A metáfora, a máxima e a dúvida no discurso de Marcelo

A frase mais marcante do discurso presidencial teve que ver com a poda de árvores e ramos mortos.

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Marcelo discursou durante quinze minutos LUSA/JOSÉ COELHO
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Há muitos ângulos por onde olhar para o discurso de quinze minutos que o Presidente da República proferiu nesta quarta-feira no Peso da Régua, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Nós escolhemos uma metáfora, uma máxima e uma dúvida.

A metáfora

O Presidente da República não foi claro quando se referiu, na parte final do seu discurso, à necessidade de "cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda". Mais tarde, sentiu necessidade de negar estar a pensar num "caso específico" e disse tratar-se de uma mensagem de futuro. Mas a imagem cai como uma luva na actual situação do Governo.

Foi, aliás, essa a interpretação feita por Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal. “Se entendermos estes ramos que é preciso cortar como ministros, é verdade que temos o ministro João Galamba que há muito não devia estar no Governo. Há vários ramos deste Governo que não têm condições”, disse, referindo-se em concreto à ministra da Agricultura e o ministro dos Negócios Estrangeiros. Para Rui Rocha, é toda a árvore que contaminada. "Mais do que a poda que o Presidente recomenda, o que precisamos é de uma árvore nova”, defendeu.

Mas a verdade é que o Presidente nada acrescentou que pudesse ajudar a descodificar a ideia de poda. Muito pelo contrário, o contexto em que referiu esse corte de ramos não foi político, teve sim que ver com o Douro. "Darmos de novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos os ramos mortos que atingem a árvore toda. Recriarmos juntos, neste Douro, em todos os nossos Douros, o que faça o nosso futuro muito diferente e muito melhor do que o nosso presente."

A máxima

Quando se referiu ao facto de este ano, pela primeira vez, o 10 de Junho ser "diferente", por não ser celebrado numa sede de distrito ou de diocese, Marcelo Rebelo de Sousa falou um pouco sobre a especificidade da região do Peso da Régua e foi aí que usou a máxima "a união faz a força".

Este 10 Junho une 19 municípios, "como que a dizer que só a união faz a força, a união na diversidade, mas a união em torno daquilo que é mesmo essencial para todos eles" e para todos os portugueses, lembrou o Presidente.

E a seguir destacou que o Douro "será sempre um exemplo da vontade, da persistência, da determinação dos homens e das mulheres perante uma natureza única, mas avassaladora, inclemente, quase indomável".

A dúvida

"Só somos verdadeiramente portugueses na medida em que sempre fomos e somos universais, mas sempre disponíveis para a solidariedade em relação aos outros." Com esta frase, o Presidente lembrou, na Régua, o espírito empreendedor e aventureiro que caracteriza os portugueses há muitos séculos e que nos dá uma lição para o futuro.

"Partimos há mais de seis séculos e nunca deixámos de ir e de vir, de largar e de voltar, por pobreza, por aventura, por desejo de horizontes mais largos, por sobrevivência, algumas vezes, tantas vezes, convertida em realização e de entender, ao mesmo tempo, que temos de receber outros, tal como exigimos que eles nos recebam a nós", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

"Somos 10 milhões cá dentro, mas valemos por muitos mais", lembrou também, para dar conta da influência de Portugal no mundo, com a quinta língua mais falada e a segunda mais usada no digital. Mas, por fim, acrescentou uma dúvida: "De que nos serve a influência externa, se dentro de portas temos problemas por resolver? Se temos mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade?”

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