Cuba cancela desfile do 1.º de Maio em Havana

É a primeira vez que a manifestação é cancelada por razões económicas. O principal motivo é a escassez de combustível na ilha.

Foto
Há registo de longas filas nos postos de combustível em Havana Reuters/ALEXANDRE MENEGHINI

O grande desfile do 1.º de Maio em Havana, promovido pelo Governo cubano durante décadas como a maior demonstração de apoio popular à revolução de 1959, foi cancelado este ano, à última hora, devido à escassez de combustíveis na ilha.

Na segunda-feira, o Dia do Trabalhador vai ser assinalado com marchas de pequenas dimensões nos vários municípios da ilha, para que os cubanos se possam deslocar a pé para os locais das comemorações.

No passado, centenas de milhares de pessoas reuniam-se na capital de Cuba, todos os anos, para desfilarem em direcção à famosa Praça da Revolução, com os manifestantes a chegarem a Havana de todo o país em autocarros disponibilizados pelo Governo.

É a primeira vez, desde 1959, que o desfile do 1.º de Maio em Havana é cancelado por razões económicas. A marcha foi suspensa em 2020 e em 2021, por causa da pandemia, mas regressou em 2022, numa altura em que já se sentia o início da actual crise de combustíveis.

Citado pelo jornal espanhol El País, o secretário-geral do único sindicato dos trabalhadores de Cuba, Ulises Guilarte, confirmou que o cancelamento “foi ditado pela situação dos combustíveis”.

Segundo o Governo cubano, o país está a receber apenas dois terços do petróleo necessário, após cortes nas exportações dos fornecedores estrangeiros, que também estão a atravessar “uma situação energética complexa”, disse o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel.

A explicação da quebra nas exportações dos fornecedores é vista como uma referência indirecta à Venezuela.

Segundo Jorge Piñon, professor na Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos — onde lidera o programa de Energia e Ambiente na América Latina e nas Caraíbas —, Cuba é vítima da queda de 50% nas exportações de petróleo da Venezuela na última década.

Ao mesmo tempo, um antigo acordo entre os dois países para a troca de petróleo venezuelano por médicos e professores cubanos deixou de ser uma mais-valia para Caracas.

“Nas últimas duas décadas, a Venezuela tem perdido receitas por não vender esse petróleo [exportado para Cuba] nos mercados internacionais. Penso que chegaram a um ponto em que já não conseguem ceder petróleo aos cubanos”, disse Piñon ao jornal britânico The Guardian.

Segundo o El País, o desfile foi cancelado depois de protestos nas redes sociais, com parte da população a criticar os gastos num país onde a venda de gasolina já começou a ser racionada, e onde as pessoas têm de permanecer durante dias em filas nos postos de combustível.

Sugerir correcção
Ler 16 comentários