A Alemanha quer reduzir as dependências face à China, mas não diz como

O Governo alemão publicou o documento em que apresenta a estratégia em relação a Pequim para os próximos anos. Pequim pede abordagem “racional, abrangente e objectiva”.

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Olaf Scholz garante que Alemanha não se quer separar totalmente da China Reuters/HEIKO BECKER
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O Governo alemão publicou esta quinta-feira um muito aguardado documento em que especifica a sua estratégia futura face à China. A Alemanha está empenhada em mudar a sua relação com a China, reduzindo a sua dependência económica, mas não explica de que forma é que isso poderá acontecer.

A ideia foi resumida pelo chanceler Olaf Scholz, através do Twitter, que recorreu a uma variação de uma frase que tem vindo a ser repetida pelos responsáveis alemães há meses. “O nosso objectivo não é separarmo-nos, mas queremos reduzir as nossas dependências críticas no futuro”, afirmou o líder do Governo alemão pouco depois da divulgação do documento.

A ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, considerou que a estratégia alemã para gerir a relação com a China é “realista, mas não ingénua”. “Queremos diversificar, mas, ao mesmo tempo, queremos expandir e utilizar a cooperação com a China. Isto aplica-se aos nossos contactos económicos porque não queremos prejudicar nem o desenvolvimento económico da China nem o nosso”, acrescentou.

Não é propriamente uma novidade o desejo de Berlim em reduzir a dependência em relação à China, que se tem revelado, cada vez mais, um receio, mais do que uma oportunidade. No mês passado, a estratégia de segurança divulgada pelo Governo alemão apontava a China como um parceiro, mas ao mesmo tempo também um adversário e rival.

Esperava-se que o documento revelado esta quinta-feira, centrado apenas na China, pudesse especificar de que forma é que a nova relação entre os dois países poderia ser desenvolvida no futuro, mas não há muitas medidas concretas ao longo das 64 páginas do relatório.

“A China é o maior parceiro comercial singular da Alemanha, mas enquanto as dependências da China face à Europa estão constantemente em queda, as dependências da Alemanha face à China tomaram um significado maior nos últimos anos”, começam por observar os autores da estratégia.

Um dos aspectos em que os dirigentes alemães mais se aproximam de uma proposta concreta é na menção ao plano para ajustar as listas de controlos de exportações de tecnologias consideradas estratégicas, num esforço coordenado a nível europeu. Trata-se de uma medida idêntica à que foi adoptada pela China recentemente, ao impor limites à exportação de alguns metais usados no fabrico de semicondutores.

Berlim manifesta ainda preocupação com a intensificação das actividades de espionagem da China, “particularmente no ciberespaço”, e comprometeu-se a sensibilizar as empresas e institutos de investigação para este risco.

A Alemanha também quis deixar claro que não irá deixar que as relações com Taiwan sejam condicionadas pela pressão chinesa, embora o documento reitere o respeito pela política “uma só China” – um princípio diplomático em que os países reconhecem que existe apenas uma China soberana. “A Alemanha tem relações boas e próximas com Taiwan em várias áreas e deseja expandi-las”, diz o documento.

A embaixada chinesa em Berlim reagiu à divulgação do documento estratégico dizendo esperar que a Alemanha possa encarar as relações entre os dois países “de forma racional, abrangente e objectiva”. “’Reduzir o risco’ à força e tendo por base preconceitos ideológicos e ansiedade competitiva será contraprodutivo e irá aumentar artificialmente os riscos”, acrescentou a representação diplomática.

As grandes empresas alemãs e associações económicas elogiaram o documento estratégico por não conter metas específicas para a redução da dependência do mercado chinês, segundo a Reuters.

Os analistas têm notado o carácter vago da maioria dos princípios orientadores da estratégia alemã para a China. “Precisamos de uma identificação clara das dependências realmente críticas [face à China] e o Governo deve acompanhar regularmente se a redução do risco está de facto a avançar”, disse à Reuters o analista do Instituto Económico Alemão, Jürgen Matthes.

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