Gouveia e Melo: “Não tenho de achar nada das declarações do Presidente”, mas “penso pela minha cabeça”

Chefe do Estado-Maior da Armada recusou fazer “críticas, comentários ou avaliações” às palavras do Presidente da República sobre a missão não realizada pelo navio Mondego.

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Almirante Gouveia e Melo em visita ao navio Mondego nesta quinta-feira LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Henrique Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada (EMA), voltou a falar sobre o "grave acto de indisciplina" dos marinheiros do navio Mondego, as condições da frota da Marinha e o impacto da polémica junto das nações "aliadas" de Portugal. Recusou apenas fazer "críticas, comentários ou avaliações" às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que optou por realçar a "importância da manutenção" dos equipamentos militares, em vez de abordar a indisciplina dos marinheiros sinalizada pelo EMA.

Em entrevista à SIC na noite desta sexta-feira, um dia depois de subir à proa do Mondego para um "raspanete" à guarnição do navio (termo escolhido pelo jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, mas recusado por Gouveia e Melo), o almirante rejeitou comentar a forma como o Presidente da República falou do assunto: "Não tenho de achar nada das declarações do Presidente da República. É o meu chefe de supremo. Tenho de o respeitar, de obedecer", atirou, ainda que deixando um sublinhado: "Mas penso pela minha cabeça."

Também esta sexta-feira, Marcelo garantiu manter a confiança em Gouveia e Melo após a missão falhada de escolta a um navio russo. “Acontece que o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas é quem nomeia as chefias militares e, portanto, um chefe militar que está em funções tem a confiança do Presidente da República, além de ter a do Governo que propõe essa nomeação”, disse, citado pela Lusa.

Explicou, ainda, porque é que, ao contrário de Gouveia e Melo, não visitou o navio: “Estamos a falar de um processo em curso. Estamos num Estado de direito democrático e deve respeitar-se isso mesmo. Fez-se o que se devia ter feito: verificar as circunstâncias de facto. Agora, ouvir os envolvidos. E, depois, actuar em conformidade."

Na entrevista à SIC, o EMA voltou a reforçar o "profundo significado", também simbólico, do que considera ter sido um acto de indisciplina perante o comandante do navio, que deu ordens à guarnição para se preparar para o mar: "A disciplina não tem 'ses'. É uma necessidade."

O almirante assegurou ainda que ordenou uma verificação, através de organismos técnicos da Marinha, das condições de navegação do Mondego. "A resposta que tive foi 'sim', iria para o mar. Com limitações, mas sem pôr em risco a guarnição."

Os 13 militares que recusaram participar na missão alegam que o Mondego teria várias falhas mecânicas que representavam um risco à sua segurança, daí que não tenham embarcado. O grupo é agora alvo de um processo disciplinar e será ouvido pela Polícia Judiciária Militar na próxima segunda-feira. Independentemente das suas justificações, toda a guarnição de 29 homens será substituída.

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