Os candidatos com que a oposição turca está a abanar o trono do sultão

A vida de Erdogan não é facilitada desta vez pelo elenco de candidatos à presidência.

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O principal candidato da oposião, Murrahem Ince, juntou milhões de pessoas num comício em Istambul na sexta-feira Osman Orsal/REUTERS

Meral Aksener – a ‘Dama de Ferro’ baralha o voto conservador

Rompeu com o MHP, fundou um novo partido nacionalista e está decidida a roubar votos a Erdogan.

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A nacionalista Aksener Alkis Konstantinidis/REUTERS

O mais recente partido nacionalista da Turquia não tem mais de dez meses, mas a sua líder, Meral Aksener, é uma das mais experientes políticas do país. Aos 61 anos, a antiga deputada, ministra do Interior e vice-presidente do Parlamento turco, com passado no DYP e no MHP, prepara-se para baralhar as contas nas presidenciais deste domingo.

Conhecida por ‘Dama de Ferro’, ‘Mãe Meral’ ou ‘Asena’ – uma loba azul lendária na região da actual Turquia –, Aksener abandonou o MHP quando o partido abriu os braços a Recep Tayyip Erdogan e ao AKP, e fundou o IYI, uma força política nacionalista e secularista.

Em terceiro lugar nas sondagens, a ex-professora universitária, doutorada em História, dificilmente disputará o posto com o actual Presidente. Mas esta neta de imigrantes gregos e muçulmana devota já está a causar impacto nos números de Erdogan – a quem acusa de querer transformar a Turquia numa “ditadura de um só homem”. Está a receber apoios de uma fatia do eleitorado conservador descontente com a deriva islamista e autoritária do AKP.

E num país tradicionalmente liderado por homens, o ser mulher vem ampliar o impacto disruptivo da candidata do IYI: “A Turquia é governada há muito tempo por um homem muito cruel. Está na altura de eles, os homens no poder, sentirem medo”, desafia Aksener.

Muharrem Ince – o candidato inesperado que ameaça Erdogan

O Presidente esperava competir com o Kemal Kiliçdaroglu, mas o CHP, partido de centro-esquerda que defende a herança securalista de Attaturk, o fundador da Turquia moderna, apresentou a candidatura do carismático Murrahem Ince, que aspira à segunda volta.

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Murrahem Ince, do CHP SEDAT SUNA/EPA

Quando decidiu adiantar em quase um ano e meio as presidenciais, Recep Tayyip Erdogan tinha tudo programado. Disputaria a eleição com desgastado Kemal Kiliçdaroglu, e resolveria o assunto logo na primeira volta. Mas o CHP trocou-lhe as voltas e ao invés de apresentar o líder do partido, decidiu-se pelo energético Muharrem Ince.

Com as sondagens a colocarem o Presidente abaixo dos 50% e o ex-professor de Física perto dos 30%, o cenário de uma segunda volta começa a ganhar corpo. E a entusiasmar cada vez mais eleitores do partido secularista.

Criticando Erdogan por ter criado uma “sociedade de medo” na Turquia, prometendo recuperar a economia e assegurando que vai devolver as liberdades individuais retiradas pelo AKP, Ince, de 54 anos, não é fácil de abater.

“Ele não pertence à elite, é um rapaz de aldeia, que sabe conduzir um tractor. E a sua mãe usa véu”, disse ao Politico Asli Aydintasbas, investigador do European Council for Foreign Relations. “Não pode, por isso, ser rotulado de secularista da linha dura. É muito difícil para Erdogan atacá-lo.”

Selahattin Demirtas – um curdo em campanha numa cela

Antigo co-líder do HDP está preso desde Novembro de 2016, mas o partido confia nele para a disputa presidencial.

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Selahatin Demirtas, o líder curdo preso SEDAT SUNA/EPA

Foi com Selahattin Demirtas na liderança conjunta do HDP – ao lado de Figen Yuksekdag – que o partido pró-curdo conseguiu lugares no Parlamento pela primeira vez (2015) e entrar no grande jogo político turco. Na hora de escolher o seu candidato presidencial, o HDP não hesitou, por isso, em apontar o nome do advogado e defensor dos direitos humanos, de 45 anos. O facto de estar preso há 20 meses é apenas um pormenor.

Detido em Novembro de 2016 e acusado de divulgação de propaganda terrorista e de ligações ao braço político da guerrilha separatista do Curdistão, o PKK, Demirtas tem sido um dos alvos da onda de repressão liderada por Recep Tayyip Erdogan, desde o fracassado golpe de Estado de 2016.

Em quarto lugar nas sondagens, Demirtas é um dos candidatos mais ouvidos pelo eleitorado jovem, pela esquerda turca e pelos mais de 15 milhões de curdos que vivem na Turquia.

Promete devolver ao Parlamento os poderes que Erdogan lhe retirou e não tem dúvidas sobre a natureza da sua detenção: “Todos os candidatos defendem que deveria ser libertado. Deixam de lado as divergências ideológicas por que sabem que o Governo me mantém preso para o seu próprio proveito e não por qualquer crime que tenha cometido”, escreveu num artigo de opinião publicado no New York Times.

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