Encruzado da Casa de Santar eleito melhor vinho do Dão. Casta “papa-prémios” soma e segue

O Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2019 é o Melhor Vinho do Concurso do Dão. Os prémios foram entregues sexta-feira em Tondela. Entre os platina, há um biológico, um espumante e um rosé.

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Osvaldo Amado é o director de enologia da Global Wines e assina o vinho mais pontuado nos Melhores do Dão, o Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2019 Sérgio Azenha
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O vinho Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2019, da Global Wines, o maior player do sector no Dão, foi eleito “Melhor Vinho a Concurso" n'Os Melhores Vinhos do Dão, uma iniciativa da Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVR do Dão). O júri da 14.ª edição do concurso premiou 44 vinhos da região, as medalhas – seis de platina, incluindo o que viria a ser escolhido como Melhor Vinho a Concurso, e 38 de ouro – foram entregues esta sexta-feira no Parque Urbano de Tondela.

O melhor dos melhores para o júri presidido por Beatriz Machado (ex-Yeatman, hoje na Niepoort) nasce numa vinha na vila de Santar, concelho de Nelas, é uma referência que a Global Wines (cuja direcção de enologia está entregue a Osvaldo Amado) enquadrou nos últimos anos na 1990 Premium Wines, a unidade de negócio do grupo que se dedica aos vinhos de terroir, e custa 30 euros.

As outras medalhas de platina foram para o Conciso Branco 2018, da Niepoort, o Cabriz Biológico Tinto 2019, da Global Wines, o Casa da Passarella O Fugitivo Rosado 2022, o Villa Oliveira Touriga Nacional 2018, ambos da Passarella, e o Maria João Espumante Grande Cuvée Branco 2015, da Quinta do Solar de Arcediago.

O vinho Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2019,O vinho Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2019 Direitos Reservados,Direitos Reservados
O júri do 14.º concurso "Os Melhores Vinhos do Dão" Direitos Reservados
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O vinho Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2019,O vinho Casa de Santar Vinha dos Amores Encruzado 2019 Direitos Reservados,Direitos Reservados

O presidente da CVR Dão sublinhou, em declarações ao Terroir, "a regularidade com que a casta Encruzado se afigura como papa-prémios". "É nativa aqui da região, é muito especial, não é muito exuberante [do ponto de vista aromático], é algo austera e só se releva aí a partir do segundo ano de garrafa", descreve Arlindo Cunha. Questionado sobre o facto de a variedade, em que muitos consumidores já pensam quando pensam no Dão, ser residual e ainda não ter expressão no encepamento da região, o responsável vaticina: "diria que ainda não tem".

Outrora mais conhecida "como Salgueirinho", recorda Arlindo Cunha, foi Alberto Cardoso de Vilhena, o primeiro e único director do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão até à data, quem "nos anos 1960 descobriu as qualidades fantásticas" do Encruzado: "é muito mineral e tem uma estrutura que pode acompanhar qualquer tipo de prato, [aquele técnico] fez muitos ensaios e depois o mercado foi descobrindo a casta".

Encruzado poderá vir a ser "a primeira" branca

Em 2022, as castas mais plantadas no Dão eram o Jaen (13,2%), a Baga (11%), a Touriga Nacional (8,3%) e a Tinta Roriz (6,5%). Na distribuição dos 20.897 hectares de vinha da região, as variedades brancas só apareciam a partir do quinto lugar: Malvasia Fina (3,7%) e Fernão Pires (2,8%) e, mais lá para baixo, numa lista com 18 castas, o Bical e o Encruzado surgiam em 11.º e 12.º lugares, com 1,7% e 1,4%, respectivamente. Castas com menos de 0,3% de expressão, como a Uva-Cão, casta que "está a emergir", nota Arlindo Cunha, não apareciam sequer listadas nos eventos enviados ao Terroir há cerca de um ano pela CVR do Dão.

Haverá cada vez mais vinhas de Encruzado na região, afiança o presidente da Comissão Vitivinícola, que está convencido que, "daqui a dez anos, o Encruzado poderá vir a ser a primeira" variedade branca. Já que, explica, "de há 15 anos para cá, não há produtor que plante vinhas novas de brancos que não plante Encruzado". Apesar de a casta brilhar cada vez mais, isso não quer dizer que "a regra", também não Dão, tenha deixado de ser o vinho de lote.

Num passado não muito longínquo, a relação de vinhas de tintos e vinhas de brancos no território seria "70%/30%", mas também isso "está a mudar, porque o mercado assim pede" – a tendência mundial de consumo tem sido a de valorizar vinhos mais leves e menos alcoólicos, o que privilegia a produção de brancos.

Sobre os outros vinhos que mereceram medalhas de platina, Arlindo Cunha relevou o facto de entre eles figurar um biológico, numa região "que é difícil para a viticultura biológica", um espumante – "a região era outrora conhecida pelos tintos, e ainda é, mas também faz espumantes de qualidade e, curiosamente, outro espumante do Dão foi Melhor Espumante no Concurso Vinhos de Portugal, da ViniPortugal" – e um rosado a – "a massa vínica tem de ser excepcional".

O júri d'Os Melhores Vinhos do Dão reuniu enólogos, sommeliers e críticos de vinhos que provaram 170 referências nas categorias de vinhos brancos de lote, vinhos tintos de lote, vinhos varietais e espumantes.

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