Directora de escola judaica condenada por violação e abuso sexual de alunas

Caso de Malka Leifer, directora de uma escola judaica em Melbourne, teve efeitos na política israelita e nas relações de Israel com a Austrália.

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As irmãs Nicole Meyer, Elly Sapper e Dassi Erlich a caminho de uma das sessões do julgamento DIEGO FEDELE/EPA

A antiga directora de uma escola judaica em Melbourne foi esta segunda-feira condenada por violação e abuso sexual de duas alunas da escola Adass Israel entre 2003 e 2007.

Malka Leifer deixou o cargo quando surgiram alegações de abuso sexual de uma aluna, que falou delas numa conversa com uma assistente social, em 2008. Dias depois, Leifer fugiu para Israel. Foi formalmente acusada em 2014, o que fez começar uma luta para a sua extradição.

O envolvimento de um responsável de um partido ultra-ortodoxo, então ministro da Saúde de Israel, a pressionar funcionários do ministério para conseguirem declarações médicas que fizessem parecer que Leifer estava mentalmente inapta para ir a julgamento, acabou por levar à sua demissão. No ano passado, o ex-ministro, Yaakov Litzman foi condenado.

O caso causou ainda problemas na relação entre Israel e a Austrália, com a extradição a ter sido decidida em 2021, quase sete anos após o pedido. Segundo o diário israelita liberal Haaretz, “a gravidade do caso para o Governo australiano tornou-se clara quando a Austrália se recusou a cooperar com uma iniciativa israelita na ONU sobre exploração sexual de crianças”.

O júri demorou doze dias a chegar a um veredicto unânime, considerando Leifer culpada em 18 das 29 acusações de crimes contra duas das três irmãs que a acusaram. O facto de as irmãs terem tido uma educação ultra-ortodoxa contribuiu para que não estivessem cientes da natureza sexual das acções de Leifer.

As irmãs Elly Sapper, Dassi Erlich e Nicole Meyer abdicaram do direito ao anonimato que é dado a vítimas de crimes sexuais na Austrália. “Sentámo-nos neste tribunal durante nove semanas, a ouvir todos os dias a nossa verdade e ter pessoas a tentar destruí-la”, disseram, numa declaração citada pelo Jerusalem Post. “É um processo difícil, mas era o que era certo, não lhe dar acesso a poder tocar em crianças nunca mais.”

A organização Magen, que apoiou as vítimas de Leifer, declarou: “Finalmente, depois de anos, os tribunais australianos consideraram Malka Leifer culpada. Este é um dia auspicioso para todas as vítimas de abuso sexual, para verem que mesmo quando o processo é longo e demorado e os autores dos crimes tentem escapar à justiça, no fim de contas há esperança de que os seus abusadores paguem, finalmente, o preço”.

A organização deu conta do seu “orgulho nas irmãs que encontraram a força para continuar a lutar neste processo, mesmo quando parecia não haver esperança, e provaram a toda a gente que é possível fazer-se justiça”.

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