Suu Kyi transferida da prisão para encontros com dirigentes birmaneses e enviado chinês

Desde que chegou a um edifício governamental, a Nobel da Paz esteve com o presidente da câmara baixa do país e deverá reunir-se com Deng Xijuan, o enviado especial da China para os Assuntos Asiáticos.

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Suu Kyi antes do golpe de Fevereiro de 2021 Ann Wang

A líder deposta da Birmânia Aung San Suu Kyi, afastada do poder por um golpe militar em Fevereiro de 2021, foi transferida da prisão para um edifício governamental. Segundo disse à AFP um responsável do seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (NLD), a prémio Nobel da Paz “foi transferida para um edifício de alto nível na segunda-feira à noite”: desde então, já se encontrou com o presidente da câmara baixa do país, Ti Khun Myat, e é provável que se venha a reunir com Deng Xijuan, o enviado especial da China para os Assuntos Asiáticos, que se encontra de visita ao país.

Um membro de outro partido citado pela mesma agência afirmou que Suu Kyi foi transferida para um complexo VIP na capital, Naypyidaw. Suu Kyi foi vista apenas uma vez desde que foi detida, depois do golpe de Estado de 1 de Fevereiro de 2021, em fotografias pouco nítidas tiradas por meios de comunicação estatais numa sala de audiências em Naypyidaw.

Esta semana, fontes próximas do caso citadas pela emissora alemã DW, afirmaram que a junta estava a planear transferir Suu Kyi para prisão domiciliária em Rangun, a capital económica do país.

O golpe militar mergulhou este país do Sudeste asiático num conflito que já fez mais de um milhão de deslocados, de acordo com a ONU.

O estado de saúde da ex-líder de 78 anos tem suscitado preocupação desde que foi detida, em especial durante o julgamento num tribunal da junta militar, que a obrigou a comparecer às audiências quase diariamente.

Suu Kyi foi condenada a 33 anos de prisão em repetidos processos por uma série de acusações, incluindo corrupção, posse de walkie-talkies ilegais e incumprimento das restrições impostas pela pandemia da covid-19.

Grupos de defesa dos direitos humanos descreveram os julgamentos como uma farsa e um instrumento para afastar a líder da vida política.

O golpe de 2021 seguiu-se a um período em que se acreditou numa transição para a democracia no país governado por uma junta militar entre 1962 e 2011.

Em 2008, um ano depois do levantamento popular dos monges em 2007, violentamente reprimido pelo Exército, os generais organizaram um referendo a uma nova Constituição, que garantia que mantinham um poder considerável, mas abria a porta um governo civil. Em 2015, a vitória da NLD nas eleições permitiu que a Birmânia voltasse a ser um governo liderado por civis desde 1962.

Mas a Constituição em vigor possibilitava que os militares ocupassem pelo menos um quarto dos lugares no Parlamento – conferindo-lhes um poder efectivo de veto a qualquer alteração constitucional – e reservava-lhes controlo de três ministérios, Defesa, Interior e Fronteiras. Com a alta participação nas eleições seguintes, em Novembro de 2020, o partido de Suu Kyi admitia promover uma nova revisão constitucional.

Os resultados levaram os generais a perceber que muito dificilmente voltariam a vencer numa ida às urnas. Temendo então as consequências de uma nova Constituição, avançaram para recuperar o poder pela força, a pretexto de alegadas irregularidades eleitorais – segundo os observadores internacionais, não houve irregularidades relevantes nas eleições. Seguiram-se protestos fortemente reprimidos: nos primeiros 20 meses, segundo um estudo do Peace Research Institute Oslo, foram mortos pelo menos 6000 civis.

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