Câmara do Porto irredutível: arraial LGBTI+ é no Covelo ou faz-se sem o seu apoio

Organizadores pediram à autarquia para realizar o arraial nas Fontainhas, mas Rui Moreira diz não querer incomodar os moradores da zona. Vereadores da oposição apelaram ao diálogo.

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Marcha do orgulho LGBTI+ realiza-se neste sábado no Porto Reuters/MINWOO PARK
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Nem a petição criada por dezenas de associações e subscrita por milhares de cidadãos, nem os pedidos dos vereadores da oposição demoveram Rui Moreira quanto à posição da Câmara do Porto em relação a um dos arraiais a realizar após a marcha de orgulho LGBTI+, agendada para este sábado, dia 8. Se quiserem contar com o apoio logístico do município, nomeadamente com a cedência e montagem de infra-estruturas, o evento terá de realizar-se no Parque do Covelo e não nas Fontainhas, como a organização solicitou.

Na semana passada, activistas protestaram contra a “invisibilidade” à qual o evento estava a ser sujeito por ser retirado do centro da cidade. Na reunião do executivo desta segunda-feira, a vereadora do Bloco de Esquerda levou o tema ao hemiciclo: Maria Manuel Rola acusou a autarquia de tomar uma decisão “irresponsável”, desde logo porque põe em risco a segurança das pessoas. O Parque do Covelo, argumentou, não tem capacidade para receber o número de pessoas esperado e aquela localização geográfica, menos central, “não facilita a segurança” de pessoas muitas vezes “perseguidas”.

Também os vereadores da CDU e do PS, Ilda Figueiredo e Jorge Garcia Pereira, apelaram a uma mudança de posição da autarquia, não encontrando argumentos para a rejeição das Fontainhas como o local do evento. Já Alberto Machado, do PSD, pediu a palavra para sublinhar que o Porto, cidade onde a Gisberta foi apedrejada até à morte, era um lugar seguro, e que questões como as levantadas pela vereadora do BE eram irrelevantes. "Extremistas de direita ou de esquerda há em todo o lado. Mas as pessoas podem andar livremente."

Já no fim da reunião, Rui Moreira quis prestar mais declarações sobre o assunto aos jornalistas. E rejeitou, de novo, estar a fazer qualquer veto ao evento: "Dissemos que montaríamos tudo o que fosse preciso e indicámos o Parque do Covelo." Perante a recusa dos organizadores, a autarquia não esteve disponível para negociar.

E por que razão a Câmara do Porto considera que as Fontainhas não podem receber este evento, questionou o PÚBLICO. "Da mesma maneira que as pessoas do Largo Amor de Perdição têm direito ao seu descanso e sossego, entendemos que nas Fontainhas é rigorosamente a mesma coisa.”

Sobre a marcha do orgulho LGBTI+, Rui Moreira sublinhou que o município “não é ouvido nem achado” no assunto. “Podem começar onde quiserem, podem acabar onde quiserem, no dia que quiserem e à hora que quiserem. Mas esse percurso, apontou, deve ser comunicado à PSP – algo que ainda não terá acontecido, segundo o autarca.

Filipe Gaspar, membro da organização da Marcha do Porto, disse na semana passada ao PÚBLICO que o Parque do Covelo não era uma opção para realizar o arraial. Caso a autarquia não mude de opinião, avisou, iriam ocupar o espaço público. Mas isso colocará em causa a segurança de quem participa: “É uma solução que nos coloca em perigo, sem protecção das forças policiais. Para mim, é muito claro que esta é uma forma de nos oprimir e desgastar.”

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