Corpo de um alpinista desaparecido há 36 anos descoberto com degelo nos Alpes

Restos mortais de um alpinista alemão que tinha sido dado como desaparecido em Setembro de 1986 foram encontrados no início de Julho após o degelo de um glaciar dos Alpes, na montanha Matterhorn.

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O Matterhorn é uma montanha em forma de pirâmide, com 4500 metros de altura Claude Olivier Marti/GettyImages
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Os restos mortais de um alpinista alemão desaparecido há quase quatro décadas foram descobertos no gelo derretido ao largo da montanha Matterhorn no início deste mês, informou a polícia suíça na passada sexta-feira.

Uma foto publicada pela polícia mostrava os pertences do homem - cordas de escalada, um pano cinzento e uma bota preta com atacadores vermelhos - bem preservados de anos no gelo e na neve.

É uma descoberta terrível que sublinha a natureza implacável dos cumes mais altos do mundo e a forma como as alterações climáticas estão a deformar os magníficos picos.

A polícia do cantão de Valais, no sudoeste da Suíça, não identificou publicamente o homem, mas disse que a análise do ADN revelou que se tratava de um alpinista alemão de 38 anos que tinha sido dado como desaparecido em Setembro de 1986.

"Os corpos de alpinistas cujo desaparecimento foi comunicado há décadas estão a aparecer cada vez mais devido ao recuo dos glaciares", disse a polícia.

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O Matterhorn é talvez a montanha mais conhecida dos Alpes, a par do Monte Branco, e localiza-se na fronteira da Suíça com a Itália Sean Gallup

O Matterhorn é uma montanha em forma de pirâmide, com 14.692 pés de altura (4500 metros), que atravessa as fronteiras da Suíça e da Itália. A partir de 2011, estima-se que pelo menos 500 pessoas tenham morrido ao tentar escalá-la - um número de mortes significativamente maior do que o do Monte Everest, o pico mais alto do mundo, que tem mais de 8800 metros. O Evereste faz fronteira com a China e o Nepal.

O aumento das temperaturas e o degelo dos glaciares não só revelaram mais corpos, como também tornaram a viagem de outros alpinistas ainda mais perigosa, uma vez que o derretimento do permafrost aumenta o risco de deslizamentos de terras e quedas de rochas.

O volume dos glaciares alpinos diminuiu cerca de 60% desde meados do século XIX, de acordo com o Centro Nacional Suíço de Serviços Climáticos, e os dias de neve anuais também estão a diminuir desde, pelo menos, a década de 1970.

Uma imagem do glaciar Gorner de 1863 sobreposta na mesma paisagem, na actualidade, mostra o recuo do glaciar nos Alpes suíços Reuters/Denis Balibouse
O Glaciar Aletsch fotografado no final do século XIX, em Fieschertal, e em Setembro deste ano. A primeira foto foi cedida pela ETH Library Zurich Reuters/DENIS BALIBOUSE
O Glaciar Aletsch é um dos maiores da Europa e no entanto corre o risco de desaparecer nas próximas décadas. O glaciar recuou 3 km desde 1870 Denis Balibouse
Uma comparação do Glaciar Aletsch de 1865 para 2019 Reuters/DENIS BALIBOUSE
Outra imagem do século XIX do Glaciar Aletsch Reuters/Adolphe Braun/ETH Library Zurich
Uma imagem do Glaciar Aletsch do século XIX sobreposta na mesma paisagem, na actualidade Reuters/DENIS BALIBOUSE
O Glaciar Rhone e o Hotel Belvedere numa imagem anterior a 1938, cedida pela ETH Library Zurich... Reuters/ETH Library Zurich
Menos de um século depois, a paisagem alterou-se completamente e a vista do Hotel Belvedere é bem diferente Reuters/DENIS BALIBOUSE
O Glaciar Rhone coberto para travar o degelo, em Agosto de 2019 Reuters/DENIS BALIBOUSE
Uma fotografia de 1858 do Glaciar Lower Grindelwald... Reuters/ETH Library Zurich
Cerca de século e meio depois, em Agosto, o cenário era este. Reuters/DENIS BALIBOUSE
As duas imagens lado a lado mostram o recuo do Lower Grindelwald Reuters/Denis Balibouse
O Glaciar Rhone numa imagem de 1849 Reuters/Leo Wehrli/ETH Library Zurich
E o Glaciar Rhone em 2019 Reuters/DENIS BALIBOUSE
As duas imagens juntas sublinham a diferença Reuters/DENIS BALIBOUSE
Uma imagem do Glaciar Trient de 1891 sobreposta na mesma paisagem, na actualidade. Reuters/DENIS BALIBOUSE
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Uma imagem do glaciar Gorner de 1863 sobreposta na mesma paisagem, na actualidade, mostra o recuo do glaciar nos Alpes suíços Reuters/Denis Balibouse

Em 2014, os restos mortais de um alpinista checo, desaparecido desde 1974, foram encontrados perto do Monte Titlis, na Suíça. No Matterhorn, os restos mortais de um alpinista britânico foram encontrados em 2013, mais de três décadas depois de ter sido dado como desaparecido. Cerca de dois anos mais tarde, os corpos de dois alpinistas japoneses também foram descobertos, encerrando um mistério de quase 45 anos.

Os corpos dos alpinistas desaparecidos são difíceis de localizar se ficarem enterrados sob a neve ou se deslizarem mais para baixo das encostas com o passar do tempo. Mesmo que sejam encontrados, alguns permanecem presos porque o tempo instável, as más condições de voo e o esforço físico de remoção dos cadáveres a grandes altitudes são arriscados para os investigadores.

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