Paletes de bananas escondiam cocaína avaliada em cerca de 130 milhões de euros

Carregamento chegou ao porto de Setúbal vindo da Colômbia no dia 27 de Abril. A PJ apreendeu a droga em dois armazéns, um na Azambuja e outro em Alverca. Droga pertenceria ao cartel clã do Golfo.

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Polícia Judiciária apreendeu cerca de 4,2 toneladas de cocaína com origem na América Latina FILIPE AMORIM/Lusa

Cerca de 130 milhões de euros. Este é o valor estimado para as 4,2 toneladas de cocaína apreendidas pela Polícia Judiciária (PJ), um valor que tem em conta o elevado grau de pureza do produto.

Em declarações ao PÚBLICO, Vítor Ananias, coordenador de investigação criminal da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ, que classificou esta apreensão como "uma das mais elevadas dos últimos anos" em Portugal, explicou que a droga chegou ao porto de Setúbal dissimulada em seis paletes de bananas provenientes da Colômbia.

Porém, a apreensão do produto já foi feita fora da zona portuária. Ao que tudo indica, foram importadas, pela mesma empresa, mil paletes de bananas que foram depois transportadas em camiões para dois armazéns de retalho, um em Alverca e outro na Azambuja, onde a PJ acabou por efectuar a apreensão da cocaína.

O que se sabe para já é que esta droga pertenceria ao cartel clã do Golfo, uma organização paramilitar na Colômbia envolvida no narcotráfico e no conflito armado que ocorre no país, que o destino seria a distribuição para a Europa e que não houve detidos.

A investigação que está a ser levada a cabo pela PJ poderá permitir tirar mais conclusões, sustenta Vítor Ananias, sublinhando que “a relevância desta apreensão centra-se na quantidade apreendida", uma vez que estão em causa "valores significativamente elevados para as organizações movimentarem de uma só vez do outro lado do Atlântico para a zona da Europa”.

De acordo com o mesmo responsável, a PJ conseguiu com esta operação infligir “um rude golpe financeiro” nas organizações criminosas envolvidas. Vítor Ananias destacou ainda a "intensa actividade de recolha de informação" desenvolvida pela PJ em estreita articulação com as diversas entidades nacionais e internacionais.

Segundo o jornal Narcodiário, Iván Velásquez, ministro de Defesa da Colômbia, disse que a droga terá chegado ao Porto de Setúbal no dia 27 de Abril e que saiu de um porto do Golfo de Urabá, conhecido por ser um território dominado pelo clã do Golfo.

Esta não é a primeira vez que foi noticiada uma grande apreensão de droga no porto de Setúbal. Já no ano passado, em Junho, as autoridades efectuaram a apreensão de 8.135 toneladas de cocaína que vinham dissimuladas num grande número de paletes de bananas transportadas nos porões de três navios.

Aliás, segundo dados do relatório anual do Combate ao Tráfico de Estupefacientes em Portugal, no ano passado, as quantidades de cocaína apreendidas atingiram o valor de 16.533,21 kg, registando-se um aumento de 65% face a 2021, ano em que foram apreendidos um total de 10.023,07 kg.

Da totalidade da cocaína apreendida, a PJ foi responsável por 78,9% das apreensões, seguindo-se a Autoridade Tributária com 20,2%, correspondendo a 13.048,73 kg e 3331,80 kg, respectivamente. Estas duas entidades foram responsáveis, em conjunto, por 99,1% de toda a cocaína apreendida da em Portugal em 2022.

Via marítima predomina

De acordo com o mesmo relatório, publicado em Março na página da PJ na internet, a via marítima continua a ser a mais utilizada no transporte de grandes quantidades de cocaína, correspondendo a 88,1% do total de quantidades apreendidas.

O mesmo relatório sublinha que, tal como em anos anteriores, também em 2022 se manteve a tendência, “de utilização do território nacional por parte de estruturas criminosas dedicadas ao tráfico internacional de cocaína, tanto como ponto de destino daquele tipo de estupefacientes, quanto como de trânsito na entrada de quantidades bastantes relevantes de produto estupefaciente no mercado europeu”.

O relatório identifica ainda três países da América do Sul e um das Caraíbas como principais pontos de origem da cocaína apreendida em Portugal. Ao contrário dos anos anteriores, em 2022 o Brasil não surge como principal país de origem da cocaína, perdendo essa posição para a Colômbia, a qual surge associada a 49,7% (8.215,17 kg) de toda a cocaína apreendida. Segue-se o Brasil com 22,8% (3.772,75 kg), São Vicente e Granadines com 8,9% (1478,83 kg) e o Suriname com 7,4% (1231,29 kg).

Nas rotas detectadas, Portugal está identificado como destino de 94,7% das quantidades apreendidas (15.659,24 kg) em 154 casos, sendo plausível deduzir que uma parte muito expressiva destas apreensões seria destinada a outros países europeus, conclui o documento, sublinhando que em segundo e terceiro lugar surgem como destino da cocaína apreendida Espanha (112,72 kg e 10 casos) e França (24,95 kg e 15 casos).

Através do relatório anual do Combate ao Tráfico de Estupefacientes em Portugal também ficamos a saber que o grama de cocaína, no ano passado, estava mais barato. “Apurou-se um preço médio de 30,02 euros o grama, uma diminuição de 11,5% face aos valores de 2021 (33,90 euros)”, lê-se no documento que sublinha que esta informação foi “prestada pelos intervenientes, que mencionam o valor que pagaram pelo produto estupefaciente apreendido” e que por esse facto, “os mesmos devem ser somente entendidos como dados meramente indicativos”.

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