixo que conseguem ter patrocínios, mas aqui em Portugal não conheço nenhum jogador que tenha conseguido”, afirma.

Despesas da viagem, alimentação e estadia nos hotéis são custos comportados pela família da jogadora. Para gerir esse peso financeiro, este ano Filipa focou-se apenas nas competições mais fortes. Desde Dezembro do ano passado jogou dois torneios em Espanha, dois na França e um na Alemanha, no entanto “precisaria de jogar cinco [torneios] a cada dois meses” para progredir como jogadora, calcula.

Desde sempre admirou Judit Polgár, considerada a melhor mulher no xadrez de sempre. “Ela alcançou um rating muito elevado, estava mesmo no top mundial absoluto”, explica Filipa. “Isso foi inspirador para mim quando era pequena, porque me fez acreditar que eu poderia estar no topo absoluto ou que qualquer rapariga conseguiria”. O seu desejo era conseguir seguir os passos de Polgár, contudo “a nível internacional será um caminho muito longo”, admite. “Pelo menos ao nível nacional, espero estar nos melhores de Portugal e continuar a evoluir e atingir o meu máximo potencial.”

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