Ao fim de 18 meses, preços dos alimentos pararam de subir em Abril

Ainda antes da eliminação do IVA em 46 bens essenciais, os preços dos alimentos em Abril deixaram de subir. Contudo, a inflação homóloga destes produtos continua acima de 15%.

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Preços dos alimentos têm contribuído para a escalada da inflação Marisa Cardoso
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Ao fim de 18 meses consecutivos de subidas, os preços dos alimentos em Portugal registaram em Abril a sua primeira descida. Um recuo muito ligeiro dos preços, de apenas 0,1%, que ocorreu, na sua grande maioria, antes da introdução do IVA zero nos bens alimentares essenciais.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou esta quinta-feira que os preços dos bens e serviços em Portugal registaram, durante o passado mês de Abril, uma subida de 0,6%, o que permitiu que a taxa de inflação homóloga em Portugal diminuísse de 7,4% em Março para 5,7% em Abril.

Estes dados tinham sido apresentados na estimativa rápida publicada pelo INE no final de Abril e revelam, no cálculo da inflação homóloga, o elevado efeito base registado em Abril. Nesse mês do ano passado, devido ao início da guerra na Ucrânia, os preços tinham subido de forma muito acentuada e isso reflecte-se agora numa descida, em Abril deste ano, da taxa de variação face ao mesmo mês do ano passado.

De qualquer forma, são também evidentes os sinais de recuos dos preços de alguns bens depois de vários meses consecutivos de fortes subidas. E a principal novidade, em Abril, surgiu nos bens alimentares, cujos preços registaram uma variação mensal negativa de 0,1%.

O recuo muito ligeiro é o primeiro desde Setembro de 2021. Os bens alimentares tinham vindo a dar, nos 18 meses anteriores, um dos principais contributos para a inflação alta que se tem vindo a registar em Portugal. Aliás, a descida agora registada não impede que, em termos homólogos, a variação dos preços dos alimentos continue a ser muito elevada. Entre Abril de 2022 e Abril de 2023, os alimentos tornaram-se 15,5% mais caros. Mesmo assim, esta variação homóloga regista um abrandamento face aos 20% registados em Março.

A evolução é diferente consoante o tipo de alimentos. De acordo com os dados do INE, a maior descida de preços mensal ocorreu nos produtos hortícolas, com uma variação negativa de 4,4%. Descidas mais moderadas ocorreram nas frutas (-0,5%) e no leite, queijo e ovos (-0,2%). Já na carne (1,5%), no açúcar (0,6%) e no peixe (0,3%), os preços voltaram a subir.

Em todos os casos, contudo, quando a comparação é feita com aquilo que acontecia há um ano, os agravamentos de preços continuam a ser notórios. A inflação homóloga dos produtos hortícolas passou de 35,4% em Março para 24% em Abril.

O INE assinala igualmente que os dados obtidos em Abril não levam ainda em conta grande parte do efeito que a introdução de um IVA zero nos bens considerados essenciais possa vir a ter. “Importa referir que a grande maioria dos preços considerados no apuramento do Índice de Preços no Consumidor [IPC] de Abril foram recolhidos antes da entrada em vigor da isenção de IVA num conjunto de bens alimentares essenciais, pelo que os eventuais efeitos desta medida só terão efectivamente impacto no IPC em Maio”, diz o INE.

Também os produtos energéticos continuaram a revelar um recuo importante, semelhante ao registado já nos meses anteriores. De acordo com o INE, os preços destes bens, que incluem a electricidade e os combustíveis, caíram 3,2% em Abril, com a variação face ao mesmo mês do ano passado a ser já claramente negativa, de -12,7%.

No sentido inverso, a classe de bens e serviços onde se assistiu, durante o mês de Abril, a uma maior aceleração dos preços foi a dos restaurantes e hotéis. Aqui, os preços subiram 4,1% entre Março e Abril, a variação mais acentuada desde Abril do ano passado e que foi responsabilidade, quase inteiramente, dos serviços de alojamento (que incluem hotéis e alojamento local) e cujos preços aumentaram 23% face a Março. Em termos homólogos, a variação dos preços dos serviços de alojamento passou de 23,5% em Março para 25% em Abril, ganhando um papel cada vez mais expressivo na manutenção de uma inflação elevada no país.

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