Verão sufocante da Europa pode desviar os turistas para climas mais frescos

O número de pessoas que pretendem viajar para a região mediterrânica entre Junho e Novembro já diminuiu 10% em relação ao ano passado.

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Uma turista usa um leque para se proteger do sol durante uma onda de calor extremo, em Atenas, Grécia, a 14 de Julho de 2023 EPA/KOSTAS TSIRONIS

O aumento das temperaturas no Verão no Sul da Europa poderá provocar uma mudança duradoura nos hábitos dos turistas, com mais viajantes a escolherem destinos mais frescos ou a fazerem as suas férias na Primavera ou no Outono para evitarem o calor extremo, prevêem os organismos de turismo e os especialistas.

Os dados da European Travel Commission (ETC) mostram que o número de pessoas que pretendem viajar para a região mediterrânica entre Junho e Novembro já diminuiu 10% em relação ao ano passado, quando o clima abrasador provocou secas e incêndios florestais.

Entretanto, destinos como a República Checa, a Dinamarca, a Irlanda e a Bulgária registaram um aumento do interesse.

"Prevemos que, no futuro, as condições climatéricas imprevisíveis terão um maior impacto nas escolhas dos viajantes na Europa", afirmou Miguel Sanz, diretor da ETC.

O relatório do organismo profissional revela igualmente que 7,6% dos viajantes consideram actualmente os fenómenos meteorológicos extremos como uma preocupação importante para as viagens entre Junho e Novembro.

Anita e o marido

Entre eles estão Anita Elshoy e o marido, que regressaram à Noruega do seu local de férias preferido, Vasanello, uma aldeia a norte de Roma, uma semana antes do previsto este mês, quando as temperaturas atingiram cerca de 35ºC.

"Tive muitas dores de cabeça, nas pernas e os meus dedos incharam e fiquei cada vez mais tonta", disse Elshoy sobre os sintomas relacionados com o calor. "Era suposto estarmos lá durante duas semanas, mas não pudemos (ficar) por causa do calor."

Apesar deste possível impacto do clima, a procura de viagens voltou a disparar este Verão, com os turistas a deixarem para trás anos de restrições impostas pela pandemia, e as agências de viagens afirmam que o calor ainda não provocou muitos cancelamentos.

Os britânicos, em particular, reservaram menos férias em casa e mais no Mediterrâneo, muitas vezes com muitos meses de antecedência, uma vez que continuam a desejar escapadelas para a praia após o confinamento, disse Sean Tipton, do grupo britânico de agentes de viagens ABTA

Mas este equilíbrio poderá alterar-se, uma vez que as vagas de calor se tornarão mais intensas. Os cientistas há muito que alertaram para o facto de as alterações climáticas, causadas pelas emissões de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis, tornarem os fenómenos meteorológicos mais frequentes e mais intensos

Os meteorologistas prevêem que as temperaturas na próxima semana possam ultrapassar o actual recorde europeu de 48,8 graus Celsius, estabelecido na Sicília em Agosto de 2021, aumentando os receios de uma repetição das mortes causadas pelo calor do ano passado.

Nas últimas semanas, os meios de comunicação europeus foram inundados com histórias de turistas que foram retirados das praias italianas por via aérea ou transportados em ambulâncias da Acrópole de Atenas.

"Os nossos estudos recentes indicam um declínio no número de pessoas interessadas em viajar em Agosto, o mês de pico, enquanto mais europeus estão a considerar viajar no Outono", disse Sanz.

Mudanças no Sul da Europa

Os turistas em Roma disseram à Reuters que pensariam duas vezes antes de voltarem a viajar para lá em Julho, pois tiveram dificuldade em beber água suficiente, manter-se frescos e encontrar locais com ar condicionado para descansar.

"Eu viria quando estivesse mais frio. Só em Junho, Abril", disse Dalphna Niebuhr, uma turista americana de férias com o marido em Roma esta semana, que disse que o calor estava a tornar a sua visita "miserável". São más notícias para a economia italiana, que vive do tráfego intenso do Verão.

O Ministério do Ambiente italiano avisou, num relatório deste ano, que os turistas estrangeiros iriam, no futuro, viajar mais na Primavera e no Outono e escolher destinos mais frescos.

"O balanço será negativo, também porque uma parte dos turistas italianos contribuirá para o fluxo do turismo internacional para países menos quentes", refere o relatório. Alguns esperam que a mudança seja apenas uma deslocação do tráfego e não uma redução.

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Um turista bebe água durante uma onda de calor enquanto visita a cidade de Toledo, no centro de Espanha, a 17 de Julho de 2023 EPA/ANGELES VISDOMINE

Na Grécia, onde as chegadas internacionais por via aérea aumentaram 87,5% entre Janeiro e Março, a sobrelotação no Verão tem afectado pontos turísticos como a ilha de Mykonos.

De acordo com o ministério do Ambiente grego, o aumento das viagens nos meses de Inverno, Primavera e Outono poderá atenuar este problema e compensar um eventual abrandamento no Verão.

As autoridades gregas encerraram a antiga Acrópole de Atenas durante a parte mais quente do dia, na sexta-feira, para proteger os turistas.

Em Espanha, espera-se uma elevada procura de férias nos destinos costeiros do norte do país e nas ilhas turísticas espanholas, onde as temperaturas de Verão tendem a ser mais frescas, de acordo com um relatório da associação nacional de turismo Exceltur.

Os espanhóis Daniel Otero e Rebeca Vazquez, que estavam de visita a Bilbau, disseram que talvez mudassem as suas férias para Junho do próximo ano, altura em que as temperaturas seriam mais frescas e confortáveis.

Para Elshoy, os verões no sul da Europa podem ser uma coisa do passado. A jovem afirma que vai pensar em passar férias na Noruega, o seu país natal: "Não quero ter umas férias em que tenha dores de cabeça e volte a sentir tonturas."

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