Sondagem coloca candidato da oposição à beira de derrotar Erdogan à primeira volta

Números entusiasmam opositores, principalmente com a desistência de Muharrem Ince, candidato que dispersava os votos nos partidos que se opõem ao Presidente turco.

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Kemal Kiliçdaroglu ficou um pouco mais perto de poder vencer já no domingo SEDAT SUNA/EPA
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Entre as dezenas de sondagens disponíveis na Turquia, poucas são consideradas fiáveis. Os dados do instituto Konda são particularmente respeitados e, por isso, a sua sondagem é sempre muito aguardada: divulgada esta quinta-feira, atribui ao principal candidato da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, 49,3% dos votos, a escassas décimas de uma vitória à primeira volta, já no domingo. Num agitado antepenúltimo dia de campanha, seguiu-se um anúncio que pode mudar a história das presidenciais, com a desistência de Muharrem Ince, que surgia com 2,2% e disputava eleitores com Kiliçdaroglu.

Atrás de Kiliçdaroglu, o Presidente Recep Rayyip Erdogan, há 20 anos no poder, obtém 43,7% – em média, as últimas sondagens têm colocado Kiliçdaroglu 5% à frente de Erdogan e são escassas as que atribuem o primeiro lugar ao chefe de Estado.

Kiliçdaroglu é o presidente do CHP (Partido Republicano do Povo, centro-esquerda, kemalista e laico) e lidera a Aliança das Nações, uma coligação de seis partidos bastante diferentes, unidos com o objectivo de derrotar o Presidente. Erdogan, líder do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento, conservador-islamista), que venceu todas as eleições gerais desde que foi fundado em 2001, encabeça a Aliança do Povo, que junta o seu partido à extrema-direita do MHP (Partido do Movimento Nacionalista).

Atrás dos dois políticos que disputam a presidência, aparece Sinan Ogan, antigo académico que fundou o centro de estudos Türksam, em Ancara, antes de ser eleito deputado pelo MHP (e de falhar a corrida para liderar este partido), que obtém 4,8%.

Ince, que em 2018 foi o candidato do CHP contra Erdogan e obteve 31%, lidera agora o Partido da Pátria (MP, que fundou em 2021). Há um mês, a sondagem do Konda atribuía-lhe 10% e os gráficos mostram-no ao perder força à medida que Kiliçdaroglu crescia. De acordo com o instituto, a maioria dos apoiantes de Ince e de Ogan tendem a votar em Kiliçdaroglu se houver uma segunda volta.

Ince não disse em quem votará – mas os votos que reunia eram a maior garantia de que Erdogan passaria a uma segunda volta e a sua desistência só pode beneficiar Kiliçdaroglu.

“Não tenho medo de conspirações, edições falsas de vídeos, facturas e jipes não existentes”, afirmou Ince, desmentindo assim as acusações de que estaria a trabalhar com Erdogan para impedir a eleição de Kiliçdaroglu. “Retiro a minha candidatura. Faço-o pelo meu país”, afirmou, numa conferência de imprensa.

Sem indicar o seu apoio a outro candidato, apelou ao voto no seu partido para as eleições legislativas, que se realizam em simultâneo com as presidenciais e onde o AKP espera vencer. “O Partido da Pátria é importante para o futuro da Turquia. Tem de estar no Parlamento”, defendeu.

Ince deixou ainda um recado às formações que integram a Aliança das Nações: “Quando eles perderem as eleições vão-nos responsabilizar. Agora já não devem ter desculpas".

“A possibilidade de uma vitória de Kiliçdaroglu aumentou com a saía de Ince. Não ficaria surpreendido se ele tivesse 51%”, disse o director do Konda, Bekir Agirdir, ouvido pelo jornal digital turco T24.

“Veremos o que vai fazer Sinan Ogan”, escreve no Twitter o jornalista e escritor turco Yavuz Baydar. A campanha na Turquia só acaba no sábado à noite.

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