As dores de cabeça de Rishi Sunak: vídeo do “Partygate” e queda de mais um deputado

O primeiro vídeo conhecido publicamente das festas dos conservadores durante a pandemia mostra o desrespeito ostensivo das regras da covid. Sunak tem nova eleição suplementar para enfrentar.

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O Independent diz que Rishi Sunak tem dificuldade em escapar do buraco negro do "Partygate" NEIL HALL/EPA
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O vídeo que o Sunday Mirror divulgou no sábado sobre uma festa na sede do Partido Conservador foi definido pelo ministro Michael Gove como terrível. São apenas 45 segundos que demonstram aquilo de que já quase toda a gente no Reino Unido se tinha apercebido: durante a fase aguda da pandemia, quando os britânicos enfrentavam regras sociais de distanciamento rígidas, membros do partido e do executivo de Boris Johnson não só não as cumpriam, como faziam pouco das mesmas.

O escândalo do “Partygate”, que levou à demissão do Parlamento do ex-primeiro-ministro antes de a comissão parlamentar concluir que tinha mentido deliberadamente aos deputados em relação ao seu conhecimento sobre os convívios, continua a ser uma pedra no sapato no caminho dos tories e de Rishi Sunak, actual líder do Governo e que chegou a ser multado por ter participado numa das festas na sede do executivo.

“É terrível”, disse Gove à Sky News, citado pela Reuters. Olhando para as imagens divulgadas pelo Mirror, o ministro acrescentou: “Acho que é completamente sem sentido. Só quero realmente pedir desculpas a toda a gente.”

O vídeo foi filmado em Dezembro de 2020, quando os cidadãos de Londres e de outras zonas de Inglaterra tinham sido proibidos de socializar em recintos fechados para ajudar na prevenção à propagação da covid-19, mas é como se tivesse acontecido noutro tempo. Não há máscaras, nem distanciamento, toda a gente bebe e dança como se nada fosse.

No poder desde 2010, os conservadores estão hoje muito atrás nas sondagens do Partido Trabalhista, que tem quase 20% de vantagem, e as sombras do “Partygate” ameaçam continuar a atormentar o mandato de Sunak até às próximas eleições, previstas para 2024.

Até porque os tories não se cansam dos escândalos e o primeiro-ministro vai ter de enfrentar mais uma eleição intercalar, a quarta, depois do anúncio de outra demissão de um deputado este fim-de-semana.

Desta vez, trata-se de David Warburton, deputado por Somerton e Frome, no Sul de Inglaterra, que apresentou a sua demissão no sábado à noite, depois de ter sido fotografado junto a um tabuleiro com cocaína, de acordo com o Sunday Times, e admitido ao Mail on Sunday que é realmente consumidor.

Warburton está a ser investigado pelo Esquema Independente de Queixas e Reclamações, organismo que no Parlamento lida com casos de assédio, depois de duas mulheres terem apresentado queixa contra ele por comportamento inapropriado.

O que o deputado contou ao Mail on Sunday é que alguém o incriminou depois de ter bebido um “incrivelmente forte” whisky japonês. “Fui incriminado, mas fui ingénuo e extremamente estúpido”, explicou, ao mesmo tempo que reafirmava a sua inocência na questão do assédio.

“Os meus constituintes, que me elegeram, há um ano que estão privados da voz que precisam. É com tristeza que tenho de provocar a convocação de uma eleição suplementar”, disse o deputado ao Mail on Sunday. “Espero que, ao fazê-lo, venha trazer luz sobre os métodos de um sistema desadequado para os seus propósitos.”

A notícia da demissão de Warburton e o vídeo do “Partygate” surgem na véspera de os deputados britânicos votarem, esta segunda-feira, se aprovam ou não as conclusões do relatório da Comissão de Privilégios sobre a investigação a Boris Johnson. Mesmo que se tenha tornado simbólico depois de o ex-primeiro-ministro ter renunciado ao seu mandato, os apoiantes de Johnson já fizeram saber que os conservadores que apoiarem o relatório terão de se haver com uma revolta interna e poderão até acabar por não ser escolhidos como candidatos nas próximas eleições.

À Reuters, Gove afirmou que se vai abster porque, embora considere haver “excelentes” partes no relatório, não concorda com as suas conclusões de que Boris Johnson deveria ter o mandato de deputado suspenso por 90 dias se não se tivesse demitido.

O primeiro-ministro ainda não tinha feito até à escrita deste artigo qualquer comentário sobre o vídeo ou sobre a demissão de Warburton, mas Sean O’Grady, editor executivo do Independent, escreve que esta é mais uma demonstração de que como “o legado do ‘Partygate’ de Johnson” é “prejudicial” para o chefe do Governo e “como é difícil a Rishi Sunak escapar da atracção gravitacional desse buraco negro na nossa história nacional”.

“Ande por onde andar, Sunak dá de caras com algum aspecto do passado que lhe salta à frente como um esqueleto no comboio fantasma”, escreve ainda O’Grady. Além dos problemas hipotecários, da chegada de migrantes por rotas ilegais, da inflação e das greves, o primeiro-ministro vai enfrentar um Verão “de armadilhas que Johnson e os seus amiguinhos deixaram para trás”.

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