Líder do grupo Wagner pede investigação criminal ao Ministério da Defesa da Rússia

Ievgueni Prigojin volta a desafiar o Kremlin ao requerer que sejam investigados possíveis crimes por parte de altos funcionários do Governo. Shoigu e Guerasimov são os alvos da fúria do mercenário.

Foto
Prigojin quer ser agora conhecido como o "carniceiro de Putin" Reuters/YULIA MOROZOVA
Ouça este artigo
--:--
--:--

Transformado em crítico quase diário da forma como é conduzida a guerra na Ucrânia, o líder do grupo Wagner, Ievgueni Prigojin, lançou nesta quarta-feira o que será, até agora, o seu maior desafio ao Governo russo ao pedir que sejam investigados possíveis crimes cometidos por altos funcionários do Ministério da Defesa.

“Enviei hoje cartas ao Comité de Investigação e ao Ministério Público da Federação Russa com um pedido para verificar o facto da prática de um crime durante a preparação e condução da operação militar especial por uma série de altos funcionários do Ministério da Defesa”, disse Prigojin.

Apesar de não mencionar nomes na sua declaração, os alvos da fúria do mercenário mais poderoso da Rússia serão o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior do Exército russo, Valeri Guerasimov.

Prigojin não se coibiu, nos últimos meses, de criticar –​ e insultar –​ Shoigu e Guerasimov, chegando mesmo a acusá-los de traição. Quer o ministro quer o militar nunca responderam publicamente às críticas do líder do grupo Wagner.

As críticas do líder e fundador do exército privado que tem combatido ao lado da tropa regular da Rússia, principalmente na região de Bakhmut, aumentaram de tom nos últimos meses. No início de Maio, Prigojin causou furor ao anunciar, em mais de uma ocasião, a retirada das suas forças de Bakhmut, em protesto contra a falta de munições. Os mercenários começaram a sair da região a 25 de Maio.

Num vídeo particularmente violento, divulgado a 4 de Maio, Prigojin insultou o ministro da Defesa e o actual comandante das forças russas. Aparecendo rodeado por corpos de soldados do grupo Wagner que, alegava, tinham sido mortos nesse mesmo dia, Prigojin​ dirigiu-se à câmara muito irritado e a gritar.

“Faltam-nos munições! Setenta por cento! Shoigu! Guerasimov! Onde estão a porra das munições?”, disse a dado momento, interpelando directamente o ministro e o mais alto responsável militar russo, a quem chamou, entre outras coisas, “cabrões”.

Depois de ter dito recentemente que, em vez de ser apelidado de “chef de Putin” –​ alcunha que ganhou pelos contratos de catering com o Kremlin –,​ deveria antes ser conhecido como o “carniceiro de Putin”, Prigojin afirmou já esta semana que continua a informar a liderança da Rússia sobre os problemas da “operação militar especial”, reafirmando ainda a sua lealdade ao Presidente Vladimir Putin.

“Amo a minha pátria, sirvo Putin, Shoigu deve ser julgado e continuaremos a lutar”, afirmou o líder do grupo Wagner, que, na semana passada, pediu a imposição da lei marcial na Rússia como medida para evitar uma revolução.

“Estamos numa condição tal que podemos perder a Rússia”, disse Prigojin.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários