Conservas e Portugal no coração da Polónia, um “trabalho de amor” de Marzena e Gonçalo

Em Varsóvia, Marzena e Gonçalo Franco dão a provar e vendem “os melhores produtos de Portugal”, que distribuem por todo o país. E as suas conservas Sete Mares são as “meninas dos seus olhos”.

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Marzena Gregier Franco que, com o marido Gonçalo, distribui Portugal pela Polónia luís j. Santos
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“Venham, venham ver o meu bebé.” Marzena, 42 anos, nascida (e a viver) na Polónia, mas que fala português como uma nativa, sorri. Há uma alegria natural e maternal ao poder mostrar ao jornalista português estas “meninas dos seus olhos”: a conserva portuguesa, com a marca que ela e o marido, Gonçalo, de 48 anos, criaram, tal como criaram uma importadora e distribuidora por terras polacas dos “melhores produtos de Portugal” e este recanto de produtos lusos num mercado dentro da Fabryka Norblina, antigo e gigantesco centro fabril de artigos domésticos em metal e outros materiais, uma das muitas, e das mais recentes, fábricas com vida nova.

Só vínhamos de passeio rápido a passar os olhos pela antiga fábrica e eis que brilha na secção Bio Bazar, a “casinha” da Smaki Portugalii (Sabores de Portugal, também nome da empresa). É que é Portugal por todo o lado e um português não é de ferro: por entre uma decoração colorida e inspiração de azulejos, ali está o café Delta ou Nicola e os pastéis de nata, centenas de conservas arrumam-se artisticamente em estantes de madeira, ele é azeites, vinagres, vinhos, queijos, doces e marmeladas, tudo o que um português ou amante de Portugal pode precisar para matar as saudades. “Têm que provar o meu filete de cavala!”, diz-nos Marzena, orgulhosa da marca de conservas do casal, a Sete Mares, “que já se vende em Portugal”.

“Fui a Olhão e aprendi com as senhoras da Conserveira do Sul [que produzem a Manná].” E mostra-nos, orgulhosa, as fotos a aprender as conservas ao lado daquelas “senhoras e mestras incríveis”. É irresistível a “paixão por Portugal” de Marzena, que não tem pejo a dizer que “os polacos simplesmente adoram Portugal” (e não será apenas por causa da célebre e omnipresente rede de supermercados, Biedronka, significando Joaninha, pertença da Jerónimo Martins do Pingo Doce). E, apesar de algumas dificuldades em tirá-los dos clichés de que produtos italianos ou franceses é que são bons, “há cada vez mais gente fã dos produtos gourmet portugueses, até restaurantes, aqui mesmo o Wine Bar serve as nossas conservas”.

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Alguns produtos portugueses da loja, com os incontornáveis pastéis de nata e as conservas Sete Mares LUÍS J. SANTOS

Os filetes de cavala, atum, as “adoradas” sardinhas são estrelas — “começámos pelos frascos, depois as latas, e iniciámos os patés há uns dias —, mas o cabaz de produtos, tanto na loja, na venda online, como na distribuição, é mais vasto. As conservas, porém, são especiais, até porque, coincidência ou não, o pai de Marzena tinha uma pequena manufactura de peixe na Polónia. “Azeite também, mas não fazemos, ainda… já plantámos oliveiras”, confessa.

A história desta “paixão pela história, design, pela indústria conserveira” começa com o casamento do par, a decisão de iniciar a empresa há quase duas décadas e o crescente interesse polaco por Portugal. “No ano passado, fomos passar férias à Madeira e o meu filho admirava-se por ouvir mais polaco que português”. Há cada vez mais vinhos portugueses (“bons”) nas listas dos restaurantes, e isso é notório, até por nossa experiência própria nas refeições.

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Alguns produtos portugueses da loja e as conservas Sete Mares dr

Entre um cafezinho e um pastel de nata, um cheirinho a alecrim, dois braços à minha espera, conta-me que ainda há pouco fizeram um evento com vinho verde da Quinta de Santiago e que foi um sucesso, e tece elogios rasgados aos azeites alentejanos Angélica, do fotógrafo Gonçalo Rosa da Silva, um “tributo à sua avó”, ou a Mainova.

O cantinho destes sabores portugueses fica no mercado bio e gourmet BioBazar da Norblina (que inclui cinema, mais mercados, restaurantes e bares e um museu da indústria a céu aberto) e nele não faltam sequer arroz carolino e guloseimas mata-saudades da Sumol e Compal, até o Um Bongo, além de muitas outras conservas, incluindo serem representantes nacionais de várias marcas, como a Ramirez (as sardinhas da marca são o top de vendas), ou noutros segmentos, Oliveira da Serra, Nicola, de azeite bio Acushla do Douro, flor de sal de Castro Marim, Muxama do Algarve ou em “encomendas especiais” os chocolates e doces artesanais da Boa Boca e Mestre Cacau.

Não em vão especializada em antropologia cultural, Marzena descobriu no seu “amor a Portugal” uma outra antropologia neste negócio que envolve toda a família, o seu mar português (ou luso-polaco). "Quanto amor cabe numa conserva? O amor por um país", é um dos slogans.

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