“Se te molhares, morres”. O livro que nos leva com Henry Worsley, o explorador

A Escuridão Branca, de David Grann, conduz-nos ao longo de uma caminhada de centenas e centenas de quilómetros no coração da Antárctida.

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"Trata-se de uma vitória do espírito e da força humanos sobre o domínio e os poderes da Natureza" Derek Oyen/Unsplash
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Conta David Grann que Henry Worsley, condecorado oficial das forças especiais britânicas, era um marido e pai dedicado, um explorador que acreditava em honra e sacrifício. Também era um "homem obcecado" que passou a vida a idolatrar Ernest Shackleton, o explorador polar do século XIX, que tentou ser a primeira pessoa a chegar ao Pólo Sul e, mais tarde, tentou cruzar a Antárctida a pé. "Shackleton nunca completou nenhuma das jornadas, mas resgatou repetidamente os seus homens da morte certa e emergiu como um dos maiores líderes da história", escreve Grann, jornalista que agora conta a notável história de Worsley.

Acompanhado por mais de cinquenta fotografias das jornadas de Worsley e Shackleton, A Escuridão Branca ​(Quetzal, com tradução de Vasco Teles de Menezes) é um livro centrado nas expedições e nas aventuras de Henry Worsley, que viajou até o túmulo de Ernest Shackleton, ele próprio um explorador polar.

"Era difícil de respirar, e, de cada vez que exalava, o hálito congelava-se-lhe no rosto: um candelabro de cristais pendia-lhe da barba; uma cobertura de gelo revestia-lhe as sobrancelhas como se fossem espécimes preservados; as pestanas estalavam quando pestanejava. Se te molhares, morres, recordava-se frequentemente."

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A Escuridão Branca, de David Grann Quetzal

A ligação "avassaladora" que Worsley sentiu com essas expedições, levou-o a repeti-las, pisando os passos de Shackleton, respirando o mesmo ar rarefeito, e inclusive a coleccionar artefactos das suas jornadas épicas. Parente de um dos homens de Shackleton, Worsley estava determinado a ter sucesso onde o seu ídolo falhara.

"Trata-se de uma vitória do espírito e da força humanos sobre o domínio e os poderes da Natureza, uma façanha que nos eleva acima da imensa monotonia da vida quotidiana; uma vista para as planícies cintilantes, com montanhas altas recortadas pelo frio céu azul, as terras cobertas de gelo de extensão inconcebível... o triunfo dos vivos sobre a esfera hirta da morte."

Em 2008, Worsley cruzou a Antárctida com dois outros descendentes da tripulação de Shackleton — esta expedição comemorou o centenário da Expedição Nimrod de Shackleton —, lutando contra o congelamento, a paisagem desolada, a exaustão física e as fendas ocultas, tendo atingido um ponto a 157 km do Pólo Sul.

Em Novembro de 2015, aos 55 anos, Worsley despediu-se de sua família e embarcou na sua missão mais perigosa: atravessar a pé a Antárctida sozinho. Cobriu 1.469 quilómetros em 69 dias e tinha apenas 48 quilómetros pela frente quando foi obrigado a desistir (por exaustão e desidratação severa) e a pedir ajuda pelo rádio, tendo sido transportado de avião para o Chile, onde faleceria pouco depois, a 24 de Janeiro de 2016.

Terra Incognita é o nome da colecção de literatura de viagens da Quetzal. "Reúne títulos e autores que desprezam a ideia de turismo e fazem da viagem um modo de conhecimento", escreve a editora.

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