Maiorca, a pequena pérola do Baixo Mondego

Sim, esta Maiorca é portuguesa e fica por terras da Figueira da Foz. O verde domina a paisagem de onde brota um grão precioso, o arroz carolino. Outrora sede de concelho, é campo aberto ao sossego.

ALDEIA DE MAIORCA NA FIGUEIRA DA FOZ
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Em Maiorca há uma Rota dos Arrozais, sendo o arroz um dos produtos emblemáticos da região que se gaba de ter “o melhor arroz carolino” ADRIANO MIRANDA
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O grupo cénico do arrozal Adriano Miranda
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Pelos campos de Maiorca Adriano Miranda
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Maiorca Adriano Miranda
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Maiorca na rota dos arrozais Adriano Miranda
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A estrada estreita que conduz até ao centro da vila confirma as suspeitas: Maiorca não é um desses destinos óbvios. Com o mar ali tão perto, e já em tempo de férias de Verão, não deixa de ser curioso ver tão pouco movimento na rua. Chegados à zona do chamado terreiro do paço, percebemos que aquele território teve grande importância num passado que o presente não está (ainda) a saber honrar. Menos mal que o casario plantado à volta do Paço de Maiorca e do Palácio Conselheiro Branco começa a dar sinais de recuperação, parte dela encetada por cidadãos estrangeiros. É quase sempre assim. Quem vem de fora, parece ter maior facilidade em reparar na potencialidade das nossas aldeias e vilas. A poucos minutos de distância da concorrida praia da Figueira da Foz, sede do município ao qual Maiorca pertence, mora uma vila sossegada, pintada de verde e refrescada pela água que não pára de jorrar nas várias fontes que pontuam o território.

Aqueles que têm por hábito fazer uma pesquisa prévia sobre os locais a visitar, irão deparar-se, em relação à vila de Maiorca, com duas inevitabilidades: os motores de busca da Internet apontam, quase sempre, para aquela que é a maior ilha do arquipélago das Baleares; as redes sociais estão inundadas de fotos de uma lagoa azul-turquesa formada numa antiga pedreira. Quanto à primeira, nada como insistir e juntar o nome do município na pesquisa. Em relação à segunda, quem é da terra desaconselha a visita - tanto mais porque está em causa uma zona de propriedade privada -, asseverando que a verdadeira beleza de Maiorca está bem à vista. “É a vila mais verde e mais bonita da Figueira da Foz. E tem tanto para visitar”, atesta Maria José Sousa, autora da monografia “Pedaços de Maiorca Bela” e que acaba por nos explicar a razão de ser do nome da terra (ver caixa).

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Existem duas teorias para explicar a origem do nome Maiorca. ADRIANO MIRANDA

Maria José Sousa não é a única a apontar-nos umas quantas e excelentes propostas de passeio nesta vila que chegou a ser sede de concelho. César Galocha, habitante da freguesia, começa por destacar as duas rotas desenhadas no território. Uma delas é dedicada às principais fontes da freguesia - as serras de São Bento e de Castros garantem abundância de água a este território - e consiste num trilho de 5,5 quilómetros de extensão. O outro percurso pedestre, com 13 quilómetros, gira à volta dos arrozais de onde sai o “melhor arroz carolino”, exalta Alexandrina Reis, produtora local que está também ligada à Confraria do Arroz Doce, criada, precisamente, para valorizar o grão cultivado no Baixo Mondego. Só Alexandrina tem 94 hectares de terreno a seu cargo, mas ao longo da freguesia de Maiorca a extensão dos campos de cultivo é admirável. A subida ao alto da Espinheira aí está para o confirmar: um mosaico verde a perder de vista, com o castelo de Montemor ao fundo.

Do Paço ao Palácio

A Rota dos Arrozais tem início naquele que é um dos maiores pontos de interesse da vila, o Paço de Maiorca, também conhecido como Paço dos Viscondes de Maiorca. Como chegámos com aviso prévio, tivemos direito a que as portas do edifício construído no século XVII - com aproveitamento de estruturas do século XIV - se abrissem. O imóvel, classificado como de Interesse Público, está sob a alçada da Câmara Municipal e tem estado sujeito a tempos de indefinição - chegou a ser alvo de um projecto e obras para a sua transformação em hotel, mas os planos saíram gorados. A beleza dos seus painéis de azulejo e tectos pintados só nos pode levar a desejar que o Paço de Maiorca recupere, e rapidamente, a nobreza que lhe é devida. Dentro e fora de portas, uma vez que o requinte do imóvel se estendia aos seus jardins, com uma organização paisagística de tipologia francesa.

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Melhor sorte está já garantida para o vizinho Palácio Conselheiro Branco, imóvel do séc. XIX e que irá albergar o futuro Centro de Divulgação e Promoção do Arroz. Também aqui, a Fugas teve direito a apreciar a beleza dos frescos e da clarabóia “escondidos” no interior do palacete mandado construir pelo conselheiro António Roberto de Oliveira Lopes Branco e que, depois da sua morte, chegou a albergar uma escola de freiras, uma creche e a GNR.

A descoberta do paço e do palácio - mesmo que só consiga apreciá-los a partir do exterior - deve servir de prelúdio a um passeio pelo núcleo histórico da vila, com direito a degustar duas iguarias doces da terra: rosquilhas de canela e raivas. “Estes doces são do tempo das nossas avós”, conta Guiomar Costa Lopes, proprietária da Boutique do Pão Quente que há alguns anos decidiu recuperar a receita e o saber fazer de antigamente. “As roscas levam farinha, ovos, canela, açúcar, manteiga, leite e um pouco de cachaça”, desvenda, a propósito do biscoito ao qual decidiu dar o nome de “rosquilhas de Maiorca”.

Ao almoço e ao jantar, também não faltam propostas para aconchegar o estômago com sabores típicos daquele território. À mesa do restaurante Diálogos, as enguias e a lampreia são o prato forte, a par com outras especialidades locais, como é o caso do sarrabulho e o arroz de cabidela. Destaque, também, para o rodízio de lampreia, constituído por um folhado de lampreia com grelos, lampreia de escabeche, lampreia assada no forno e arroz de lampreia (degustação sujeita a marcação prévia e com um preço de 60 euros por pessoa).

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Interior do Paço de Maiorca / PUBLICO

E ainda que seja um destino pouco óbvio, uma pequena pérola turística por lapidar, Maiorca também já consegue dar resposta a quem procura estender a visita por mais do que um dia. O boutique hotel Quinta d’Anta dispõe de 18 quartos (preços a partir de 59 euros) e umas quantas propostas de lazer e desporto: tem três campos de padel (dois cobertos e um ao ar livre), piscina exterior, ginásio e espaço quanto baste para pura e simplesmente não fazer nada. Instalado na quinta onde viveu e morreu o poeta João de Lemos, este alojamento conta com uma “extensão” na praia do Cabedelo, com um bar de praia e uma escola de surf.

Haja tempo e vontade de permanecer simultaneamente longe e perto do mar, que o que não falta em Maiorca são propostas de passeio e experiências. E sossego. Pelo menos, por enquanto.

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Piscina do hotel Quinta d’Anta ADRIANO MIRANDA
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