Nasceu uma associação para nos ajudar a imaginar as ruas do futuro

The Future Design of Streets Association quer fazer a ponte entre a academia e a prática do urbanismo, para que as ruas deixem de ser pensadas apenas como espaços-canal.

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As ruas ainda são domínio do carro. Há que pensar numa mudança Adriano Miranda
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O futuro da rua anda a ser pensado todos os dias, por muita gente, em muitos lugares. Algumas pessoas e cidades andam uns passos à frente, a reinventar uma fatia importante do espaço público que, durante décadas, foi entregue quase em exclusivo à função de circulação e a um veículo (em) particular, o automóvel. Daniel Casas-Valle, Ivo Oliveira e Catarina Breia Dias passaram os últimos quatro anos a convocar dezenas dessas vozes mais activas para seminários a que chamaram The Future Design of Streets e decidiram, agora, transformar esta plataforma de conhecimento numa associação, para ajudar mais cidades e empresas neste processo sempre complexo de mudança.

Ligado à investigação em arquitectura e urbanismo das universidades públicas do Minho e do Porto e da privada Portucalense, o trio tem vindo a trabalhar em conjunto na organização dos seminários online iniciados em 2020 – disponíveis na página The Future Design of Streets – e em encontros presenciais como o que organizou no Porto, em 2022. Segundo o urbanista Daniel Casas-Valle, em quatro edições anuais online e três outras dedicadas a cidades reuniram vozes de 18 países, atraíram a atenção de 1200 pessoas de 58 nacionalidades para mais de 70 apresentações. E isto, mais do que um número para encher currículo académico, significa, no caso deles, a abertura a um mar de possibilidades sobre os usos da rua.

Foi para alargar essa janela, com vista para muitas ruas que deixaram de ser tratadas como “estradas”, que decidiram criar a associação. No quadro académico inter-institucional em que se movem, esta nova organização é uma forma de ganhar “autonomia” e procurar outras parcerias e fontes de financiamento para o tanto que ainda pretendem fazer, explica aquele investigador, um neerlandês residente e a trabalhar no Porto. A The Future Design of Streets Association não quer substituir-se a empresas, nem fazer projectos, mas em futuras edições de seminários dedicados a cidades, por exemplo, quer colaborar com municípios e projectistas em situações concretas, reimaginando os usos de um espaço tantas vezes tão maltratado, e fazendo a ponte entre a academia e a prática. “Estamos nisto num espírito de partilha, open source”, insiste Casas-Valle, usando a metáfora da linguagem informática em código aberto, disponível para todos.

É neste espírito que, depois do Verão, a associação editará um livro, em parceria com a Universidade do Minho. Mais do que um resumo do que foram estes quatro anos de “webinars”, será, numa primeira parte, uma reflexão sobre a rua, um olhar a três – acompanhado por muitas dessas outras vozes – sobre caminhos possíveis para trazer para estes espaços públicos novas formas de mobilidade, sim, mas também a natureza e, insiste Daniel, a sociabilidade. Na busca de desenhos e usos mais equilibrados, que respondam aos desafios da sustentabilidade, da adaptação climática e da inclusão social, Casas-Valle considera que é necessário reforçar a atenção dada a este último objectivo, tantas vezes menosprezado.

A segunda parte desse livro trará muitas pistas, desenvolvidas a partir dos tópicos de uma exposição que já esteve patente na Ordem dos Arquitectos no Porto, mostra essa que a associação quer agora repensar, para um formato portátil, que possa chegar a mais locais. O livro e a exposição não pretendem apresentar soluções estandardizadas, “copy-paste” do que se faz lá fora, mas inspirar a reflexão que cada cidade, cada bairro, cada vizinhança de rua deve fazer.

Para além de continuar a produzir seminários e discussões sobre as ruas do futuro, a direcção da The Future Design of Streets Association espera desenvolver parcerias com organizações não-governamentais e outras instituições, públicas e privadas, que trabalham o espaço público, alargando a rede criada ao longo destes anos que serve, desde logo, como fonte de casos práticos e de contactos. “Tentaremos oferecer uma caixa de ferramentas. A roda não tem de ser reinventada. O objectivo é melhorar as ruas e mudar este rumo para onde as estamos a levar; é deixar de falar nelas como mero espaço-canal e pensar na sua complexidade e no seu carácter local”, explica Casas-Valle.

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