A alternativa ao PS é o PS

É muito importante que os militantes do partido, conscientes das responsabilidades acrescidas que têm, incentivem um debate alargado sobre o rumo da marcha a seguir pelo país.

O PS, fundado premonitoriamente por Mário Soares, faz 50 anos no dia 19 de abril.

Face à incerteza deste novo mundo multipolar e à insegurança dele decorrente para os cidadãos, é muito importante que os militantes do partido, conscientes das responsabilidades acrescidas que têm, incentivem um debate alargado de ideias sobre o rumo da marcha a seguir pelo país.

A matriz do PS assenta na militância de homens e mulheres livres, com base no ideário do socialismo democrático e é com ele, sob o atual quadro, que se deve incentivar esse debate, objetivo, necessário e justo para Portugal e para os portugueses.

É que, a avaliação que genericamente fazem os cidadãos, conforme, aliás, aos estudos de opinião e sondagens recentes, denuncia a existência de um desencanto que afeta a esperança no futuro.

Há, por isso, que ter presente que as reivindicações públicas não são em democracia dissociáveis do entendimento que esses mesmos cidadãos fazem das respostas que a sociedade pode satisfazer em função do grau do seu desenvolvimento.

As recentes mobilizações públicas, muitas delas inorgânicas, revelam um quadro que, não sendo de hoje, traduz na essência uma debilidade endémica da forma como somos relutantes a concebermos a tempo e com tempo reformas estruturais e necessárias para o país.

Só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja.

Não sendo estas questões de agora, é, porém, agora que se devem encarar de frente, tanto mais que, perante o desânimo, começa a generalizar-se uma resignada perceção de ausência de alternativa a este estado de coisas.

Sendo certo que o PS não é ungido do Senhor e tendo sob os recentes mandatos desenvolvido políticas construtivas, deixou-se como partido governamentalizar, fulanizando o debate e colocando a destempo alegados processos sucessórios, ao mais alto nível, que marginalizaram o ideário em favor de confronto de personalidades.

As respostas às questões atuais estão no socialismo democrático, no seu ideário, no aprofundamento deste, na credibilização da autoridade democrática do Estado num mercado regulado, precisando de forma clara as funções do Estado, as reformas a empreender no domínio destas funções, o combate às desigualdades, a defesa da autossustentabilidade do país com base um plano de reindustrialização, consciente de que os baixos salários só conduzem ao empobrecimento.

Porque vivemos num mundo global e multipolar, a afirmação de Portugal no mundo, indissociável da pertença à UE, impõe a defesa das relações triangulares América Latina-África-UE que aproveitarão ao conjunto e a cada uma das partes, tanto mais que há neste domínio um nítido enfraquecimento após as privatizações das empresas estratégicas que detínhamos sob domínio nacional e altamente rentáveis.

A alternativa existe, está no PS, num PS consciente que a História, como dizia o Padre Manuel Antunes, “é por vezes o retorno ao mesmo através do diverso”, sendo o mesmo os princípios e valores do socialismo democrático e o diverso o novo mundo multipolar.

A avaliação realista do que se passa conduzirá inevitavelmente à consciência de que a alternativa ao PS é mesmo o PS.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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