Eventos de norte a sul e homenagem a Jorge Silva Melo no Dia Mundial do Teatro

António Reis, marcante nome da cena teatral no Porto, também será homenageado. Mensagem internacional do Dia Mundial do Teatro apela ao sector para “enfrentar as trevas da ignorância e do extremismo”.

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Segunda-feira costuma ser dia de descanso no teatro, mas este ano o Dia Mundial abre a porta da maioria das companhias e salas Filipa Fernandez

Os actores e encenadores Jorge Silva Melo e António Reis, que morreram no ano passado, vão ser homenageados na segunda-feira, Dia Mundial do Teatro, por duas companhias excluídas dos apoios da Direcção-Geral das Artes (DGArtes).

A Seiva Trupe, estrutura do Porto que na segunda assinala também o primeiro aniversário da apresentação pública da companhia na Sala Estúdio Perpétuo, que a acolhe, vai organizar, a partir das 21h15, uma sessão com teatro, poesia e música que será dedicada a António Reis, co-fundador da companhia e, também, do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI). Figura carismática do meio teatral portuense,​ António Reis morreu em Abril de 2022, aos 77 anos.

Em Alverca, no Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, a companhia Cegada estreia a sua versão de Num país onde não querem defender os meus direitos eu não quero viver, peça de Jorge Silva Melo a partir do autor alemão Heinrich von Kleist. Fundador dos Artistas Unidos, após ter criado o Teatro da Cornucópia com Luis Miguel Cintra, Jorge Silva Melo morreu em Março de 2022, aos 73 anos.

As duas companhias, elegíveis para apoio nos concursos do Programa de Apoio Sustentado 2023-2026 da DGArtes, acabaram sendo excluídas por se ter esgotado o financiamento disponível.

No Dia Mundial do Teatro, entre centenas de outras acções espalhadas pelo país, há a estreia da peça A Noite dos Assassinos, do dramaturgo cubano José Triana, pelo Teatro Experimental de Cascais, 50 anos após a companhia ter sido impedida de levar o texto a cena, pela censura da ditadura. É apresentada no Teatro Municipal Mirita Casimiro (Estoril), às 21h,

Por seu turno, o Teatro Nacional D. Maria II, no âmbito do itinerário Odisseia Nacional que este ano atravessa o país, leva a acção Teatro Fora de Formato, da companhia Formiga Atómica, a Vinhais, vila pertencente a Bragança. A acção consiste em pequenas peças, a apresentar em espaços públicos como cafés e lojas, e terá continuidade em municípios como os de Idanha-a-Nova, Oliveira do Bairro, Portalegre e Portel.

Teatro fora de Formato faz parte do projecto Terminal (O Estado do Mundo), espectáculo com estreia marcada para 2024 e que corresponderá à segunda parte de um díptico iniciado em 2021, com O Estado do Mundo (Quando Acordas).

Actividades a Norte...

Num dia com diversos eventos de entrada livre, haverá, em várias zonas do país diferentes espectáculos de teatro e leituras encenadas — e não só. No Teatro Nacional São João, no Porto, a colecção de livros Empilhadora ganhará um novo volume com o lançamento de Falhar melhor, de James Knowlson, a “única biografia ‘autorizada’” de Samuel Beckett (1906-1989), marcante dramaturgo irlandês.

Entre as iniciativas a acontecer no Norte, contam-se também a exibição do filme de Luís Porto sobre Despe-te [Isabel], peça escrita por Ella Hickson e aqui interpretada pela companhia Ensemble - Sociedade de Actores (Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, 15h), e a estreia, por parte do Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana, de Guerra dos Sexos, adaptação da Lisístrata de Aristófenes com encenação de Ricardo Simões (Teatro Municipal Sá de Miranda, em Viana do Castelo; 21h).

...Centro...

No Centro, a Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT) começou a celebrar a efeméride este domingo, com o espectáculo Sob a Terra, criação da companhia Leirena Teatro em torno dos fogos florestais. Na segunda (21h45), apresenta Cartas de Guerra (1961-1974), de Ricardo Correia, que nesta peça “cruza os universos documental e ficcional para investigar o passado colonial português”, pode ler-se na descrição do evento no Facebook.

Em Coimbra, a proposta da companhia A Escola da Noite recai sobre a estreia, no Teatro da Cerca de São Bernardo (19h), de Trilogia de Alice, do dramaturgo irlandês Tom Murphy, aqui numa encenação de Nuno Carinhas. A peça encerra as comemorações do 30.º aniversário da companhia.

No Seixal, a companhia Teatro da Terra - Centro de Criação Artística, da actriz e encenadora Maria João Luís e do desenhador de luz Pedro Domingos, vai inaugurar, pelas 18h30, as novas instalações na Torre da Marinha, cedidas e ampliadas pela autarquia local.

A Companhia de Teatro de Almada (CTA) apresentará, no Teatro Municipal Joaquim Benite (também em Almada), Lar Doce Lar, encenação de António Pires a partir de O Que Importa é Que Sejam Felizes, de Luísa Costa Gomes. A CTA divulgará ainda três espectáculos que farão parte da programação da 40.ª edição do Festival de Almada, a acontecer em Julho, e apresentará o nono volume da colecção O sentido dos Mestres: o novo livro, uma edição partilhada com a Share Foundation e dedicada ao cenógrafo José Manuel Castanheira, chama-se Um lugar para transformar o tempo.

O Teatro Animação de Setúbal (TAS) propõe o espectáculo Tantos Ontens (21h30), a partir de crónicas de António Lobo Antunes.

...e Sul

No Alentejo, o Centro Dramático de Évora abre as portas do Teatro Garcia de Resende a quem o queira visitar, propondo actividades ao longo do dia, entre as quais a primeira emissão de um novo programa de rádio, Cera nos Ouvidos, uma parceria com a Rádio Telefonia do Alentejo. À noite (21h30), será representada a peça Magnético, a mais recente criação da companhia, com texto e direcção de Abel Neves.

Em Faro, no Teatro Lethes, A Companhia de Teatro do Algarve (ACTA) assinala a data com visitas guiadas à sala de espectáculos.

Na capital

Em Lisboa, entre outras iniciativas, o Teatro do Bairro, em colaboração com a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), apresentará, no Castelo de São Jorge (18h30), Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, numa encenação de António Pires.

A junta de Alvalade vai entregar a medalha da freguesia ao actor e encenador Diogo Infante, no Teatro Maria Matos, sala que o actual director artístico do Teatro da Trindade dirigiu entre 2005 e 2008.

No teatro, segunda-feira costuma ser dia de descanso, mas este ano o Dia Mundial abre a porta da maioria das companhias e salas de espectáculos. O Dia Mundial do Teatro é assinalado todos os anos desde 1961, por iniciativa do Instituto Internacional do Teatro (ITI, na sigla inglesa), organismo afecto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO).

A mensagem internacional do Dia Mundial do Teatro, veiculada pelo ITI, apela aos profissionais do sector para que activem a dimensão política das artes de palco, de modo a “enfrentar as trevas da ignorância e do extremismo”. “Convido-vos a levantarem-se todos juntos, de mãos dadas, a gritarem bem alto, como é hábito fazermos nos palcos dos nossos teatros, e a deixarem sair as nossas palavras para despertar a consciência do mundo inteiro, para encontrar em nós mesmos a essência perdida da humanidade”, escreve a actriz egípcia de 91 anos Samiha Ayoub, que foi quem o ITI escolheu para redigir a mensagem oficial do Dia Mundial do Teatro 2023.​

Por seu turno, a mensagem da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) para o Dia Mundial do Teatro considera que “é tempo de alimentar quem teimosamente se entrega” a fazer do teatro “a sua história de vida e a sua luta”. “Aplaudir o teatro é necessário e libertador”, escreve a designer de produção Catarina Amaro, autora da mensagem.

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