Depois de sacudir políticos populistas, Montenegro passeou com vereadora polémica

Suzana Garcia, a vereadora que já defendeu a castração química de pedófilos e foi elogiada por André Ventura, esteve ao lado do líder do PSD na Brandoa. Mas o tema era o “efeito simbólico” do IVA 0%.

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Luis Montenegro no mercado da Brandoa com Suzana Garcia ao lado Maria Abranches
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Luis Montenegro encheu um saco de compras e conversou com os comerciantes sobre a questão do IVA a 0% Daniel Rocha
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O PSD cumpre no distrito de Lisboa mais uma jornada do "Sentir Portugal" Daniel Rocha
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Luís Montenegro almoçou cachupa na Cova da Moura Daniel Rocha

Numa altura em que o PSD de Luís Montenegro se distancia, pela primeira vez, do Chega, o líder do partido apresentou-se na manhã desta terça-feira, publicamente, com Suzana Garcia, a vereadora social-democrata cujas posições políticas — entre as quais a defesa da castração química de pedófilos — já lhe valeram elogios públicos de André Ventura.

Na passada semana, Luís Montenegro garantiu, em entrevista à CNN, que rejeitaria o apoio de “políticos ou políticas racistas, xenófobos, que tenham posições populistas altamente demagógicas” – referindo-se ao Chega e respondendo, assim, ao repto de clarificação do Presidente da República.

Todavia, esta terça-feira, no âmbito do Sentir Portugal — que visitou o Mercado da Brandoa, na Amadora —, Luís Montenegro foi acompanhado por uma vereadora social-democrata nessa autarquia conhecida pelas suas posições populistas.

Questionado pelo PÚBLICO sobre a sua companhia, Luís Montenegro afirmou que estava “com dirigentes e autarcas do PSD” com “todo o gosto e respeito pelos valores e princípios do PSD”. “Estou em casa”, concluiu.

Suzana Garcia foi a candidata do PSD nas autárquicas de 2021, sendo agora vereadora sem pelouro desse executivo camarário. Marcava presença no programa da TVI Você na TV, onde comentava assuntos do foro criminal. Aí, não só defendeu a castração química de pedófilos como até admitiu que a castração física não a repugnava. “Também não me repugna, se o povo decidir [através de referendo] que é a [castração] física que tem de ser”, disse então.

É também associada a posições racistas e xenófobas. Entre os motivos para tal está o facto de ter chamado a Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, “traidor da pátria”.

Colhe a simpatia pública de André Ventura. Em Março de 2021 — altura em que o seu nome foi avançado pelo PSD para a corrida autárquica à Amadora — André Ventura, líder do Chega, elogiou publicamente a escolha do nome da advogada.

“José Dias [candidato do Chega à Amadora] e Susana Garcia são dois excelentes nomes para a Amadora. Espero que vença o José Dias, mas a escolha de Susana Garcia pelo PSD é um dado digno de registo”, escreveu então no Twitter.

E se, por um lado, na manhã desta terça-feira, Luís Montenegro recolheu alguns sorrisos e simpatia no Mercado da Brandoa, Suzana Garcia, apesar de tratar os cidadãos por “meu querido” e “minha querida”, viu algumas das gerberas que ia distribuindo serem-lhe devolvidas com antipatia.

“Política fiscal errada”

Luís Montenegro encheu um saco de compras — melancia, carne de vaca, de peru, couve-flor e outros alimentos — e conversou com os comerciantes sobre a questão do IVA a 0%. Alguns queixaram-se de que ainda não conseguiram alterar o IVA dos seus produtos e outros que os fornecedores aproveitaram para aumentar o preço.

“Comprovei hoje que não só o efeito não se fez sentir como em alguns produtos houve quem me transmitisse que os preços subiram ontem”, disse o líder social-democrata, à saída, verbalizando os relatos de alguns comerciantes.

Após a visita ao mercado, em declarações aos jornalistas, Montenegro afirmou que a medida do IVA a 0% para alguns produtos (46, considerados essenciais) tem “um efeito meramente simbólico”, acrescentando tratar-se de “pouco dinheiro e poucos produtos”.

Defendeu, ainda, que a “política fiscal” do Governo é “errada”. “Não escondo: eu defendo, como medida fiscal mais eficiente, a descida dos impostos sobre os rendimentos do trabalho. Se as pessoas pagarem menos IRS, vão ter mais dinheiro disponível, mais poder de compra”, disse.

Cachupa e um “vinhinho”

Seguiu para a Cova da Moura, onde almoçou num restaurante com membros da comunidade cabo-verdiana lá residente. À mesa, além da cachupa, estavam cerca de 20 pessoas — entre os quais Hugo Soares, secretário-geral do partido, que sugeriu ao seu presidente que bebesse um pouco de “vinhinho”.

Na rua, João Pereira, com 42 anos, ascendência cabo-verdiana e residente do bairro, vê com bons olhos a presença de um “político”. Desta forma, este “político” — que desconhecia — podia ver que o “bairro não é como se diz”. Ainda assim, afia a língua: “Ele tem é de subir, conhecer o bairro. Não é só vir aqui, comer cachupa e poder dizer que veio à Cova da Moura”.

Queixa-se de que não só a “comunidade africana”, mas “todos os portugueses” se sentem “esquecidos pelos políticos”, acrescentando que tem havido “abuso policial” no bairro e que os políticos nada fazem para terminar com isso.

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