Sobe e desce: quantidade de água aumenta em quatro bacias hidrográficas e desce em oito

O volume de armazenamento de água nas barragens continua no sobe e desce. Em 57 albufeiras, 23 tinham disponibilidade hídrica superior a 80% do volume total, mas dez têm disponibilidade abaixo de 40%.

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Barragem do Monte da Rocha, que fornece água para todo o Baixo Alentejo. Barragem não enche há uma década NUNO VEIGA/LUSA

A quantidade de água armazenada desceu, em Junho, em oito bacias hidrográficas e subiu em quatro, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH), referentes ao estado de 12 bacias.

Os armazenamentos do mês passado por bacia hidrográfica eram, a 30 de Junho, superiores à média, com excepção das bacias do Sado, Guadiana, Mira, Arade e Ribeiras do Algarve, que volta a ser a que segura menos quantidade de água: apenas 11,7% da capacidade, quando a média é de 69,9%.

Ao contrário, as bacias do Lima (com 92,8% de armazenamento), do Mondego (87,8%), do Ave (87%), e do Cávado (83,9%) eram as que tinham mais água e foram as que subiram o volume face a Maio.

Das 57 albufeiras monitorizadas – a cada bacia hidrográfica pode corresponder mais do que uma albufeira –, 23 apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e dez têm disponibilidades inferiores a 40%.

Nos últimos meses, como descreve uma reportagem do Azul publicada no final de Junho, o volume de armazenamento de água nas barragens de Portugal está num jogo contínuo de sobe e desce. A chuva escassa e intermitente tem sido suficiente para deixar as albufeiras do Norte numa situação confortável, mas a sul do Tejo tudo se complica.

As situações mais críticas, como se confirma no boletim do SNIRH agora publicado, estão na região algarvia, nas bacias do Mira e do Sado.

Em muitas regiões do país, mesmo em ano médio, somam-se as dificuldades em suprir as necessidades de recursos hídricos. Os constantes e cada vez mais prolongados ciclos de seca têm impedido a reposição dos níveis das albufeiras e das águas subterrâneas, prevendo-se situações de escassez profundamente agravadas.

Barragem que abastece Baixo Alentejo não enche há uma década

A barragem do Monte da Rocha, em Ourique, fornece água para todo o Baixo Alentejo mas está a 9% e não enche há uma década, embora Manuel Caetano acredite que tem muita água ainda para vários anos. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) monitoriza 75 albufeiras e segundo os dados actualizados na semana passada a que está em pior situação é a do Monte da Rocha, a 9% da capacidade.

Construída para abastecimento humano e rega, Monte da Rocha nem chegou este ano a disponibilizar água para rega, tal a pouca água que armazenou, destinada apenas a servir os concelhos de Castro Verde, Ourique, Almodôvar, Mértola e Odemira, que num total têm mais de 50 mil habitantes.

Em Fevereiro deste ano foi publicado o concurso para a obra que fará chegar a água de Alqueva a Monte da Rocha, prevista para 2025. Mas Manuel Caetano não acredita.

Reservado, Manuel Caetano escuta mais do que fala. É o dono do Restaurante A Rocha, mesmo em frente da barragem, há 42 anos. E socorrendo-se de uma boa memória afirma: "A última vez que a vi cheia foi em 2013, daí para cá tem sido sempre a descer.

Aquele que já foi um grande reservatório de água trazida pelo rio Sado, para rega e para as pessoas de cinco concelhos, tem agora pequenos lagos no centro, longe de um parque de campismo que já teve desportos náuticos na "ementa", e longe da aldeia de Chada Velha, que "ficava um ilhéu quando a barragem enchia", recorda, por seu lado, Adílio Guerreiro, agricultor e trabalhador da Câmara de Ourique.

Parece difícil que aqueles pequenos lagos dispersos forneçam água a cinco concelhos, mas Manuel Caetano, anos a olhar a barragem, garante que água não faltará nos próximos anos. E Ilídio Martins, presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (Alto Sado é outro nome para Monte da Rocha), com base em dados técnicos, afiança o mesmo.

A associação é a entidade gestora da barragem e segundo o seu presidente a água não faltará. "Temos reserva para mais um ano, mas esperamos que aquela reserva que lá está seja acrescida com alguma chuva e que haja precipitação no próximo Inverno, porque seria muito mau se isso não acontecesse", diz à Lusa.

Para já, Monte da Rocha nem parece uma barragem. A erva cresce e seca nas paredes e no leito e onde devia estar água crescem os juncos, as estevas, as urzes, as silvas e pelo menos um pequeno pinheiro já lá está, sinal de que há muito a água não cobre o terreno.

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