Ventura mantém confiança em deputado acusado de agressão num jogo de futebol

Líder do Chega fez questão de realçar que em causa estão “factos da vida pessoal e privada”. André Ventura considerou ainda o relatório que coloca o Chega ao lado de neonazis como um “disparate”.

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Pedro Pinto com André Ventura no hemiciclo da Assembleia da República ANTÓNIO COTRIM

O líder do Chega afirmou esta terça-feira que mantém "confiança integral" no líder parlamentar Pedro Pinto, acusado de agredir um árbitro de 18 anos num jogo de futebol infantil, descartando qualquer processo interno de averiguação de factos.

"Já falei com o deputado Pedro Pinto sobre isso e mantém a minha confiança integral", disse André Ventura, que falava aos jornalistas após chegar ao memorial de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, em Pedrógão Grande, onde estava acompanhado pelo líder parlamentar do partido.

De acordo com vários órgãos de comunicação social, o deputado Pedro Pinto terá insultado e agredido um árbitro de futebol de 18 anos, num torneio infantil de escalões sub-11 e sub-13, no Crato, concelho do distrito de Portalegre.

Segundo o jornal Expresso, Pedro Pinto fazia parte da equipa técnica de um dos clubes participantes, e terá sido visto a acertar com o chapéu na cara de um dos árbitros.

Já o Jornal de Notícias, conta ainda que o líder parlamentar do Chega terá dirigido palavras hostis ao presidente da Câmara do Crato, durante aquela prova de futebol.

Para o presidente do Chega, "não houve qualquer agressão e não houve qualquer envolvimento em qualquer facto que tenha sido ilícito", suportando a sua afirmação num esclarecimento por parte do próprio deputado visado.

"Tive a preocupação de falar com o deputado Pedro Pinto. [...] A verdade é que foi desmentido. Não há nenhum elemento que aponte noutro sentido e tenho a maior confiança na liderança da bancada do Chega", vincou.

Questionado pela agência Lusa sobre se iria avançar com um processo de averiguação interna ou se bastaria apenas a palavra do seu líder parlamentar, André Ventura descartou tal processo, considerando que os factos "não são factos de natureza política nem de natureza parlamentar ou partidária".

"São factos da vida pessoal e privada", disse o presidente do Chega, acusando o autarca do Crato de "aproveitamento" e de tentar "denegrir o nome do Chega". "Não se trata de nenhum facto parlamentar, de nenhum facto político, é um facto da vida privada e uma tentativa de denegrir o Chega. Nada mudou", asseverou.

Esta não é a primeira vez que o líder da bancada do Chega é acusado de estar envolvido em confrontos.

Há cerca de um ano, o Correio da Manhã noticiou que Pedro Pinto teria abordado o assessor do PS Nuno Saraiva num corredor da Assembleia da República, ameaçando-o com expressões como "parto-te a tromba" e "és um anão".

Nas declarações aos jornalistas, aproveitando a sua presença junto ao memorial, André Ventura, disse que se associa à homenagem, no espírito de que "nunca mais" aconteça aquilo que aconteceu a 17 de Junho de 2017.

O líder do Chega criticou a ausência de prevenção de incêndios, falhas de comunicações que ainda ocorrem em algumas localidades e a falta de ordenamento do território.

André Ventura questionou também a falta de capacidade do Governo em conseguir atrair pessoas para os territórios de baixa densidade, considerando que essa "é a grande falha" do Estado nos últimos seis anos, considerando que pouco se avançou desde os grandes incêndios de Pedrógão Grande.

Relatório que considera Chega vector para movimentos mais radicais é "disparate"

O presidente do Chega considerou ainda que o relatório que considera que o partido tem sido um vector comum para "movimentos mais radicais da extrema-direita portuguesa" é um "disparate".

"À seriedade o que é sério, ao disparate o que é disparate. Estamos a falar de uma ONG [organização não governamental] que tem duas pessoas", afirmou aos jornalistas André Ventura, em Pedrógão Grande, no norte do distrito de Leiria, onde esta terça-feira marca presença na cerimónia de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017.

No relatório, elaborado pelo Projecto Global contra o Ódio e Extremismo (GPAHE, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, identificam-se 13 "grupos de ódio e extremistas" em Portugal, incluindo o Chega e o Ergue-te, mas também movimentos neonazis e supremacistas brancos como os "Portugal Hammerskins" ou os "Proud Boys Portugal".

Neste universo, o Chega é quem domina "cada vez mais" a extrema-direita portuguesa, indica o relatório, que salienta que o partido tem "trabalhado para envenenar o discurso nacional com uma retórica racista, anti-LGBTQ+, anti-imigração e anticiganos".

O líder do Chega ironizou que "amanhã o Chega também pode constituir uma associação qualquer, em Espanha, na Finlândia, na Suécia, e dizer que o Bloco de Esquerda é um perigo para a democracia". "E depois publicamos isso e dizemos 'ah, estão a ver, está aqui um grande perigo'", considerou.

Lembrando que o Chega é um partido político inscrito no Tribunal Constitucional, além de que é o terceiro maior, André Ventura considerou que "isto é desrespeitar os eleitores".

Para André Ventura, o objectivo deste relatório é "atingir os mesmos partidos de sempre (...), os partidos que estão a crescer pela Europa". "O objectivo é sempre claro, é quando os partidos começam a crescer vamos tentar destruí-los. Como? Com o fantasma da extrema-direita, com o fantasma do racismo", adiantou.

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