Tecer a confiança com as escolas e os professores (notas para um programa)

Precisamos da humildade de reconhecer a centralidade das escolas e dos professores. Precisamos de tecer o mínimo denominador comum que permita a pacificação.

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A confiança é a pedra angular do sistema educativo e de cada escola. Porque sem confiança não há procura social, não há expetativa positiva, não há relação, não há envolvimento, não há compromisso, não há comunhão de horizontes, não há trabalho colaborativo, não há projeto comum.

Fruto de muitos desenganos, este ano, que agora termina, foi marcado pelos signos da desconfiança, do deslaçamento, do abandono, do cansaço, da desilusão, do esgotamento. Por isso, todos perdemos: perderam os alunos e as suas aprendizagens (do aprender a conhecer, do aprender a saber fazer, do aprender a ser e do aprender a conviver); perderam os professores, que viram a sua imagem pública (e publicada) gravemente afetada; perderam os pais, que viveram a turbulência das greves (teoricamente justas); perdeu a administração educativa, porque viu a sua missão muito mais complexa; perdeu o ministério e o Governo, porque não conseguiu mobilizar vontades e recursos e gerar o consenso mínimo possível para um regresso à paz nas escolas.

Construir confiança nas escolas e nos professores é fundamental para garantir um ambiente propício à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos. Para curar as feridas de um longo calvário vivido durante a pandemia. Para criar condições de convivialidade, de recriação dos laços que fazem a comunidade, a comunicação, o trabalho colaborativo e criativo.

Precisamos da humildade de reconhecer a centralidade das escolas e dos professores. Precisamos de tecer o mínimo denominador comum que permita a pacificação, a tranquilidade para recomeçar um ano novo.

Precisamos de uma comunicação mais aberta e transparente com os pais, alunos, professores. De uma administração educativa atenta e próxima, realmente ao serviço de projetos educativos eficazes e inclusivos.

Precisamos do envolvimento e do compromisso dos pais. De políticas e práticas de incentivo à participação ativa na vida escolar de seus filhos. E que reconheçam a centralidade do conhecimento para uma vida digna e decente.

Precisamos do respeito mútuo entre professores, alunos e funcionários da escola. De reconhecer e valorizar a diversidade de opiniões e perspetivas de todos os envolvidos no projeto educativo. Porque a diferença “é o sal da terra” e o fermento da vida comum.

Precisamos de apostar num desenvolvimento organizacional e profissional contextualizado, solidário, competente, responsável e comprometido com o bem-estar dos alunos (até porque sabemos os sinais preocupantes do bullyling, do stress, da angústia, do esgotamento que muitos estão a viver). Como aqui já disse, há muitos meses, precisamos de políticas de aliança em nome de um bem maior: a educação das nossas crianças e jovens.

Precisamos de políticas e práticas de reconhecimento e valorização da profissão docente. De celebração a nível nacional, regional e local. Porque são os pilares de uma procura da formação inicial que garanta o futuro da escola.

Precisamos, como proclama a UNESCO, de um renovado compromisso social que nos una em torno de uma educação com futuro. Sabemos que este futuro não existirá sem escolas “amigas”, sem lideranças comprometidas e focadas nas aprendizagens, sem professores motivados e reconhecidos, sem comunidades profissionais que coloquem as aprendizagens dos alunos no centro da sua ação preocupada. Porque, em primeira linha, é isso que os define como profissionais. Esse dever. Essa obrigação ética.

Precisamos de tratar as preocupações docentes, discentes e parentais de forma adequada. Escutando sem preconceitos. Dialogando sem má-fé. Tecendo os consensos no mar dos dissensos que sabemos existir. Evitando lançar gasolina para os incêndios latentes. Não há futuro sem esta disposição.

A confiança é o bem maior que precisamos de (re)construir. É fundamental que todas as partes que constituem o sistema educativo trabalhem juntas, comuniquem abertamente e teçam os laços de um pacto educativo renovado para o próximo ano letivo. Sem ameaças inúteis, abdicando da tentação de “vigiar e punir”, adotando disposições construtivas que alimentem uma esperança comum.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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