Já foi palacete e teatro. Esta drogaria esconde um tesouro que urge ser salvaguardado

Actual proprietário colocou o imóvel centenário à venda, na esperança de que o seu futuro dono respeite a história e o património do edifício. Mas o imóvel não está classificado.

DROGARIA QUE ESTA NUM ANTIGO TEATRO EM ILHAVO
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Palacete é de 1744 e já foi Teatro e é agora uma drogaria ADRIANO MIRANDA / PUBLICO?
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Proprietários colocaram imóvel à venda ADRIANO MIRANDA / PUBLICO
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Palacete é de 1744 e já foi Teatro e é agora uma drogaria ADRIANO MIRANDA / PUBLICO?
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Palacete é de 1744 e já foi Teatro e é agora uma drogaria ADRIANO MIRANDA / PUBLICO?

O reclame luminoso instalado na zona do 1º andar já está descascado, acusando o passar dos anos e o possível fim de linha para o negócio que ali tem florescido nos últimos 100 anos - a placa que anuncia a venda do imóvel não deixa grande margem para dúvidas. A fachada em tons de salmão e de branco mantém os traços de palacete, mas está muito longe de deixar antever a riqueza que o imóvel guarda no seu interior: balcões em madeira e pinturas de um antigo teatro. Vestígios de um tempo em que o imóvel, há muito transformado em drogaria, era sede do Teatro Recreio Artístico (criado em 1876), e que muitos gostariam de ver salvaguardados. Começando pelos próprios proprietários do imóvel que está situado em pleno centro histórico de Ílhavo.

“É muito difícil, pelo custo que representa, preservar todas estas madeiras, mas este património devia ser preservado”, sustenta Armando Samagaia, o homem que tem tomado conta de todo aquele “tesouro” há cerca de 30 anos, juntamente com a mulher, Maria Odete Silva. Depois de regressarem da Venezuela, decidiram comprar a drogaria Vizinhos que já por ali funcionava desde 1922, mantendo a traça do antigo teatro e da outra instituição ilhavense que ali encontrou morada, designada “Clube dos Novos”. Pertencerá a esta última a inscrição gravada na zona onde outrora esteve instalado o palco. “Esta data, 1905, coincide com a altura em que terá vindo para aqui o clube”, conta Armando Samagaia. A construção do imóvel é bem anterior a isso. “É de 1744 e começou por ser o palacete de uma família de Ílhavo”, conta, por seu turno, Maria Odete.

Depois de passar várias dezenas de anos atrás do balcão - antes da drogaria, na Venezuela, tiveram um negócio de panificação -, o casal quer usufruir da merecida reforma, razão pela qual o imóvel está agora à venda. “Tentei que fosse a Câmara Municipal de Ílhavo a comprar isto, para aqui voltar a instalar um espaço cultural, mas eles não querem”, lamenta Armando Samagaia, antes de exibir, com alguma emoção, uma fotografia de 2014. Aquele imóvel esteve, novamente, ao serviço da cultura - Armando e Maria Odete retiraram as estantes metálicas e os produtos que as preenchem para dar espaço à plateia -, por conta de um concerto do Festival Rádio Faneca. “Foi tão bonito”, recordam.

Um património que urge preservar

Contactado pelo PÚBLICO, o executivo municipal ilhavense fez saber, através do seu gabinete de imprensa, que não se pronunciará sobre este caso. Questionado sobre a eventual classificação do edifício, o mesmo gabinete informou que “o imóvel não está classificado, mas à luz do PDM [Plano Director Municipal] está referenciado como imóvel de interesse”.

Para o vice-presidente da Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro (ADERAV), Paulo Morgado, “urge salvaguardar todo o conjunto do edifício e envolvente da drogaria Vizinhos”. Depois de consultar o PDM, o também investigador na Universidade de Aveiro considera que não está claro que aquele edifício esteja legalmente protegido.

Ainda assim, Paulo Morgado diz acreditar que, “face ao valor patrimonial daquele imóvel, nenhuma câmara municipal aprova um projecto que não mantenha a memória, tanto material como imaterial, do espaço”. “Não temos assim tantas casas antigas em Ílhavo e as poucas que tínhamos começaram a ficar em ruínas ou a ser demolidas, e esta é uma casa que é icónica”, evidencia, notando a história singular do imóvel. “Ficou fossilizado no tempo. Quando lá entramos, se nos abstrairmos dos produtos da drogaria, temos o edifício do século XIX, o que é fantástico”, faz questão de vincar, fazendo votos de que, qualquer que seja o futuro do imóvel, ele possa ser devolvido à comunidade. “Seja como espaço cultural, ou um restaurante, o mais interessante seria que tivesse uso público. Ou, numa situação limite, se ficar com uso particular, garantirmos que seja preservado”, remata.

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