Polícia suspeita que certificado de vacinação de Bolsonaro tenha sido falseado

Casa do ex-Presidente em Brasília foi alvo de buscas esta manhã e foram feitas seis detenções de militares do seu círculo próximo. Bolsonaro garante que não tomou a vacina contra a covid-19.

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Jair Bolsonaro defendeu posições contrárias à vacinação contra a covid-19 Reuters/CARLA CARNIEL

A Polícia Federal (PF) brasileira fez buscas na manhã desta quarta-feira na casa do ex-Presidente Jair Bolsonaro, em Brasília, e deteve vários membros da sua equipa de segurança. Em causa estão as investigações sobre um esquema de prestação de dados falsos sobre a vacinação contra a covid-19.

Ao todo, os agentes da PF cumpriram 16 mandados de busca e apreensão e fizeram seis detenções. Entre os presos está o tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante o seu mandato presidencial, um cargo de muita proximidade com o chefe de Estado.

Foram também detidos o polícia Max Guilherme e o militar Sérgio Cordeiro, ambos pertencentes ao serviço de segurança pessoal de Bolsonaro durante o mandato presidencial.

Estava previsto que Bolsonaro fosse chamado a depor ainda esta quarta-feira, mas a defesa do ex-Presidente pediu o adiamento do interrogatório para ter acesso ao processo. O seu telemóvel foi apreendido pela PF, diz o site de notícias UOL.

A investigação tenta averiguar o funcionamento de um alegado esquema de falseamento dos registos de vacinação, através do fornecimento de dados incorrectos nos sistemas do Ministério da Saúde. O objectivo, segundo a PF, era permitir a emissão de certificados de vacinação para que pessoas que não receberam a vacina contra a covid-19 pudessem viajar livremente.

Entre os beneficiários desse esquema ilegal estão, de acordo com a TV Globo, o próprio Bolsonaro e a filha mais nova, Laura, de 12 anos, bem como Barbosa, a mulher e a filha, e ainda um deputado federal. A polícia acredita que os dados falsos terão sido introduzidos entre Novembro de 2021 e Dezembro do ano passado e terão sido usados para que Bolsonaro e a sua comitiva pudessem viajar para a Florida, nos últimos dias do seu mandato, onde permaneceu até ao final de Março.

O objectivo do grupo que falseou os registos seria, segundo a PF, "manter coeso o elemento identitário em relação às suas pautas ideológicas" e "sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a covid-19".

Os crimes investigados pela PF no âmbito destas acções incluem infracção de medidas sanitárias, associação criminosa, introdução de dados falsos e corrupção de menores.

Já depois da operação policial, Bolsonaro negou qualquer irregularidade e garantiu que nunca foi vacinado contra a covid-19. "Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha parte", afirmou o ex-Presidente, em declarações à saída de sua casa em Brasília. Bolsonaro disse ainda que a decisão de não tomar a vacina foi "pessoal", confirmando que a filha mais nova também não recebeu o imunizante.

Enquanto era Presidente, Bolsonaro manifestou publicamente várias dúvidas, cientificamente infundadas, quanto à segurança e eficácia das vacinas contra a covid-19 e o seu Governo foi acusado de ter atrasado o processo de compra de imunizantes. Apesar de vários pedidos, o ex-Presidente nunca revelou publicamente o seu boletim de vacinas nem foi visto a receber a vacina contra a covid-19, ao contrário de grande parte dos políticos brasileiros.

Em Fevereiro, a Controladoria-Geral da União, uma entidade de controlo e supervisão das agências públicas, confirmou a existência de um registo de vacinação que comprovava a administração do imunizante a Bolsonaro. No entanto, persistiram as dúvidas de que esse boletim poderia ter sido introduzido no sistema do Ministério da Saúde de forma irregular e que o ex-Presidente nunca tivesse sido vacinado.

Segundo o documento, Bolsonaro teria sido vacinado em Maio de 2021, poucas semanas antes de viajar para os EUA, que na altura exigia a apresentação de certificado de vacinação, para participar numa cimeira.

Desde que terminou o seu mandato presidencial, a 31 de Dezembro do ano passado, Bolsonaro deixou de gozar de imunidade judicial, podendo ser julgado por qualquer tribunal de primeira instância e, se as autoridades considerarem haver perigo de fuga, até pode ser detido preventivamente.

A investigação ao alegado falseamento dos registos de vacinas conhecida esta quarta-feira soma-se a vários outros casos judiciais que envolvem o ex-Presidente, como o das jóias sauditas, as acusações de genocídio contra povos indígenas e a possível participação como instigador dos actos violentos em Brasília a 8 de Janeiro. Bolsonaro corre ainda o risco de poder vir a perder os seus direitos políticos por causa de vários casos que estão a correr na justiça eleitoral.

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