Jameela Jamil acusa Met Gala de homenagear “um conhecido preconceituoso”

Actriz recorda, em publicação nas redes sociais, como Karl Lagerfeld era “publicamente cruel com mulheres, pessoas gordas, imigrantes e sobreviventes de agressão sexual”.

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O designer alemão Karl Lagerfeld, no final do seu desfile de Alta Costura Primavera-Verão 2012 para a casa de moda francesa Chanel, em Paris, a 24 de Janeiro de 2012 Reuters/BENOIT TESSIER/arquivo

A actriz britânica Jameela Jamil acusou quem escolheu compactuar com a homenagem tecida a Karl Lagerfeld, designer que reergueu a Chanel e que morreu em 2019, durante a Met Gala, que decorreu nesta segunda-feira, apontando o dedo às “muitas feministas famosas”, que “escolheram celebrar ao mais alto nível um homem que era tão publicamente cruel com mulheres, pessoas gordas, imigrantes e sobreviventes de agressão sexual”.

Para a também activista, que criou um movimento para “olharmos para além da carne nos nossos ossos”, a noite de segunda-feira revelou “como a cultura do cancelamento é selectiva na política liberal”, conseguindo separar a arte do artista quando lhe é “conveniente”, mas também mostrando que “há uma regra para nós e outra regra para todos os outros”.

Ao longo da sua carreira, Lagerfeld foi acusado de misoginia e de criticar as mulheres que apontam o dedo à magreza das modelos. À revista alemã Focus, em 2009, assegurou que “ninguém quer ver mulheres curvilíneas”. Noutra altura, culpou as pessoas gordas pelos males da sociedade: “O buraco na segurança social também se deve a todas as doenças contraídas por pessoas demasiado gordas”. E, quando questionado pelo Channel 4, em 2012, se devia contratar modelos que não aparentassem estar abaixo do peso saudável, argumentou: “Há menos de um por cento de raparigas anorécticas. Mas há — em França, não sei se em Inglaterra — mais de 30% de raparigas grandes, grandes, com excesso de peso. E isso é muito mais perigoso e muito mau para a saúde.”

No capítulo da imigração, Lagerfeld era um acérrimo crítico. Em 2017, quando a então chanceler alemã Angela Merkel decidiu aceitar refugiados no país, o designer foi a um programa da televisão francesa dizer que “não se pode matar milhões de judeus (numa alusão ao Holocausto) para que se possa trazer milhões dos seus piores inimigos para o seu lugar”. E avaliou que a chegada dos refugiados iria aumentar o sentimento contra estrangeiros na Alemanha.

E quando as vozes femininas se juntaram no movimento #MeToo, Lanferfeld foi peremptório: “Se não queres que te puxem as calças, não te tornes modelo! Junta-te a um convento, haverá sempre um lugar para ti no convento", disse à Numéro em 2018, depois de três manequins o terem acusado de assédio sexual.

Apesar de Jameela Jamil tecer uma acusação a todos os que se apresentaram na Met Gala, houve quem escolhesse comparecer para deixar bem claro não querer homenagear o designer. Foi o caso de Lizzo, que publicou no seu Instagram uma fotografia sua com um Chanel e a deliciar-se com batatas fritas, numa clara provocação que recorda uma das famosas frases do designer: “Ninguém quer ver modelos gordas. São as múmias gordas, sentadas com os seus sacos de batatas fritas em frente à televisão, que dizem que as modelos magras são feias.”

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