O Tottenham continua sem comer na “mesa dos adultos”

Para muitos, o problema do Tottenham não era ter de fazer um pós-Pochettino, em 2019, mas por que motivo fazê-lo. O argentino é a solução? Provavelmente será, mas não para o clube.

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Cristian Stellini, ex-treinador do Chelsea Reuters/MATTHEW CHILDS

Um grande estádio – que é também um estádio grande –, um bom centro de treinos, bolsos bem abertos ao gasto e treinadores como José Mourinho e Antonio Conte para guiarem um clube que se tem prestado a comer na “mesa dos grandes” – na Superliga europeia não pôde fazê-lo, mas tentou, e no futebol jogado também não, com quatro anos de marcha-atrás.

Nesta segunda-feira, o Tottenham despediu mais um treinador. Cristian Stellini já não é quem comanda o barco e o clube voltou a provar que o passo em frente que queria dar no pós-Pochettino ainda não era um passo bem medido. Para muitos, o problema não era ter de fazer um pós-Pochettino, mas sim por que motivo fazê-lo menos de seis meses depois de uma final da Champions.

Quatro anos depois, a "mesa dos grandes" continua vedada a um clube à deriva. A 26 de Março saiu Antonio Conte, treinador pago com um salário principesco para não ganhar nada – e algo está mal quando um técnico como Conte, com “toque de Midas” em quase todo o lado, falha redondamente. Há poucos dias, saiu Fabio Paratici, director-desportivo contratado em 2021 como mágico que iria colocar tudo nos eixos e que sai sob a penumbra de casos de polícia em Itália.

Mas o desvario não ficou por aqui. Nesta segunda-feira, saiu Stellini, que tinha sido escolhido para “segurar as pontas” no pós-Conte – algo que muitos consideraram arriscado, porque ainda havia muito em jogo a 26 de Março, quando a decisão foi tomada.

Agora, a escolha é Ryan Mason, ex-jogador do clube, que também já tinha sido “bombeiro” noutros tempos. Depois da humilhante derrota frente ao Newcastle, por 6-1, Daniel Levy quis abanar a equipa e colocá-la nas mãos de alguém que já fez parte daquele balneário e poderá saber como reagrupar o plantel – embora a competência técnica seja uma incógnita tão grande como era a de Stellini.

E a época está longe de ser uma “via-sacra” até ao final. O Tottenham ainda pode chegar a um lugar de apuramento para a Liga dos Campeões, embora esse desejo seja pouco mais do que utópico, mas tem equipas como Aston Villa, Liverpool e Brighton prontas para “assaltarem” o lugar de apuramento para a Liga Europa que, por enquanto, ainda pertence ao Tottenham.

Chelsea, és tu?

Tudo isto traz um ligeiro travo a Chelsea. Vejamos: começar a temporada com um treinador, despedi-lo, trocá-lo por uma aposta de risco, substituí-lo também e entregar-se, por fim, a alguém que conduza o barco bem devagar até à costa, sem aventuras, apenas com a ideia de não o afundar.

Apesar das diferenças no tipo de treinador escolhido, é isto que se tem passado nas temporadas do Tottenham e do Chelsea, com os “spurs” a irem, tal como os companheiros londrinos, para o terceiro técnico em 2022-23.

Tal como o Chelsea, o Tottenham conseguiu recentemente um aumento de capital para o clube e gastou algum dele em jogadores que não cumpriram a expectativa – Richarlison, Romero, Bissouma ou Porro, por exemplo.

Depois, os “blues”, com um dono sedento de provar competência, têm um plantel com muito talento jovem – até demasiado –, enquanto o Tottenham, com um elenco bem mais envelhecido, tem Son a acabar contrato em 2025 e Harry Kane em 2024. Isto significa que, por motivos diferentes, ambos têm pressa para ganhar.

Apesar de todos estes pontos comuns há duas diferenças entre os clubes. Uma é que, apesar do desvario desta temporada, Daniel Levy não é conhecido por ser um “coveiro” para os treinadores que contrata. Sim, já teve muitos, mas está longe de ter a aura que já vem sendo construída por Todd Boehly no Chelsea.

A outra é que em qualquer dos estádios já se ouviram assobios à própria equipa, mas, no caso do Tottenham, com uma especial pressão popular à direcção – “honra” que, é certo, Todd Boehly, no Chelsea, também se tem esforçado por conquistar em breve.

Mas a pressão dos adeptos do Tottenham tem uma cara: Mauricio Pochettino, cujo nome já foi cantado nas bancadas. O argentino é a solução? Segundo a imprensa britânica, deverá mesmo ser – mas para o Chelsea, que vai contratá-lo para 2023-24.

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