Há uma petição para proteger “o restaurante” de cinco milhões de aves. Quem apoia?

Local no Atlântico Norte é uma área marinha protegida, mas apenas na superfície. A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves quer aumentar a protecção e pede o apoio dos portugueses para esta causa.

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Para o local convergem, por exemplo, as cagarras da Madeira GettyImages

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) apelou esta segunda-feira a uma maior protecção de uma área no Atlântico Norte usada por cinco milhões de aves marinhas e pediu a participação dos cidadãos numa petição nesse sentido.

Chamando-lhe “o restaurante que as aves portuguesas viajam milhares de quilómetros para visitar”, a SPEA explica, em comunicado, que a área atrai aves marinhas que chegam a fazer 12 mil quilómetros enquanto a parceira está a incubar o ovo.

O “restaurante” em questão chama-se corrente do Atlântico Norte e da bacia do monte submarino Evlanov (NACES, na sigla em inglês) e fica no meio do Atlântico Norte, entre o Reino Unido, o Canadá e a Gronelândia, onde as correntes marinhas convergem, criando condições que tornam o local rico em peixes e lulas, que habitam as zonas profundas do oceano durante o dia e que à noite vêm à superfície.

Aves marinhas equipadas com aparelhos para lhes seguir remotamente os movimentos mostram que as aves viajam milhares de quilómetros para chegar ao local, de alimentação abundante, e que até as cagarras alteram os hábitos, alimentando-se de noite em vez de dia.

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Na semana em que se comemoram o Dia Mundial do Ambiente, esta segunda-feira, e o Dia Mundial dos Oceanos, na quinta-feira, a SPEA “apela aos cidadãos para ajudarem a garantir que este ‘restaurante predilecto’ das aves marinhas recebe a protecção necessária”, diz-se no comunicado.

Para o local convergem, por exemplo, as cagarras da Madeira, que viajam 5000 quilómetros para norte quando deviam estar a migrar para África, estimando-se que usem o local 54 mil cagarras. As cagarras das Selvagens e da Berlenga usam a área sobretudo fora da época de reprodução, sendo que algumas ficam na NACES vários meses, precisa a SPEA.

O local no Atlântico é também visitado pelas cagarras dos Açores, e até por aves mais pequenas, como as almas-negras, freiras-da-madeira e freiras-do-bugio, “que deixam os parceiros no ninho no arquipélago da Madeira e vão ali ao Atlântico Norte alimentar-se, numa das viagens de incubação mais longas do mundo: o máximo registado para a freira-do-bugio foram 12.000 quilómetros”.

A SPEA adianta ainda que para o local convergem também baleias e tubarões e cita um estudo da organização ambientalista BirdLife International (da qual a SPEA é o membro português) que mostrou que a área é usada por mais de cinco milhões de aves marinhas, “a maior concentração de aves alguma vez documentada em alto-mar”.

Pela sua importância para a biodiversidade, a NACES foi em 2021 designada área marinha protegida, mas apenas a superfície.

“O fundo do mar não está incluído na protecção da área. Um risco grave, pois os ecossistemas do fundo do mar são cruciais para a cadeia alimentar de que todas as espécies dependem. Sem protecção legal adequada, corre-se o risco de que o fundo do mar seja alterado ou destruído por actividades humanas como a mineração, desencadeando reacções em cadeia que vão ameaçar espécies até à superfície”, alerta a SPEA.

A associação portuguesa junta-se à internacional BirdLife num apelo aos cidadãos para que assinem uma petição a pedir às autoridades internacionais para que estendam a definição de área marinha protegida ao fundo do mar.

A petição já angariou quase dez mil assinaturas. Está neste endereço.

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